“Um povo que caminha junto com seu Santo”

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Ainda é cedo quando o dia começa e com ele uma multidão anda vagarosamente, e quatro sustentam São Sebastião, preso ao pesado andor de madeira, e o som de uma prece ritmada entre cânticos e orações. Mesmo ao vento frio ou à chuva, a multidão conduzida pelo padre procura não se abater diante do desafio. Quanto às estradas o ao tamanho do caminho percorrido, também não importa.

Dentre estes, idosos, crianças e jovens se misturam ao movimento de sempre, de uma tradição centenária passada para as últimas gerações de fiéis que conduzem o padroeiro do distrito de Dom Quintino [Cratro]. E com eles todas as classes sociais e psicologias se tornam um só rebanho.

As preces são manifestadas em cânticos e orações, mas os pedidos somente a alma é quem escuta. Entre esses estão os pedidos de chuvas, para a quadra invernosa que começa a partir do período de janeiro, e São Sebastião tem sido um bom intercessor de um povo que em sua maioria é da agricultura.

É assim todos os dias, às 5:30 da manhã, durante o período da festa que vai do dia 11 até o dia 20 de janeiro.

O peso do andor não importa, mas a vontade de ser um dos carregadores importa, sim, e quando se é mais um que sustenta seu peso nos ombros esvai-se um orgulho de ser um que ajuda São Sebastião a andar. Este é o sentimento de carinho manifestado por esse povo, é uma liturgia do fiel católico e devoto de São Sebastião do distrito que, durante esse período de novenário, ver a oportunidade de fazer uma promessa assim como o pagamento de uma.

(Um povo que caminha com seu Santo. Foto: Rafael Pereira)

Em frente da pequena multidão um líder está ali para orientar e conduzir os fiéis. Este é o padre que também é mais desses religiosos, mesmo com sua importante missão dada por Deus.

Ao chegar a casa da família, que ficará com o Santo durante todo o dia, até o cair da noite, outra rodada de orações, que ao final é deliciada por um lanche, reunindo um conjunto de guloseimas em volta da mesa, para que quem esteja se sinta e sirva a vontade.

A responsabilidade da família em receber o Santo é grande, mas todo esse dever é contido com o sentimento de honra manifestado em cada membro da casa. Como se fosse uma visita importante ele fica ali, na sala de estar e de preferencia perto da “parede do santo” – um conjunto que compõe poucos ou inúmeros quadros de diversos santos de devoção da família católica, mas que destes não pode faltar o Coração de Jesus. É dever deles zelar pelos cuidados com o andor e o Santo, se possível ornamentando-o, e rezar ao meio dia um terço ou qualquer oração que a família achar melhor. E final do dia, entre as 18h, também é seu dever devolver o Santo à igreja que deve ser conduzido pelos membros da casa e por seus vizinhos ao som de orações e velas acesas entre as mãos.

Como que essa liturgia foi estabelecida, não se sabe. Mas o que temos por certeza é que ela é, além de uma cultura passada, uma manifestação de fé genuinamente do povo simples e que tem berço e origens dentro dele e o povo de Dom Quintino mantém essa tradição há 121 anos, até onde se sabe.

Texto: Rafael Pereira, colaborador.

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