SOLENIDADE DE PENTECOSTES – ANO A

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VEIO ATE NÓS O ESPÍRITO SANTO PROMETIDO

Soprou sobre ele e disse: Recebei o Espírito Santo.” (Jo. 20, 22)

Ao longo destas últimas semanas fomos preparados por Jesus Cristo para acolher a presença consoladora do Espírito Paráclito. Deste modo, tal qual a nuvem do Senhor (Êx. 40,34) ou a forte ventania mencionada na primeira leitura, a presença do Defensor preenche a conclusão do Tempo Pascal com a solenidade de Pentecostes. O Espírito Santo acompanhou Jesus ao longo de sua vida e missão: Ele com sua sombra realiza a fecundação do ventre de Maria e possibilita a Encarnação (Mt.1,18-21/Lc.1,35); apresenta-se junto com o Pai no Batismo de Jesus o confirmando como o Messias (Mt.3,13-17/Lc.3,21-22); Se fez presente na paixão, morte e ressurreição quando Jesus entregou na cruz o Espírito (Mt.27,50/Lc.23,46) e no mesmo Espírito, foi ressuscitado pelo Pai. Agora, foi derramado no coração da Igreja, soprado como Vida e como Dom de Deus a todos os fiéis para edificar, transformar, renovar a Igreja/Comunidade e fazer surgir a Humanidade nova para o Reino de Deus (Const. Lumen Gentium nº2;nº3).

Na primeira leitura (At. 2,1-11), o Espírito Santo é apresentado como aquele que orienta a caminhada da Igreja em direção ao Reino. Como aconteceu no início dos tempos (Gn. 1, 1-24), é Ele que cria a nova comunidade do Povo de Deus, superando as suas diferenças socioculturais. Ele une numa mesma comunidade de amor, povos de todas as raças, línguas e culturas. O Espírito é apresentado através de dois símbolos: o vento e o fogo. Eles simbolizam a força irresistível de Deus, que vem ao encontro, comunica-se e dando o seu Espírito, constitui a comunidade de Deus. (cf. Ex. 19,16.18; Dt. 4,36). Sua ação demonstra que o Espírito não está restrito à Igreja. Ele enche, impregna e renova o universo e toda a humanidade. Onde menos esperamos, podemos encontrar a ação do Espírito do Senhor, que vai “cristificando” (transformando em Cristo) toda a humanidade e toda a criação. Lucas apresenta um caminho contrário do que aconteceu na Torre de Babel (Gn. 11,1-9). A humanidade rebelde e autossuficiente que foi dispersada e separada pela dificuldade em se comunicar, agora no novo Pentecostes, ouve em um só idioma formado por todas as línguas “as maravilhas de Deus” (At. 2,11). Deste modo, Lucas apresenta a Igreja como a ação continuada da Santíssima Trindade na criação, pois ela é a comunidade que nasce do lado aberto de Jesus, que é conduzida pelo Espírito e que é chamada a testemunhar a humanidade o projeto libertador do Pai (Cf: Const. Lumen Gentium nº4).

Na segunda leitura (1Cor 12,3b-7.12-13), Paulo avisa aos coríntios que o Espírito é a fonte de onde brota a vida da comunidade cristã. É Ele que concede a inumerável diversidade de dons que enriquece, produz e mantém a unidade eclesial. Sendo assim, esses dons não podem ser usados para benefício pessoal, mas devem ser postos ao serviço de todos (1Cor. 12,4; Gal. 5,22; Const. Lumen Gentium nº4) É então preciso que os membros da comunidade tenham consciência de que – apesar da diversidade de dons espirituais e funções – é o mesmo Deus que age em todos. Paulo realiza esta catequese porque criou-se na comunidade de Corinto uma espécie de hierarquia paralela que colocava alguns cristãos como sendo superiores aos outros. Tal ação dentro de uma comunidade era por demais perigosa uma vez que poderia transformá-la em um sistema de castas. Os dons do Espírito Santo estavam sendo usados para promoção individual e não para criar unidade e evangelizar. Podemos perceber que esta situação não se difere muito da atual realidade da Igreja onde alguns fiéis se consideram mais dignos e valoroso por só aceitarem a celebração da Eucaristia se for realizada em um rito que agora eles querem chamar de “a missa de sempre”. Tal atitude transforma a fé cristã em um meio para uma ilusória edificação individual, pois corrompe a Unidade eclesial, principal fruto do Espírito Santo para a Igreja. Ao longo das eras os cristãos atravessaram constantemente esta vivência conturbada onde várias comunidades se afirmavam como vivas, fervorosas e transbordantes do carisma pentecostal, mas carentes de testemunho do amor e fraternidade uma vez que internamente estavam imbuídas de espírito bélico, contendas, divisões e rivalidades que corroíam a Unidade Eclesial.

No Evangelho (Jo. 20,19-23), João apresenta-nos a comunidade cristã, reunida em torno de Jesus ressuscitado. Para ele, à medida que Cristo comunica o Espírito Santo, a comunidade é recriada como viva, fervorosa e rejuvenescida (Const. Lumen Gentium nº4). O gesto de Jesus de soprar sobre os discípulos reproduz o gesto de Deus ao comunicar a vida ao homem de argila em Gn. 2,7. É o Espírito, Sabedoria de Deus, que permite a eles superar o fechamento do coração provocado pelo medo e dar testemunho do amor que Jesus viveu até a doação da própria vida.

Vivificados pelo Espírito, os discípulos recebem sua missão: a eliminação do pecado. É preciso ser claro e falar a humanidade aquilo que é de Deus e aquilo que é fruto do pecado. Quem aceita as condições do Reino torna-se membro da comunidade de Jesus. Quem não aceita, continua a percorrer caminhos de egoísmo, corrupção e de morte, isto é, continua como propagador do pecado e do mal. A comunidade dos discípulos, animada pelo Espírito, não será dona da salvação, mas a mediadora desta oferta de salvação. Ela será comunicadora da Paz a semelhança do Senhor Ressuscitado (Jo.20,19;21). Como herdeiros da fé e da missão dos apóstolos, somos convidados a nos deixar guiar por este Espírito vivificador e colaborar na erradicação do ódio, da corrupção, da violência e tudo aquilo que fere a dignidade da vida e da humanidade.

Na Semana de Oração pela Unidade Cristã cabe interrogar-nos: O que é que nos une? Em que se baseia a nossa unidade? Como estamos usando os dons e o mesmo Espírito que nos foi dado no Batismo e confirmado na Crisma? Temos colocados os dons a serviço da comunidade ou permanecidos fechados em atitudes de egoísmo e individualismo?

Encerremos com a oração feita pelo Papa Francisco na festa de Pentecostes de 2020: Irmãos e irmãs, peçamo-lo: Espírito Santo, memória de Deus, reavivai em nós a lembrança do dom recebido. Libertai-nos das paralisias do egoísmo e acendei em nós o desejo de servir, de fazer bem. Porque pior do que esta crise, só o drama de a desperdiçar fechando-nos em nós mesmos. Vinde, Espírito Santo! Vós que sois harmonia, tornai-nos construtores de unidade; Vós que sempre Vos doais, dai-nos a coragem de sair de nós mesmos, de nos amar e ajudar, para nos tornarmos uma única família. Amém.

Pe. Paulo Sérgio Silva

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito

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