Vigiai e orai para acolher Deus em vossas vidas

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HOMILIA DO 32º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A

O noivo está chegando. Ide ao seu encontro!” (Mt 25,6)

Amados irmãos e amadas irmãs,

Estamos a poucas semanas do fim Tempo Comum e do início do Advento, tempo litúrgico e espiritual caracterizado pela expectativa da espera, da vigilância e da acolhida. Por isso, a Palavra de Deus, proclamada em nossas celebrações, tem aos poucos nos apresentado reflexões sobre mudança de vida, conversão, vigília e sobre a segunda vinda do Redentor enquanto nos lembra a preparação espiritual necessária para celebrar a Encarnação do Salvador.

Neste sentido, a liturgia do 32º Domingo do Tempo Comum convida à vigilância, lembrando-nos de que a segunda vinda de Jesus Cristo é a conclusão da história humana. Devemos, portanto, percorrer a estrada de nossa vida sempre esperançosos e atentos ao Senhor que vem e com o coração preparado para acolhê-lo.

Também estamos nos capítulos finais do Evangelho segundo Mateus. Em harmonia com o Evangelho de São Marcos, Mateus introduz um discurso escatológico, isto é, passagens que fazem alusão ao fim dos tempos e que têm como motivação exortar e preparar os cristãos para a segunda finda de Jesus Cristo.  Ele apresenta três parábolas e uma impressionante descrição do juízo final.

A “Parábola das Dez Virgens” compara o Reino de Deus a uma das celebrações mais alegres que os israelitas conheciam: o banquete de casamento. Para Mateus, as dez jovens representam o Povo de Deus que espera ansiosamente a chegada do messias (o noivo). Uma parte desse Povo (as jovens previdentes) se preparou e quando o messias finalmente apareceu pode fazer parte da comunidade do Reino. Outra parte (as jovens desatentas) não compreendeu o agir de Deus e não pode entrar na comunidade do Reino. A parábola consiste, então, em um apelo aos israelitas no sentido de não perderem a oportunidade de participar da grande festa do Reino de Deus. Em meio a tantas distrações que o mundo oferece, como permanecer atentos à presença de Deus que vem ao nosso encontro? Como não se tornar infiel ou indiferente ao Evangelho? Como não cair no sono em meio à espera?

A Primeira Leitura lembra-nos de que a “sabedoria” é dom gratuito de Deus para o homem, ou seja, todo ser humano possui aquilo que é necessário para vislumbrar o presente de Deus e escolhê-lo como tesouro indelével em meio às coisas corriqueiras, efêmeras e passageiras. Uma vez que a Graça divina “sai a procura dos que a merecem, cheia de bondade, aparece-lhe nas estradas e vai ao seu encontro em todos os seus projetos” (cf: Sb. 6, 16),  nós devemos permanecer atentos, vigilantes e disponíveis para acolher, em cada momento, a vida e a salvação que Deus nos oferece.

Já na Segunda Leitura, São Paulo escreve aos cristãos da comunidade de Tessalônica que estavam preocupados com a segunda vinda de Cristo, informando-os de que a certeza da ressurreição nos garante que Deus tem um projeto de salvação e de vida para cada ser humano. Este plano salvífico está se realizando permanentemente em nós, até à sua realização plena, quando nos encontrarmos definitivamente com Deus. Para Paulo, não devemos ignorar as coisas boas deste mundo, vivendo apenas à espera da recompensa futura, pois a busca da vida plena e da felicidade já se inicia neste mundo. Todavia, diante do mal e do pecado, devemos rejeitar tudo aquilo que fere a vida (ganância, egoísmo, indiferença e corrupção) e que nos impede de alcançar a felicidade plena, apresentada pela vida em Cristo. O dia ou hora da volta de Cristo não deve ser a principal preocupação, mas sim se estaremos bem preparados para acolhê-lo.

O Evangelho recorda que “estar preparado” para acolher o Senhor significa viver dia após dia a fidelidade aos ensinamentos de Jesus e permanecer, portanto, convictos e comprometidos com os valores do Reino.

Com o exemplo das cinco jovens que não levaram azeite suficiente para manter as suas lâmpadas acesas, enquanto esperavam a chegada do noivo, Jesus nos lembra de que só os valores do Evangelho nos tornam capazes de ficar acordados para participar do banquete do Reino. Quem preencher sua vida com valores perecíveis e nocivos como a ganância, a  fama, a riqueza material injusta, o egoísmo, a corrupção, o preconceito, o racismo e a violência ficará sem perceber a presença de Deus passando em sua vida e quando chegar o momento de solicitar a entrada na vida eterna acabará por ouvir estas palavras: “Em verdade vos digo: não vos reconheço!” (cf: Mt. 25,12).

O que representa a expressão “estar preparado para acolher a vinda do Senhor?” Significa escutar as palavras de Jesus, acolhê-las e meditá-las no coração e viver de forma coerente com os valores da nossa fé, isto é, praticar o que Jesus viveu e ensinou. Em suma, estar preparado é buscar viver na fidelidade os planos de Deus Pai que discernimos usando a sabedoria que Ele nos deu e amar os irmãos ofertando nossa vida através da oração e de escolhas e gestos concretos que expressam nosso desejo de estar com Deus em todos os instantes da nossa existência.

Em meio a um mundo caótico que rejeita a presença de Deus, nós não podemos nem devemos abandonar a vigilância ou ignorar o nosso compromisso com os valores do Reino. Com o passar do tempo, as nossas comunidades têm tendência perigosa de cair no comodismo, na indiferença de uma fé fraca que não se compromete e que pode se tornar uma religião conivente com o mal e o pecado. É preciso, pois, renovar a cada dia nosso discipulado e missão para com Jesus Cristo. A certeza de que Ele vem outra vez deve nos movimentar em direção a um compromisso ativo e fiel aos valores do Evangelho.

As escolhas sociais e políticas que iremos fazer nas próximas semanas decidirão os serviços públicos nos próximos quatro anos. Essas nossas escolhas são baseadas nos valores de honestidade, de justiça e de solidariedade? Ou são puramente uma escolha de vontade egoísta e que visa apenas um benefício individual? Tenho consciência de que, ao escolher políticos sem projeto e que fizeram da vida pública um meio de enriquecimento, estou contribuindo para a falta de saneamento básico, educação precária e constantes problemas na área da saúde?

O objetivo do Evangelho deste domingo não é nos amedrontar com uma ameaça de que se não formos bons Deus irá nos castigar com o inferno, mas nos alertar para viver com seriedade nossa vida de fé e assim avaliar as nossas escolhas e opções que, se feitas contrárias ao Evangelho, poderão nos levar a perder a oportunidade de chegarmos à felicidade plena oferecida por Jesus Cristo, porque quem não convive com Deus ao longo da vida, dificilmente irá encontrá-lo no final.

Assim, busquemos a Deus rezando e meditando o Salmo de hoje: “Sois vós, ó Senhor, o meu Deus! Desde a aurora, ansioso, vos busco! A minha alma tem sede de vós, minha carne também vos deseja, como terra sedenta e sem água!”. Amém.

Padre Paulo Sérgio Silva

Pároco da Paróquia São Sebastião, em Mangabeira, distrito de Lavras – CE, e professor no Seminário Diocesano São José, em Crato-CE.

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