Nesse dia 16 de janeiro, toda a diocese de Crato se encontra jubilosa pelos 25 anos de sacerdócio do padre Vileci Basílio Vidal, que fez do seu ministério presbiteral fonte de profecia em prol das comunidades e do povo menos favorecido. A celebração eucarística, presidida por dom Gilberto Pastana, no início da noite dessa terça-feira, marcou o ápice das comemorações reunindo o povo de Deus com familiares e irmãos no sacerdócio, na Igreja Matriz de Santo Antônio, em Araripe.
“Somos profundamente gratos pelos teus 25 anos, jubileu de prata, dedicados a esta Igreja particular de Crato”, disse dom Gilberto, durante a homilia, expressando gratidão pela doação de vida do aniversariante. “Vestias um camisão (que dizia ser batina) e inocentemente celebravas a missa”, continuou, recordando o nascimento da vocação sacerdotal do padre.
Dom Gilberto ainda se utilizou de quatro imagens para refletir sobre o significado do sacerdócio. “Sacerdote: Em virtude da ordenação, o sacerdote se torna um dom sagrado de Deus para o seu povo. Servo: O presbítero participa da missão do Filho do Homem ‘que não veio para ser servido, mas para servir e dar a própria vida em resgate por muitos’ (MC 10,45). Pastor: esta é imagem mais frequente para designar aqueles a quem cabe estar à frente do povo. Homem de Deus: a exemplo de Jesus, o presbítero exerce seu ministério num cuidado especial com os pobres e marginalizados (Lc 14,13; Mt 25, 31-46) procurando, a partir deles, a transformação da situação em que se encontram”, falou, pedindo que a prioridade do padre Vileci seja sempre a evangelização, pois isso o que acentua o caráter missionário do ministério presbiteral.

Ao todo 21 sacerdotes concelebraram a missa, estando entre eles padres de seu tempo de formação no seminário: padre Benedito Evaldo, da diocese de Crato, e o padre Adair Ramos, da arquidiocese de Fortaleza. Participou também o padre Cícero José, amigo do padre Vileci e pároco da Basílica Nossa Senhora das Dores, que com cinco anos de sacerdócio, vê no aniversariante um exemplo a ser seguido. “Tenho ele como referência, principalmente no campo pastoral. Esse jeito simples de acolher e estar no meio do povo nos mostra que ele é verdadeiramente um homem que está respondendo os desafios de uma Igreja em Saída’, disse.
Após a liturgia da palavra, dom Gilberto passou a presidência da celebração para o padre Vileci. Na liturgia eucarística o sacerdote utilizou o cálice e a patena com os quais o bispo o presenteou. Ao final da missa o padre recebeu diversas homenagens. Uma mensagem do bispo emérito, dom Fernando Panico, também foi lida.
No discurso de agradecimento, o padre Vileci ressaltou a importância da comunidade em sua vocação. “Somente pode ser padre quem pertence a uma comunidade cristã. Sem comunidade não há sacerdote. O padre é obra de comunidade cristã viva que o coloca como presidente da assembleia para que ela possa funcionar bem. A função deste presidente é bem articular. Ele não deve entender-se e comportar-se como um mestre, mas como servidor de todos, e seu direito de tomar decisões é totalmente devido à sua participação na função diretiva que o espírito de Deus tem na comunidade. O sacerdócio está ligado ao sacrifício de Cristo que é celebrado na comunidade, pois toda comunidade é Jesus Cristo vivo”, disse.
O menino simples, com sonhos grandes, cresceu, tornou-se padre e com 25 anos de sacerdócio acompanha a implantação do reino de Deus através de sua doação de vida, trazendo Jesus para o meio do povo.
Experiência marcante
Com um sacerdócio marcado pela espiritualidade das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), a vida missionária do padre Vileci mostra uma forte ligação com os leigos, isso desde o início quando, por exemplo, antes de sua ordenação, as comunidades de Porteiras, sua cidade natal, fizeram uma pré-missão assumindo, juntos com ele, o sacerdócio. Isso reflete em sua vida e na do povo até os dias atuais. “Nós estamos aqui diante do altar do Senhor, vivenciando esse momento de ação de graças de uma vocação que nasce no berço da comunidade. A vocação do padre Vileci é uma vocação fortalecida na missão e hoje há toda uma identidade com nós leigos”, disse Geysa Grangeiro que esteve presente na ordenação sacerdotal do padre.
Nos anos de missão o que mais marcou seu sacerdócio foram os anos em que ele esteve na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, de Juazeiro do Norte, conhecida por estar localizada em um bairro periférico do município. Nesta região o padre fez do pedido pela paz seu constante discurso, o que incomodou alguns que pensavam o contrário. A situação fez com que em uma noite, do ano 2003, algumas pessoas, envolvidas em uma gangue, invadissem a Igreja Matriz. Lá só estava o vigia, conhecido pelo nome de Senhor José, que ao reagir à ação dos invasores foi morto a facadas.
Em busca de fazer justiça pelo ocorrido, padre Vileci convocou diversas caminhadas e outras atividades, intensificando ainda mais sua luta pela paz. Tempos depois um dos assassinos foi morto, em uma briga de facções, e o padre Vileci, que ainda estava na paróquia, foi a casa dele e fez a encomendação do corpo, transmitindo um dos maiores ensinamentos de Jesus Cristo: a misericórdia.
“Como sacerdote não temos medo da morte. Nada disso me incomodou, me trouxe medo. Fiquei pensando que a espiritualidade do martírio faz parte da vida do padre porque se a gente não tem essa espiritualidade martirial a gente não tem o sabor de sentir o martírio de Jesus, que está ligado a essas questões que vem como consequência da evangelização. Se formos lembrar São Paulo, diríamos que isso foi a coroa e a coroa de São Paulo é o martírio. Podemos chegar a isso sem buscar, como consequência de nossa vida de missão no sacerdócio”, disse padre Vileci sobre o fato.
Missão
Nascido no dia 14 de março de 1964, padre Vileci é o segundo dos quinze filhos do casal Luiz Vidal da Luz e Raimunda Xavier da Luz (in memoriam). Ingressou no Seminário em fevereiro de 1982, sendo ordenado diácono em 15 de agosto de 1992 e sacerdote no dia 16 de janeiro de 1993, sob a imposição das mãos de dom Newton Holanda Gurgel. Seu lema sacerdotal é “E o verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14).
Ao longo dos 25 anos de sacerdócio, o padre exerceu o ministério nas paróquias São Pedro (Caririaçu), São Sebastião (Nova Olinda), Nossa Senhora da Penha (Campos Sales), Nossa Senhora Aparecida (Juazeiro do Norte), São João Bosco (Juazeiro do Norte), Santa Teresa (Altaneira) e Nossa Senhora das Dores (Assaré). Realizou, com maestria, o trabalho de coordenador do 13º Intereclesial das CEBs, sediado, em janeiro de 2014, pela diocese de Crato.
Padre Vileci também foi vigário das foranias II e V. Implantou a celebração da colheita junto aos camponeses da forania V e a Romaria das Comunidades ao Caldeirão do Beato José Lourenço. Também foi membro da Cáritas diocesana e do Fórum Araripense de Combate a Desertificação.
No regional NE 1, foi coordenador da Comissão Pastoral da Terra.

Atualmente está como coordenador diocesano de pastoral. É membro do Conselho Presbiteral e do Colégio de Consultores da diocese de Crato. Faz parte do Conselho Episcopal do Regional NE 1, do Conselho Estadual da Pastoral da Terra, da Ampliada Nacional e da Articulação das CEBs, sendo também professor no Seminário Diocesano São José. Ele também está como assessor nacional das CEBs do Brasil.
Além dos cursos de filosofia e teologia, padre Vileci é bacharel em direito, pela Universidade Regional do Cariri, pós- graduado em Educação e Diversidade Camponesa, pela Universidade Federal de Goiás, e metre em Desenvolvimento Regional Sustentável, pela Universidade Federal do Cariri.
Por: Jornalista Patrícia Silva (MTE 3815/CE)