Solenidade de nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo: O reino é amor e perdão

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Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso.” (Lc 23, 43)

O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força e a honra. A Ele a glória e poder através dos séculos” (Ap 5,12; 1,6). Estas palavras da Antífona de Entrada da Solenidade que celebramos a cada encerramento do Ano Litúrgico nos convidam a refletir sobre a singular realeza de Jesus Cristo, Rei do Universo. Ao contrário da realeza dos nobres deste mundo, a realeza de Jesus se expressa numa vida pautada pelo amor abnegado e oblativo, através do serviço, na doação de Sua vida e no perdão infinito, concedido a todos que vivem numa atitude sincera de arrependimento e conversão.

A primeira leitura (2Sm 5,1-3) nos apresenta a aurora da monarquia hebraica. Samuel, profeta, sacerdote e último juiz realiza a transição entre a organização tribal e a monárquica. Coube a ele ungir Saul e agora também Davi. Mesmo que a transição não tenha acontecido de forma serena porque muitos achavam que a monarquia era uma recusa da soberania de Deus, a leitura enxerga Davi, em sua condição de pastor, com a liderança do novo rei e expressão do cuidado de Deus para com o seu povo. Ainda que em seu reinado tenham acontecido conflitos, guerras, conquista, crimes e até injustiças, Davi ficou marcado por seu zelo e cuidado, por isto é designado como o rei que trouxe a paz e abundância para o povo. Por isto, Davi se torna o rei ideal a quem o povo de Israel olha quando espera o Messias, rei definitivo, que haverá de nascer de sua descendência.

Na segunda leitura (Cl 1,12-20) o Apóstolo Paulo apresenta um hino que celebra a realeza e a soberania de Cristo sobre toda a criação. A motivação para o hino é tentar sanar uma crise de fé que estava se instalando em algumas comunidades cristãs devido a presença de pretensos “doutores” que induziam a vivência do gnosticismo. Estes supostos doutores ensinavam que a fé em Jesus Cristo não era suficiente para se alcançar a salvação e para ter um conhecimento mais profundo do mistério de Deus. Assim, esses falsos discípulos exigiam que os novos cristãos mantivessem certas práticas ascéticas que aparentavam ritos mágicos, continuassem com os ritos legalistas e a crença esotérica nos anjos e nos seus poderes (alguns chegavam a afirmar que Jesus Cristo era submisso aos anjos). Para acabar com estes desvios teológicos, o hino – que já era usado na liturgia – é apresentado no discurso de Paulo como uma ação de graças a Deus celebrando a primazia absoluta de Cristo enfatizando-o como fonte de vida e também seu papel fundamental na criação e na redenção. Como cristãos atuais, nós temos a convicção de Jesus Cristo é o verdadeiro redentor ou também pecamos colocando práticas que negam a fé como necessárias para nossa vida? (usamos amuletos, tarôs, búzios, astrologia, etc.)

O Evangelho (Lc 23,35-43) apresenta a paixão e crucificação Jesus como cumprimento do oráculo do Servo Sofredor do profeta Isaías. Cristo, de fato, é o Messias/Rei enviado por Deus, que veio edificar o “Reino”. No entanto, assim como sua missão, o seu “Reino” se apresenta muito diferente das expectativas humanas se revelando como uma realidade construída sobre o amor, o perdão, a solidariedade e o dom da vida. Seu trono e seu cetro régio é a sua Cruz. E é dela que emerge a salvação por meio do seu sangue. No alto da cruz o letreiro afirma: “Este é o rei dos judeus”. Um rei sem manifestação de soberania humana. Ele não está sentado num trono coberto de ouro, mas pregado numa Cruz; sua coroa não está cravejada de diamantes, mas de espinhos que vertem seu sangue; Ele não aparece rodeado de súditos que o lisojeiam, mas abandonado e insultado pelas autoridades judaicas e ridicularizado pelos soldados pagãos. Como fora proclamado por Isaías, ele surge sem beleza ou formosura sem qualquer sinal de poder, autoridade e realeza terrena.

Todavia é exatamente na Cruz que Jesus manifesta plenamente a Sua realeza. Pois é dela e nela que Ele oferece a maior expressão do zelo, do cuidado, do amor e da misericórdia para a humanidade. Como exortados outrora por Santa Teresa D’Ávila “fixemos os olhos em Jesus” pregado na Cruz que temos junto ao altar. É a partir desta realidade que temos a salvação. É través da sua vida doada como perdão pelos nossos pecados, que Jesus Cristo estabelece o seu reinado, um reino de paz e de reconciliação universal. Aquele que muito perdoou ao longo de 3 anos de missão pelas estradas da Galileia, plenifica seu ensinamento ao perdoar o ladrão ao seu lado. Ensina que não é reduzindo a nada os seus inimigos que Ele estabelece o seu reinado, mas levando o amor até as últimas consequências “estabelecendo a paz, pelo sangue da sua Cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus”. De fato, como nos anuncia o prefácio da oração eucarística o seu reino é “um reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz”.

Irmãos e irmãs, como outrora nos questionou o Papa Bento XVI a cerca do sentido de celebrar Jesus Cristo, Rei do Universo em meio a uma sociedade desprovida da presença de Deus, nos questionemos também: queremos mesmo que “venha a nós o seu Reino?” Nossa vida é expressão disto ou a oração do Pai Nosso se tornou em nossa boca um texto retórico e vazio de sentido? Ainda somos capazes de gritar como São Paulo: “é preciso que Ele reine”? (1Cor 15,25) Estamos nos esforçando para fazer que com Cristo reine em nossas famílias e na humanidade inteira?  Ou estamos como vivendo como os dos homens da parábola de Lc 19, e gritando: “não queremos que Ele reine?”

Se somos verdadeiramente discípulos devemos desejar que Cristo reine plenamente em nós. Não pela metade, não apenas em uma parte de nossa vida, mas integral e em plenitude em tudo que temos e somos. Que Ele reine na nossa inteligência, nos fazendo conhecer e compreender as verdades da fé. Que Jesus reine em nossa vontade para que ela se identifique com o projeto divino de salvação. que Ele reine em nosso coração para que não vivamos nada contrário ao seu amor de Deus. Somente assim então poderemos ser discípulos e contribuir para que o reinado de Cristo se realize na nossa família, no nosso ambiente de trabalho, na sociedade em que vivemos como pedimos e suplicamos piedosamente a cada ano quando celebramos a renovação da consagração de nossas famílias ao seu régio e divino coração.

Pe. Paulo Sérgio Silva

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito

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