SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE – ANO A

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CRIADOS, SALVOS E SANTIFICADOS PELO AMOR, NO AMOR E PARA O AMOR

A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós.” (2Cor.13,13)

Após celebrarmos tempo pascal, recordando e atualizando a paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, que se ofereceu na cruz ao Pai e concluirmos este tempo santo com a celebração do dom do Espírito em Pentecostes, neste Domingo a Igreja nos convida a proclamar jubilosos a glória da Santíssima Trindade, o Deus uno e trino que nos criou, salvou e santificou por amor! Esta Solenidade, longe ser uma convocação acadêmica/intelectual para decifrar o mistério de “um Deus em três pessoas”, se trata de um convite para contemplar o Deus que é amor, família, comunidade e que criou a humanidade para viver na comunhão do seu eterno e insondável mistério de amor.

Na primeira leitura (Ex. 34,4b-6.8-9) o texto que meditamos faz parte de um conjunto de escritos que visam narrar como se realizou a Aliança no Monte Sinai. Israel ao atravessar o deserto e chegar aos pés do Monte comprometeu-se com Deus (Ex. 19), todavia, devido à demora de Moisés, que subiu ao monte para receber o Decálogo, o Povo construiu um bezerro de ouro representando uma divindade. O texto narra o encontro e a intercessão de Moisés pelo Povo de Israel e a súplica pela renovação da aliança.

Para ajudar na catequese desta Solenidade a figura da nuvem mencionada no texto é de suma relevância, pois no A.T. ela foi muito usada como símbolo da presença divina que vem ao encontro do homem e ao mesmo tempo manifesta o mistério de Deus, oculto e presente, cujo rosto não se pode ver, mas cuja presença é sentida e vivida. Deste modo, Jahwéh revela-se como o Deus do encontro/relação, que permanece empenhado em criar comunhão, diálogo e familiaridade com o seu Povo, mesmo quando sua fidelidade não é correspondida. É um Deus que fala e indica caminhos de liberdade e salvação, que não age com indiferença ante os problemas humanos, mas sim intervém no mundo para nos libertar do mal e do pecado e nos oferecer vida plena e verdadeira. Todavia, para que isto se realize o povo deve reconhecer que “só o Senhor é Deus” (Dt. 4,39-40). Sendo assim o Povo não deve colocar a sua esperança em deuses imaginários com suas propostas enganadoras. Deve cumprir as leis e os mandamentos de Deus, pois são o caminho seguro para a felicidade.

Na segunda leitura (2Cor.13,11-13) temos a conclusão da Segunda Carta de Paulo aos Coríntios. Se trata dos conselhos finais do Apóstolo para aquela comunidade. Mesmo com todos os problemas que enfrentou na comunidade, ele permanece com atitude paterna e serena em relação a eles. Deste modo, Paulo pede-lhes que sejam alegres e que busquem sem cessar chegar à perfeição pela santidade.

A saudação final com a fórmula trinitária que tornou-se parte dos ritos litúrgicos da Igreja, de certo modo confirma e mostra que Jesus Cristo nos revelou o Deus próximo e acessível, que age diante dos dramas humanos. Um Deus que acompanha com compaixão a nossa caminhada e jamais desiste de oferecer vida plena em abundância dando-nos a justificação. Ela é expressão de intimidade filial e deve definir nossa relação com Deus marcada pelo amor, pela docilidade, pela confiança e pela graça. Paulo então nos lembra que somos homens ressuscitados para a vida nova, convidados a viver do Espírito, como filhos de Deus e co-herdeiros com Cristo. Cabe-nos como filhos e herdeiros, viver a altura desta dignidade imitando a mesma comunhão trinitária que Jesus revelou.

No Evangelho (Jo. 3, 16-18), em uma breve catequese aos discípulos, Jesus Cristo resume o mistério da história da salvação. Assim, o Mestre nos convida a compreender a salvação como expressão da comunhão da Trindade: o amor do Pai, que se manifesta em plenitude na encarnação, doação e na entrega do Filho e que continua a acompanhar a humanidade historicamente através do Espírito Santo.

Para Jesus ser seu discípulo é tornar-se membro da comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Por isto, os discípulos de Jesus recebem a missão de testemunhar o Reino dos Céus e são enviados a apresentar – a todos os povos, línguas e nações, sem exceção – o convite de Deus para integrar a família/comunidade trinitária. É esta a fé na qual fomos batizados e introduzidos na vida desse Deus uno e trino. O amor eterno vivido entre o Pai, o Filho e o Espírito, é o amor que devemos viver entre nós! A Trindade não é uma teoria acadêmica. Ela é uma realidade concreta que deve invadir e impregnar a nossa vida e a vida e missão da Igreja.

A comunhão e a sociabilidade da Trindade é um grande exemplo para nossa sociedade que vive tão imersa em “amizades virtuais”, mas se esconde e foge de toda e qualquer possibilidade de convívio e compromisso familiar e fraterno. Uma Família/Comunidade que não se reúne e não respeita a diversidade de dons, carismas e ministérios, não é uma comunidade que vive a comunhão da Trindade e que caminha para a Trindade.

A vida da Santíssima Trindade é dinâmica, pois vive em permanente movimento de amor; de dar amor e receber amor. Deste modo, a vida dos cristãos não pode nem deve ser uma realidade estática, nem simples observação mecânica dos mandamentos e normas doutrinárias. Deve ser também movimento de amor, para acolher e se doar aos outros. Professar a fé na Trindade é acreditar que a Cruz – caminho da nossa salvação – é feita de duas forças: do ato de amar a Deus e amar ao próximo. A haste vertical na terra e apontando para o céu, é o amor e o serviço a Deus. A trave horizontal, é o amor e o serviço ao próximo. Em suma, não há como confessar e professar o amor ao Deus Trino sem confessar, professar e viver o amor ao próximo.

Que a comunhão eterna vivida pela Santíssima Trindade nos ensine o verdadeiro objetivo de nossa fé e missão: testemunhar que somos uma comunidade que nasceu do amor, vive de amor e caminha nesta terra para alcançar a plenitude do amor de Deus. Assim “a Graça do Senhor Jesus Cristo, o Amor de Deus Pai e a Comunhão do Espírito Santo estarão sempre conosco!”

Pe. Paulo Sérgio Silva

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito

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