A dona de casa Cristiane Garcia levantou-se, fez café para a família e leite para a neta Alícia, de três anos. Sacando uma bolsa, colocou nela toalhas, mamadeira e algumas garrafas com água extremamente gelada. Lucelia Neves, do mesmo modo, tendo acordado mais cedo que o dia, juntou a irmã, a cunhada e as colegas para caminhar, às quatro da manhã, rezando “pelos trabalhadores e pela situação do Brasil”. A poucos metros, a aposentada Maria Leni de Oliveira, 70 anos, tentava acompanha-las, a passos ora lentos, ora rápidos, mas sempre meditativos.
Essas três mulheres tão bem dispostas estavam entre os de 10 mil peregrinos que desafiaram as intempéries da vida – e da atual conjuntura política, econômica e social – para render graças a Deus pelos trabalhadores, mas também alertar e manifestar o descontentamento quanto às reformas da previdência e trabalhista, propostas pelo Governo, numa “Caminhada da Fraternidade”, organizada pela Paróquia de São Francisco de Assis, em Crato.

Com uma grande faixa “abrindo alas”, a caminhada partiu em direção a Igreja Matriz de São Francisco das Chagas, em Juazeiro do Norte, perfazendo um percurso de 21 km. Um carro de apoio até seguiu os peregrinos, mas não foi necessário. No trajeto, que contou com duas paradas para um descanso breve, nem cansaço, nem lamúria nos olhos dos peregrinos. Esperança, apenas. E desejo de elevar preces a Deus pela situação do país.
Ainda no trajeto, animado pela banda Nova Órbita, formada, sobretudo, por jovens, o pároco da Igreja de São Francisco, em Crato, padre Arileudo Machado, leu mensagem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, para o Dia do Trabalhador e também uma saudação especial enviada por dom Gilberto Pastana, que está em Aparecida-SP, na 55ª Assembleia dos Bispos, mas em sintonia com os fiéis, participantes da caminhada.
Na chegada à Matriz de São Francisco das Chagas, em Juazeiro do Norte, sob um sol que descortinava o dia, imperioso, os peregrinos receberam bênção especial do pároco, Frei Raimundo Barbosa, e também do padre Luciano Virgulino, vigário da Paróquia São João Bosco, e que fez questão de acompanhar a “andança”. Após algumas orações, entre elas o hino do “santo da simplicidade”, entoado de mãos dadas, um café comunitário foi servido.
Tradição
A “27ª Caminhada da Fraternidade” já é tradicional no dia 1º de maio. Idealizada pelo padre Raimundo Elias, hoje residindo em Portugal, começou com uns poucos peregrinos, fazendo eco a Campanha da Fraternidade. A jornada, por sua vez, vem somando milhares de participantes a cada edição.
Este ano, explica o padre Arileudo, diante da realidade do país, a caminhada foi pensada para fazer força a luta do povo por vida e dignidade, sobretudo, relacionada às reformas do Governo. “E a gente consegue, realmente, compreender a proposta da fraternidade, desde o momento em que as pessoas vão se juntando, principalmente, as pessoas de Crato e Juazeiro. Enquanto Igreja, nós devemos sempre batalhar em torno da vida e da união”.






