HOMILIA DO 5º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B

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PERMANEÇAMOS UNIDOS A VIDA DE JESUS RESSUSCITADO

Permanecei em mim e eu permanecerei em vós.” (Jo. 15,4)

Depois de nos apresentar a íntima relação existente entre Jesus, o Bom Pastor, e o seu rebanho, a liturgia do tempo Pascal convida-nos a aprofundar a reflexão sobre a nossa união a Cristo por meio da imagem da videira e seus ramos, assim compreendemos que só unidos a Cristo recebemos à vida verdadeira.

A primeira leitura (At. 9,26-31) nos apresenta os primeiros passos de “Saulo” depois do encontro com Cristo Ressuscitado no caminho de Damasco. O relato de sua vocação recebe desde o início contornos que o identificam com os antigos patriarcas e com Jesus. Paulo cai no caminho de Damasco (At. 9,4) representando a morte para o mundo. A partir do encontro com o Senhor ressuscitado, Saulo passa a se chamar Paulo (como Abrão/Abraão em Gn. 17,5-8 e Jacó/Israel em Gn. 35,9-15) Ele passa três anos junto a comunidade cristã de Damasco para depois entrar em comunhão com comunidade de Jerusalém à semelhança do Senhor ressuscitado que volta a comunidade depois de três dias morto (Gl.1,18).

 O esforço de Saulo para ser integrado a Igreja – mesmo sendo recebido com relutância dado seu histórico de perseguição aos discípulos – mostra que ser cristão é essencialmente ser membro de um corpo – o Corpo de Cristo. A nossa vocação é seguir Cristo, integrado numa família de irmãos que partilha a mesma fé, percorrendo, em comunidade, o caminho do amor. É no diálogo e na partilha com os irmãos que a nossa fé nasce, cresce e amadurece e é na comunidade, unida por laços de amor e de fraternidade, que a nossa vocação se realiza plenamente. Se o tema da unidade com Cristo aparece como central na reflexão deste domingo, e sendo Paulo o mais ardoroso missionário do cristianismo, a liturgia da palavra o utiliza como modelo perfeito de comunhão, onde o ramo, apesar todas as provações, permanece unido a videira, recebendo o seu vigor que mantém sua vida e que lhe garante dar bons frutos.

A segunda leitura (1Jo. 3,18-24)   aprofundando a reflexão sobre a união entre Cristo e seus discípulos, lembra que ser cristão não é apenas “acreditar em Jesus”, mas também é “amar-nos uns aos outros como Ele nos amou”, isto é, testemunhar com a vida, aquilo que o próprio Jesus viveu e ensinou. São esses os “frutos” que Deus espera de todos aqueles que estão unidos a Cristo, a “verdadeira videira”. Para permanecer unido a Cristo é essencial praticarmos as obras do amor (Mt. 25,31-46). Diz um antigo ditado oriental: “a árvore que se esquece de suas raízes, está fadada a secar e morrer”. Do mesmo modo, o fiel que se afirma cristão, mas vive em completo mundanismo espiritual, enquanto se recusa a viver na comunidade cristã para junto com ela produzir os frutos da caridade de Cristo, não conseguirá enfrentar os desafios do testemunho cristão (Tg.1,26-27/2,2-6;14-17). É permanecendo unidos a Cristo na sua comunidade que saberemos que a vida de Cristo age no mundo através de nós.

No Antigo Testamento a “videira” era símbolos do Povo de Israel, o qual Deus plantou na Terra Prometida e cuidou sempre com amor (Conf: Sl. 80,9.15 / Is. 5,1.7/Jr. 2,21 / Ez. 17,5-10 / 19,10-12 / Os. 10,1).  A partir desta profunda imagem, o Evangelho (Jo.15,1-8) apresenta Jesus como “a verdadeira videira” que produz os frutos que Deus anseia. Dele nascerão os ramos que formarão um novo Povo de Deus. Assim convida os discípulos a permanecerem unidos a Cristo, pois é d’Ele que eles recebem a vida plena. Se permanecerem em Cristo, os discípulos serão verdadeiras testemunhas, no meio da humanidade, da vida e do amor de Deus. No entanto, para que os ramos produzam bons frutos devem permanecer unidos a Cristo (a Videira) recebendo dele a “seiva”, isto é, a vida verdadeira, o Espírito Santo. Pela vivência do Evangelho, os discípulos devem manter sua identificação com Jesus Cristo por meio da comunhão, da solidez na fé, da constância e da continuidade de sua missão.

Permanece unido a Jesus quem acolhe no coração sua proposta do Reino de Deus e se compromete com uma vida de entrega a Deus e aos irmãos, até à doação completa por amor. Quem rompe a comunhão com a videira, trilha caminhos de egoísmo, de individualismo, de pecado. E acaba por se tornar um ramo seco, sem vida. Não produz frutos de amor, mas sim frutos de morte, miséria e corrupção. São discípulos que se comprometeram com Cristo, mas depois desistiram de O seguir. Para João, é preciso então “limpar” estes ramos através da conversão. Como realizar esta “poda” ou conversão? Comparando a nossa vida com a vida de Jesus e com a sua Palavra, para verificar se estamos permanecendo em comunhão com Ele.

Para nossa sociedade excessivamente subjetivista, onde todos estamos muito concentrados em alcançar exclusivamente os nossos objetivos pessoais, o tema da unidade em Cristo será sempre um assunto “espinhoso”. Creio que todos nós já ouvimos alguma vez na vida a seguinte frase: “eu tenho fé em Deus, sou cristão, mas não quero saber de Igreja.” Esta frase revela uma visão distorcida de fé cristã bem como uma ausência de sua espiritualidade. Pois, se os ramos permanecem vivos por estarem unidos ao tronco da videira, logo precisam os ramos estarem unidos entre si e dar frutos semelhantes, uma vez que todos recebem da mesma vida da videira. Em suma, não se pode ser verdadeiramente cristão, sem estar unido a comunidade de Cristo, isto é, a Igreja.

Permaneçamos então abertos na docilidade ao Espírito Santo para que o Pai, com sua graça benfazeja, nos converta e mantenha permanentemente nossa comunhão como Jesus Cristo, nossa Videira e Vida Verdadeira.

Pe. Paulo Sérgio Silva

Diocese de Crato.

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