Solenidade da Imaculada Conceição de Maria: a coragem de dizer sim a Deus

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Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc. 1,38)

Um pouco da história do Dogma da Imaculada Conceição de Maria direto do Catecismo da Igreja Católica. Para vir a ser Mãe do Salvador, Maria «foi adornada por Deus com dons dignos de uma tão grande missão». O anjo Gabriel, no momento da Anunciação, saúda-a como «cheia de graça». Efetivamente, para poder dar o assentimento livre da sua fé ao anúncio da sua vocação, era necessário que Ela fosse totalmente movida pela graça de Deus. Ao longo dos séculos, a Igreja tomou consciência de que Maria, «cumulada de graça» por Deus, tinha sido redimida desde a sua concepção. É o que confessa o dogma da Imaculada Conceição, procla­mado em 1854 pelo Papa Pio IX: Por uma graça e favor singular de Deus omnipotente e em previsão dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, a bem-aventurada Virgem Maria foi preservada intacta de toda a mancha do pecado original no primeiro instante da sua conceição» (140). Este esplendor de uma «santidade de todo singular», com que foi «enriquecida desde o primeiro instante da sua conceição», vem-lhe totalmente de Cristo: foi «remida dum modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho». Mais que toda e qualquer outra pessoa criada, o Pai a «encheu de toda a espécie de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo» (Ef 1, 3). «N’Ele a escolheu antes da criação do mundo, para ser, na caridade, santa e irrepreensível na sua presença» (Ef 1, 4). Os Padres da tradição oriental chamam ã Mãe de Deus «a toda santa» («Panaghia»), celebram-na como «imune de toda a mancha de pecado, visto que o próprio Espírito Santo a modelou e dela fez uma nova criatura». Pela graça de Deus, Maria manteve-se pura de todo o pecado pessoal ao longo de toda a vida. (Cf: Catecismo da Igreja Católica 490-493)

Ao celebrarmos a Solenidade da Imaculada Conceição somos indagados sobre como respondemos aos planos de Deus. Ao voltar nosso olhar para o exemplo de Maria de Nazaré, a liturgia convida-nos a acolher, com um coração aberto e disponível, os planos salvíficos de Deus para nós e para o mundo. Caminhando para o Natal, somos convidados a contemplar para Maria, a IMACULADA, e reconhecer nela o modelo perfeito de acolhida da Salvação de Deus.

A primeira leitura (Gn. 3,9-15.20) para auxiliar na compreensão das “grandes coisas que Deus realizou na plenitude dos tempos” (Gal. 4,4-9), voltamos nosso olhar para o começo de nossa história de fé onde o livro do Gênesis mostra o que acontece quando rejeitamos o projeto de Deus e preferimos trilhar sozinhos, caminhos de egoísmo, de orgulho e de auto-suficiência. Consciente de seu erro, a humanidade sente medo e vergonha. A vergonha e o medo são sinais de uma perturbação interior, da perda de inocência, de harmonia, de serenidade e de paz. Ao tentarem se justificar, homem e mulher acusam-se reciprocamente e, ao mesmo tempo, acusam o próprio Deus pela situação. Adão representa essa humanidade que, mergulhada no egoísmo e na prepotência, enxerga em Deus um adversário; por outro lado, a resposta de Adão mostra, igualmente, uma humanidade que quebrou a sua unidade e se instalou no medo, na falta de solidariedade e no ódio. Ao longo da história aprendemos do modo mais doloroso possível que rejeitar os caminhos de Deus nos leva, inevitavelmente, a trilhar caminhos de sofrimento, de destruição, de infelicidade e de morte. Todavia, Deus anuncia que um “filho da mulher” (o Messias) acabará com as consequências do pecado e resgatará a humanidade tornando-nos participantes da vida da graça.

Na segunda leitura (Ef.1,3-6.11-12), São Paulo, recorda a comunidade dos Efésios – e a nós, cristãos atuais – que Deus sempre teve um projeto de vida plena, verdadeira e total para toda humanidade.  Um projeto de santidade que desde sempre esteve na mente e no coração do próprio Deus. Esse projeto construído ao longo das eras, alcançou a plenitude através da encarnação do seu Filho Unigênito, Jesus Cristo. Nele, Deus reconciliou-nos consigo, com todos os outros seres humanos e com a própria natureza. Da obra redentora de Jesus Cristo, nasceu uma nova humanidade; capaz construir laços fraternos não mais baseados em egoísmo, orgulho e autossuficiência, mas marcado pelo amor e pelo dom da vida. Esse projeto, apresentado de forma plena a humanidade através de Jesus Cristo, exige de cada um de nós uma resposta concreta e sem justificativa para uma recusa. Este plano de santidade rejeitado por Adão e Eva, foi aceito plenamente por Maria.

O Evangelho (Lc.1,26-38) apresenta a resposta de Maria ao plano salvador de Deus. Ao contrário de Adão e Eva, Maria rejeitou o orgulho, o egoísmo e a autossuficiência e preferiu entregar a sua vida, de forma total e radical, aos planos de Deus. Do seu “sim” total, resultou salvação e vida plena para ela e para o mundo.  Santo Agostinho em uma de suas obras ao meditar sobre a virgindade perpétua de Maria que é expressão da entrega existencial de Maria a vontade de Deus nos ensina: “O que tornou a virgindade de Maria tão santa e agradável a Deus não foi porque a concepção de Cristo a preservou, impedindo que sua virgindade fosse violada por um esposo; Mas porque antes mesmo de conceber Ela já a tinha dedicado a Deus e merecido, assim, ser escolhida, para trazer Cristo ao mundo” (Santo Agostinho – Sobre a Santa Virgindade)

Enviado por Deus, o Anjo propõe a Maria que ela aceite ser a mãe do messias que Israel esperava. Este messias não seria mais um líder humano na história, mas o próprio “Filho do Altíssimo”. Maria apresenta uma pequena objeção; sua simplicidade não permitia que ela se enxergasse digna de tão grande missão. O Espírito Santo que conduziu todos os vocacionados ao longo da história virá sobre Maria. Ela se tornará sinal da eficaz da salvação de Deus no meio do mundo. Apesar da fragilidade de Maria, Deus vai, através dela, fazer-Se presente no mundo para oferecer a salvação a todos.

Através do diálogo com o Anjo Gabriel, o Evangelho apresenta a resposta de Maria ao plano salvador de Deus. No exercício pleno de sua liberdade, Maria escolhe rejeitar o orgulho, individualismo e a auto-suficiência que o pecado semeia no coração dos seres humanos e escolhe conformar completamente a sua vida aos planos de Deus. Por meio do seu “sim”, resultou salvação e vida plena para ela e para o mundo. São Agostinho afirmava que com o seu “fiat” (faça-se), Maria abre livremente a janela da humanidade para que Deus, respeitando nossa liberdade, realize a redenção.

A resposta final de Maria: “eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. Demonstra sua livre e consciente decisão de acolher a vontade de Deus. Ela reconhece-se como “serva” e aceita essa eleição, com tudo o que ela implica – alegrias e tristezas; exultações inenarráveis e sofrimentos indescritíveis. Maria, apesar das muitas justificativas possíveis e até aceitáveis para recusar o anúncio angélico, reconhece que Deus a escolheu, aceita com disponibilidade e liberdade essa escolha e manifesta a sua disposição de cumprir, com fidelidade, até as últimas consequências, o projeto de Deus.

Ao afirmar-se como “serva”, Maria, numa atitude humildade, reconhece-se como objeto de uma escolha Deus, uma escolha que não se resume apenas a sua própria vida, mas inclui e faz depender de sua resposta, a salvação de toda a humanidade. Assim, apesar de não entender de imediato porque foi escolhida, Maria reconhece que Deus a escolheu, aceita com disponibilidade essa escolha e manifesta a sua disposição de cumprir, com fidelidade, o plano salvífico de Deus.

Contemplando a presença de Maria e sua ação, compreendemos que o mistério da Graça de Deus a envolveu desde o primeiro momento da sua existência, fazendo-a destinada a tornar-se a Mãe do Redentor, preservando-a do contágio do pecado original. Olhando para ela, nós reconhecemos a altura e a beleza do projeto de Deus para cada ser humano: Sim! Somos chamados desde o início da criação a tornarmo-nos santos e imaculados no amor (Ef. 1, 4), à imagem do nosso Criador.

Exultem de gozo os homens! Exultem de alegria as mulheres! Cristo nasceu homem e nasceu de uma mulher. Nele, ambos os sexos estão dignificados. Que se voltem para o segundo homem todos os que haviam sido condenados com o primeiro (Adão). Uma mulher nos induzira à morte. Uma outra trouxe-nos a Vida. Dela nasceu um filho, semelhante à carne de pecado (Rm. 83,). Assim, pois, não culpemos a carne, mas para que viva a natureza, morra a culpa. Pois nasceu sem pecado Aquele em quem devia renascer o que se achava na culpa”. (Santo Agostinho)

Pe. Paulo Sérgio Silva

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.

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