SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR – ANO C

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O AMOR DE DEUS ENFIM SE MANIFESTOU A TODA HUMANIDADE

Nós vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt. 2,2).

O Natal mais do que um “dia”, se trata de um tempo. Isto se deve ao fato de a Encarnação ser um acontecimento inesperado, singular e inigualável na história. Os cristãos a celebram solenemente em três festas litúrgicas que constituem o Ciclo do Natal e que são igualmente imbuídas da espiritualidade “epifânica”: na Festa do Natal do Senhor celebramos o dia em que o Filho Unigênito do Pai se manifestou visivelmente em nossa carne. Na Festa da Epifania celebramos – através do Magos e dos povos pagãos por eles representados – Deus manifestando a salvação para todos os povos. E na Festa do Batismo do Senhor celebramos o amor de Deus manifestado e revelado como uma existência trinitária e relacional.

Sendo assim, a liturgia deste domingo celebra a manifestação de Jesus Cristo a todos os seres humanos. De modo semelhante à estrela que guia os magos, Jesus é a “luz” que se acende na noite de uma humanidade desolada e distante de Deus e atrai a Si todos os povos da terra. Realizando o plano salvador que o Pai desejava ardentemente nos oferecer, Ele se encarnou na nossa história, iluminou os nossos caminhos, conduzindo-nos ao encontro da vida em plenitude.

A primeira leitura (Is. 60,1-6), retirada do Livro do Profeta Isaías, nos revela como o plano de amor de Deus foi sendo construído ao longo dos séculos através da Promessa, da Fé e da Esperança, até atingir a sua plenitude com a chegada do Messias. A volta dos exilados para a Cidade Santa traz nova esperança. Ainda que os exilados encontrem a cidade sem o esplendor de outrora, o nascer do sol refletindo nas pedras brancas dos muros de Jerusalém anunciam novos tempos. Por isto, ditando palavras de ordem e encorajamento – como se pode perceber pelos verbos utilizados no tempo imperativo – o profeta anuncia a chegada da luz salvadora de Deus. Esta luz transfigurará Jerusalém na cidade das luzes e reunirá na cidade de Deus todos os habitantes do mundo transformados em um só povo de irmãos. As primeiras comunidades cristãs paulatinamente compreenderam que esta luz salvadora de que falava o profeta se tratava do Messias. Ainda que o Messias nasça em outra cidade de Judá – Belém – é de Jerusalém que Ele fará brilhar a sua luz antes inacessível. Será nela que o Messias um dia doará sua vida e fará surgir sobre a humanidade um clarão nunca antes vislumbrado: a Ressurreição.

Assim, na segunda leitura (Ef 3,2-3a.5-6), o Apóstolo Paulo, apresenta aos Efésios o plano salvador de Deus como uma realidade concreta que atinge toda a humanidade, congregando judeus e pagãos numa mesma comunidade de irmãos – a comunidade apostólica reunida em torno de Jesus. Daquilo que estava dividido pelo pecado (judeus e pagãos), Deus, pela sua Graça fez uma unidade (o Corpo de Cristo ou a Igreja) (cf: Ef 2,14).

No Evangelho (Mt. 2,1-12), vemos a materialização da Promessa anunciada pelo profeta Isaías. Representando todos os povos, os reis magos[1] rumam ao encontro de Jesus. Eles se deixam guiar pela luz de estrela que após encontrarem o Menino, desapareceu. Pois ela era apenas sinal de onde se encontrava a verdadeira luz, que é Deus manifestado visivelmente em nossa carne.

Além de apresentar Jesus como a Luz buscada pelo coração humano, Mateus aproveita para apresentar uma catequese sobre as atitudes de cada um diante de Deus. Já no seu nascimento o Povo de Israel rejeita Jesus, enquanto que os pagãos o reverenciam (os magos do oriente). Herodes e todo o povo de Jerusalém, preocupados com a manutenção do poder vigente, mesmo conhecendo as Escrituras, ficam perturbados. Ao invés de alegrarem-se com a notícia do nascimento do menino, arquitetam a sua morte. Enquanto que os pagãos sentem uma grande alegria e reconhecem em Jesus o seu salvador. Mateus assim nos ensina que ao longo de sua vida e missão Jesus vai ser rejeitado pelo seu Povo, todavia vai ser acolhido pelos pagãos, que constituirão o novo Povo de Deus, conforme anunciado pelo Apóstolo Paulo na segunda leitura e por João no prólogo do seu Evangelho (cf. Jo. 1,9-13).

Este novo Povo Eleito não será trata de uma nação privilegiada, mas uma realidade de justiça para os pobres e humildes e que conhecemos como o Reino de Deus. Os traços desta almejada realidade surgem no salmo 71(72) meditado hoje. Este Reino foi inaugurado pelo nascimento do Salvador, e alcançará a sua plenitude à medida que o Evangelho chegue aos confins do mundo, acolhendo povos de todas as nações. (Reflitamos: Como reagimos diante do cumprimento das promessas de Deus? Nos alegramos e nos disponibilizamos para colaborar em seu plano salvífico? Ou nos perturbamos porque achamos que o projeto de Deus irá “atrapalhar” a realização dos nossos esquemas pessoais e individuais?)

A longa peregrinação dos reis magos para contemplar o Deus Menino, nos revela que também nós necessitamos fazer nossa peregrinação. Eles se mantiveram atentos aos sinais da chegada do Messias, O procuram ansiosamente até O encontrar. E reconhecendo n’Ele a “salvação de Deus” e O adoram como “O Senhor”. A salvação que tantas vezes foi rejeitada pelos habitantes de Jerusalém tornou-se um dom que Deus oferece a toda humanidade, sem exceção. Assim como a luz tênue de uma estrela serviu de sinal, Deus se serve de diferentes sinais e se manifesta constantemente e de várias maneiras a nós. Nos sacramentos – em especial no sacramento da Eucaristia –, na sua Palavra proclamada, na pessoa do Sacerdote, na Igreja/Comunidade reunida para celebrar, no amor caloroso e acolhedor de nossa Família, etc.

Os reis magos representam os habitantes de todo o mundo que buscam encontrar Jesus Cristo, acolher a sua proposta salvadora e querem se prostrar diante d’Ele. São aqueles que desejam constituir-se parte da Igreja – uma família de irmãos, que constituída por pessoas de todas as cores, raças e línguas, seguimos convictos a Jesus e O reconhecemos como o Nosso Senhor. Cabe a nós que já O acolhemos, ajudar a todos que desejam O encontrar, nos utilizando de todos os sinais que Deus nos oferece para fazer o mundo inteiro enfim saber que Ele está Vivo, Encarnado e no meio de nós!

Recordamos o saudoso Papa emérito Bento XVI que ao afirmar que “por amor, Jesus fez-se história na nossa história”, nos ensinou que o lugar preferencialmente onde podemos encontrar Deus nesta terra é na humanidade de Jesus.  E isto é maior ensinamento que a Epifania tem a nos oferecer, pois Jesus é o maior e definitivo sinal de Deus para a humanidade.

Pe. Paulo Sérgio Silva

Diocese de Crato

[1] Segundo uma tradição dos primeiros séculos do cristianismo, cada um dos magos pertence a uma cultura diferente: Melchior da Ásia, Baltazar da Pérsia e Gaspar da Etiópia. Eles representam assim as três raças conhecidas no mundo antigo. São imagem dos povos estrangeiros mencionados na primeira leitura (cf. Is. 60,1-6), que buscando a libertação se colocam a caminho de Jerusalém com as suas riquezas (ouro, incenso e mirra) para encontrar a luz salvadora de Deus que brilha sobre a cidade santa. São Beda, o Venerável, um monge beneditino que viveu entre os anos de 673 a 735, ofereceu em seus escritos mais algumas informações sobre estes três misteriosos personagens: Melchior, cujo nome quer dizer “meu Rei é luz”, veio de Ur, na Caldeia; é ele quem oferece o ouro. Gaspar, cujo nome quer dizer “aquele que vai confirmar”, veio do mar Cáspio; é ele quem oferece o incenso. E, por fim, Baltazar, cujo nome quer dizer “Deus manifesta o Rei”, veio do Golfo Pérsico; é ele quem oferece a mirra.

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