Romaria de Finados encerra com queda de 30% no número de participantes devido a proibição do transporte “Pau de Arara”

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A manhã de hoje, 2, dia em que a igreja celebra a liturgia em memoria dos fiéis defuntos, milhares de romeiros encerraram sua peregrinação em Juazeiro do Norte- CE, concluindo a Romaria da Esperança 2014, que iniciou dia 29 de outubro. A romaria teve um balanço negativo com relação a participação dos fiéis, pois o número de participantes foi reduzido em aproximadamente 30%, segundo o pároco da Basílica N. Sr.ª das Dores, Pe. Joaquim Claúdio de Freitas, devido a Operação Romaria Segura, realizada pela Policia Rodoviária Federal (PRF).

A romaria de finados é considerada a maior peregrinação do Ceará e a maior romaria do ciclo de romarias da Diocese de Crato, porém com a execução da Operação Romaria Segura, que impossibilita o deslocamento de romeiros através de caminhão ‘pau de arara’, do número de 500 mil romeiros que estavam sendo aguardados estima-se que apenas 350 mil estiveram presentes.

Em sua avaliação Pe. Joaquim diz que a romaria aconteceu em paz, porém vê como negativo a proibição do ‘pau de arara’, pois segundo ele muitos lugares só têm este tipo de condução, e a maioria dos romeiros que participam desta romaria são pobres do Nordeste, de comunidades distantes, sítios, que fazem suas economias financeiras para pagar a passagem, a hospedagem e levar uma lembrancinha da cidade. “Com as obrigações exigidas pela PRF muitos romeiros não chegaram nem a sair de casa, pois os custos com os ônibus são bem mais altos”, disse.

Tradicional caminhão 'pau de arara' com romeiros do Pe. Cícero. (Foto: Rozelia Costa)
Tradicional caminhão ‘pau de arara’ transportando romeiros do Pe. Cícero. (Foto: Rozelia Costa)

Cerca de 40% do transporte de romeiros para esta romaria é realizado através de ‘pau de arara’, e neste ano somente 10% dos transportados por este tipo de veiculo conseguiram chegar a Juazeiro, fato que pode implicar na participação dos romeiros em todas as romarias fazendo com que a Capital da Fé, Juazeiro do Norte, seja afetada não só no campo religioso, mas também no econômico uma vez que a economia da cidade gira em torno da religiosidade e da figura do Pe. Cícero Romão Batista.

“Acredito que todo o Juazeiro só vai se envolver quando as romarias atingirem a renda comercial, porque pode ter certeza que se o romeiro não tiver o dinheiro para comprar sua lembrancinha, cito aqui lembrança religiosa também, ele vai vir, porque ele quer chegar a Juazeiro, visitar o tumulo do Pe. Cícero, ir ao Horto, aos Santuários, pagar sua promessa e pagamento de promessa não se faz só com dinheiro não. O pagamento de promessa é vindo a cidade, fazendo sua visita, se confessar, participar da missa e ir aos lugares sagrados. Então eu acredito que só quando tocar neste ponto ai sim todo o município se mobilizará em favor dessa causa. A romaria beneficia os romeiros, mas também os que aqui moram”, falou o pároco.

Na cidade de Canindé- CE, onde aconteceu a romaria de São Francisco das Chagas de 9 a 19 de outubro, também foi realizada a Operação Romaria Segura e, após o término da peregrinação, foi constatado grande diminuição na participação dos romeiros, 10 mil fiéis a menos que o ano anterior, e no campo comercial a cidade foi afetada, segundo o presidente da Câmera de Dirigentes Lojistas (CDL), Paulo Magalhães Filho, em entrevista concedida ao Jornal Diário do Nordeste, com um prejuízo de 1 milhão de reais.

Romeiros visitando o tumulo do Pe. Cícero localizado na Capela do Socorro, em Juazeiro do Norte- CE. (Foto: Patrícia Silva)
Romeiros visitando o tumulo do Pe. Cícero localizado na Capela do Socorro, em Juazeiro do Norte- CE. (Foto: Patrícia Silva)

A aposentada Maria do Rosário Silva, 69, de Belo Jardim- PE, que participa das romarias em Juazeiro há 50 anos, defende o tradicionalismo devocional do ‘pau de arara’. “Hoje venho de ônibus, mas prefiro o ‘pau de arara’. Nele a gente vinha sentada, rezando, cantando, cozinhando no meio do caminho. Era uma beleza. No ‘pau de arara’ fazemos uma viagem alegre, já no ônibus, é confortável, mas o povo não reza, é mais parado sem ter animação na fé. Este ano eu queria ter vindo no caminhão de novo, mas não consegui então tive que vir de ônibus mesmo, porque não posso deixar de pagar minhas promessas ao ‘Padim Ciço’ e a minha Mãe das Dores”, falou.

O bispo Dom Fernando Panico não pôde estar presente na romaria por questões de saúde, mas disse lamentar a intransigência contra os romeiros que foram impedidos de ir e voltar de suas peregrinações com o tradicional meio de transporte. “Como bispo da Diocese de Crato, ao constatar a ineficácia de diversas conversas e encontros com autoridades competentes, inclusive em Brasília, que podiam resolver e regulamentar este problema que a lei prevê, estou indignado com essa falta de vontade política de resolver o caso dos ‘pau de arara’ garantindo a segurança dos romeiros e a sua viagem, de acordo com a Resolução nº 82/1998-CONTRAN que permite viagens de natureza religiosa em ‘pau de arara’”, afirmou.

Mesmo com todas estas questões os romeiros que puderam chegar a Juazeiro buscaram vivenciar da melhor forma sua peregrinação, como o técnico agrícola Cícero Bezerra, 53, de Água Branca- AL, que participou pela primeira vez da romaria e disse estar tão encantado que já deixou a pousada reservada para o próximo ano. “É um espetáculo, coisa divina, a fé do povo é algo impressionante. Próximo ano estarei de volta”, falou.

Romeira  no encerramento da Romaria de Finados 2014. (Foto: Patrícia Silva)
Romeira no encerramento da Romaria de Finados 2014. (Foto: Patrícia Silva)

Já o aposentado José Alves, 67, de Aracaju- SE, disse que tem uma admiração especial pelo Pe. Cícero e isso o faz estar em Juazeiro do Norte todos os anos.

A romaria de finados 2014 teve como tema “Como romeiros desta terra, caminhemos para a morada no céu!” e dentre os diversos locais visitados se destaca o tumulo do Pe. Cícero, que fica localizado na Capela Nossa Senhora do Perpetuo Socorro.

Resolução

A resolução de número 82 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) autoriza, de forma temporária, que veículos como Caminhão Pau-de-Arara realizem o transporte de pessoas desde que os condutores respeitem alguns requisitos, dentre eles circular somente entre localidades de origem e destino que estiverem situados em um mesmo município, municípios limítrofes ou municípios de um mesmo estado, quando não houver linha regular de ônibus ou as linhas existentes não forem suficientes para suprir as necessidades daquelas comunidades e quando as viagens estiverem sendo realizadas por motivos religiosos.

A norma estabelece que os veículos devam possuir bancos com encosto, fixados na estrutura da carroceria; carroceria, com guardas altas em todo o seu perímetro, em material de boa qualidade e resistência estrutural e cobertura com estrutura em material de resistência adequada.
A autorização especial de transporte é dada após vistoria dos órgãos competentes. No Ceará, o órgão responsável é o Detran.

Em busca de solução

Na esperança de que este transtorno seja logo resolvido o Pe. Joaquim disse que a Comissão Diocesana das Romarias, junto com toda a igreja da Diocese de Crato, assume o compromisso de dar o próximo passo que é conseguir a 3ª audiência no Ministério responsável. “Já fomos a Policia Rodoviária Federal, a ATT, em Brasília, e nada foi resolvido porque ficou um órgão jogando para outro, mas agora estamos buscando a realização da 3ª audiência no Ministério dos Transportes ou no Ministério da Justiça, para que este problema não angustie os romeiros nas próximas romarias” informou.

 

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