“Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus.”
A partir da celebração de hoje faremos uma pausa na vivência litúrgica do Tempo Comum, pois iniciaremos o período da Quaresma, época favorável para promover nossa reconciliação com Deus e acolher a sua graça que veio a nós por meio do seu Filho Jesus. Iniciamos a caminhada espiritual que nos conduzirá à festa anual da Páscoa. Como o povo de Israel que peregrinou 40 anos no deserto; como Jesus que jejuou 40 dias e 40 noites; caminharemos estes 40 dias ansiosos para contemplar o Senhor Ressuscitado no novo dia da nova história.
Na primeira leitura, somo exortados pelo profeta e sacerdote, Joel que convida o povo de Israel depois do Exílio a celebrar fielmente na casa do Senhor. O povo é convidado a oração, a conversão e a fazer jejum, penitência e súplicas a Deus. Eles haviam abandonado a Deus e agora deveriam voltar o coração inteiramente para Ele através de um verdadeiro e coerente culto que ao invés de se resumir a solenes gestos externos deveria ser acompanhado de manifestações concretas da sua conversão interior. O profeta lembra ao povo que Deus é misericordioso e compassivo. Como eles, nós, cristãos, somos convidados a rasgar nossos corações através da mortificação, da penitência e de uma entrega confiante ao Senhor na oração. Busquemos um sacerdote e rasguemos os corações no Sacramento da Reconciliação para receber sua “bênção, oblação e libação.” (cf: Jl. 2,14)
Com a imagem de Deus compassivo e clemente apresentado pelo profeta Joel, na segunda leitura, o Apóstolo Paulo nos convida a ter a coragem de se reconciliar com Deus. Ele nos lembra o sacrifício supremo do amor divino: seu Filho na cruz. O Cordeiro Inocente tornou-se pecado para que pudéssemos ter justiça diante de Deus. Por isto é agora o dia da salvação. No hoje, no agora, neste dia atual de nossa vida devemos buscar a reconciliação com Deus para que a graça da morte e ressurreição do seu Filho não passe em vão na nossa história.
No Evangelho, através do discurso de Jesus, somos apresentados as Obras de Penitência que são a tríade da espiritualidade cristã: a Oração, o Jejum e a Esmola. Ao mencioná-los, Jesus exorta os seus discípulos a viverem uma vida coerente diante de Deus ao invés de transformarem sua fé em um espetáculo externo para quem convive com eles.
A Oração, como nos ensina Santa Tereza D’Ávila, é um momento de diálogo íntimo com quem mais nos ama. Deve ser o encontro com Deus; uma expressão daquilo que vivemos diariamente em nossa espiritualidade. É o ato de responder a escuta da sua Palavra e manifestar nossa confiança, apesar de vivermos num mundo que despreza a oração e que rejeitando a intervenção divina, esquece-se Dele. O Jejum é definido normalmente como o ato de deixar de comer carne ou outro tipo de alimento. Todavia ele não deve se resumir ao esforço de mortificação pessoal na comida, mas também na mortificação dos gastos desnecessários, na exibição de riqueza, nos sentidos e nas paixões desenfreadas. Deve ser expressão de uma consciência solidária capaz de reconhecer a dor e o sofrimento das pessoas que passam fome. Quanto a Esmola, ela precisa ser mais do que aquilo que sobra. Precisa ser um gesto concreto que transforma vidas, garante a dignidade e a justiça. Deve ser um ato de serviço ao próximo. Numa sociedade cada vez repleta de pessoas abandonadas, depressivas e infelizes, reservar tempo para estar com o outro em sua vida, será sempre um ato de fé e serviço cristão.
Temos ainda na Igreja no Brasil para a vivência da Quaresma a Campanha da Fraternidade, que neste ano de 2022, toca de modo corajoso em uma ferida aberta: somos uma sociedade carente de educação. Educação que mais do que transmissão de conteúdo intelectual, deve formar o caráter e promover “verdadeira mudança de mentalidade, reorientação da vida, revisão das atitudes e busca de um caminho que promova o desenvolvimento pessoal integral, a formação para a vida fraterna e a cidadania”. (Documento CF 2022).
Caminhemos pressurosos movido e atraídos pelo Amor que se entrega por nós na Cruz.
Pe. Paulo Sérgio Silva
Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.
Para saber mais:
O uso das cinzas como ato litúrgico remete a tempos imemoriáveis. Seu uso aparece já no Antigo Testamento com o sentido de dor, morte e arrependimento. Nos relatos do cristianismo primitivo percebemos que a Igreja primitiva praticava o ritual como penitência e mortificação. Nos dias atuais impomos as cinzas em forma de Cruz sobre a testa dos fiéis para lembrar a necessidade de conversão e a salvação que nos veio na cruz de Cristo. Assim a imposição das cinzas permanece como um símbolo do dever da conversão e da mudança de vida, para recordar a fragilidade da vida humana, sujeita à morte e necessitada da graça de divina.


O uso das cinzas como ato litúrgico remete a tempos imemoriáveis. Seu uso aparece já no Antigo Testamento com o sentido de dor, morte e arrependimento. Nos relatos do cristianismo primitivo percebemos que a Igreja primitiva praticava o ritual como penitência e mortificação. Nos dias atuais impomos as cinzas em forma de Cruz sobre a testa dos fiéis para lembrar a necessidade de conversão e a salvação que nos veio na cruz de Cristo. Assim a imposição das cinzas permanece como um símbolo do dever da conversão e da mudança de vida, para recordar a fragilidade da vida humana, sujeita à morte e necessitada da graça de divina.


