Missão em Questão

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“É missão de todos nós Deus chama, eu quero ouvir a sua voz!” (Zé Vicente).

A partir dessas inspiradoras e proféticas palavras de Zé Vicente que é poeta, cantor e amigo das comunidades, queremos ressaltar a importância da missão na vida do cristão. A missão também pode ser entendida através do chamado de Deus a proclamarmos a Boa Nova e a motivar itinerários de fé transformadores. Há várias pistas de meditação e de ação para levarmos a bom termo a missão que é tarefa de todo cristão batizado e cônscio de ser testemunha do Cristo Ressuscitado:

“A Igreja é chamada a repensar profundamente e a relançar com fidelidade e audácia sua missão nas novas circunstâncias latino-americanas e mundiais […]. Trata-se de confirmar, renovar e revitalizar a novidade do Evangelho arraigada em nossa história, a partir de um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, que desperte discípulos e missionários. Isso não depende tanto de grandes programas e estruturas, mas de homens novos que encarnem essa tradição e novidade, como discípulos de Jesus Cristo”. (DOCUMENTO DE APARECIDA, 2007, n. 11, p. 13).

As Paróquias, entendidas como rede de comunidades, são chamadas a irem ao encontro das pessoas em suas necessidades, sobretudo, nas “periferias existenciais”. Expressão tão cara ao Papa Francisco em seu pontificado ao demonstrar o rumo para o qual a Igreja é convidada a se dirigir na atual demanda pastoral. A missão exige não só deslocamento físico, há que ter encontro e testemunho cristão. O resgate da filiação divina procedente do Batismo não é para encastelar-nos em limites geográficos paroquiais, nem tampouco de cairmos na tentação do comodismo através do catolicismo de censo[1]. Esse tipo de mentalidade reducionista serve de base para justificar a “pastoral de conservação”, ou seja, está tudo “bem” para que missão? Existem ainda muitas pessoas que vão para as celebrações religiosas esporadicamente em função: a) Sacramento de algum amigo da família; b) Encerramento anual da novena do padroeiro da Paróquia de origem ou de vínculo afetivo; c) Missa de falecido da família ou de um amigo. São momentos fortes, celebrativos, porém, somos convidados a transcender a lembrança afetiva, evento social ou de solidariedade cristã!

Esses eventos mencionados acima devem nos ajudar a tornar nossa fé mais madura e comprometida com os desafios oriundos do Evangelho. Deus nos pede algo mais, pois nos potencializou do que tem melhor. Nesse horizonte a comunidade pode ser canal de retomada da experiência do amor de Deus que vai além das obrigações básicas do cristão em tempos litúrgicos específicos.

É nesse panorama desafiador que colocamos a missão em questão para lançarmos a importância da mesma na vida cristã. Os cristãos são motivados a participarem ativamente da Igreja? Com a liderança do Papa Francisco, a Igreja tem efetivado um pouco mais a dimensão missionária. Não estamos falando de grandes projetos missionários, é de fato o aspecto da ternura que vem do Evangelho a ser assumido e anunciado pela Igreja, que é continuadora do anúncio da Palavra de Deus, e que ajuda a libertar a pessoa humana integralmente.

Ao acolhermos com empatia o povo que vem à Igreja é um bonito testemunho que motiva o engajamento de futuros missionários. O Papa Francisco chama a atenção para a linguagem do coração, ou seja, somos pecadores chamados a voltar ao amor primeiro. Sem com isso perguntar o que fez ou deixou de fazer. Cada um na doação do que tem de melhor: o coração precisado de perdão, cura e de acolhimento. A partir disso, a comunidade se torna berço de bonitas experiências de fé enraizadas na vida concreta de cada dia. Não é utopia. É itinerário de acolhida com a efusão do Espírito Santo que conduz a Igreja peregrina neste mundo.

Cada cristão é chamado a realizar a missão segundo sua natureza específica (povo sacerdotal / sacerdócio ministerial). É um convite a manifestar aos confins do mundo o ser missionário. Deixar nossa voz ser ouvida a tantos quantos não têm seus direitos básicos respeitados faz parte da missão cristã.

Em tempos atuais refletimos a missão do ponto de vista da Igreja para dentro e seu impacto nos corações das pessoas. Que postura de humildade! Provoca-nos e chacoalha nossa visão às vezes cômoda ao falarmos que o mundo “mudou” e tantas outras falas que carecem de um pouco mais de nós enquanto partícipes desse mundo na promoção da missão que não é meramente deslocamento físico. Consiste em tomarmos consciência da reconstrução de um mundo novo à luz da Boa Nova.

Cada vez mais se fala das Santas Missões Populares (SMP). “As SMP são um tempo especial de bonita vivência eclesial, fortalecendo o sentido de pertença e da própria identidade eclesial.” (SANTAS MISSÕES POPULARES, 2005, p. 28). Esse projeto tem muita eficiência em cidades pequenas. Nos centros urbanos é mais desafiador e precisa ser mais bem aperfeiçoado. As Santas Missões Populares envolvem as seguintes etapas: pré-missão (levantamento da realidade social, religiosa, de onde se vai efetuar a missão e a formação dos missionários); missão (missionários nas visitas domiciliares, pontos comerciais e demais instituições); pós-missão (avaliação da missão, levantamento das demandas suscitadas, articulação e formação ampliada da Equipe Missionária Paroquial). É de bom tom, depois de alguns meses ou período significativo da missão realizada, que os missionários voltem para reforçar a articulação da Equipe Missionária formada.

Referências Bibliográficas

ANTONIAZZI, Alberto. Por que o panorama religioso no Brasil mudou tanto? 2004.

Documento de Aparecida. Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. São Paulo: Paulinas. 2007.

Santas Missões Populares: Querermos ver Jesus Caminho, Verdade e Vida. 3ª ed. São Paulo: Paulinas. 2005.

 

OBS. Aprofundamento da temática: veja o Artigo Científico redigido por mim. Instituto Católico de Estudos Superior do Piauí (ICESPI). No link: http://www.revista.icespi.com.br/.

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Sobre o autor:

GILBERTO SIQUEIRA ALVES, OFMCap – Frade Capuchinho e Presbítero da Província São Francisco das Chagas do CE-PI. Atualmente, Vigário Paroquial na Paróquia São Francisco das Chagas e Administrador do Centro de Romeiros São Francisco em Juazeiro do Norte-CE; Fazendo o Curso de Conciliador/Mediador Judicial pelo Tribunal de Justiça do Estado do Ceará; Acadêmico de Direito – Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU); Pós-Graduando em Psicopedagogia Clínica e Institucional – Faculdade Plus (FAP); Pós-Graduado em Gestão, Coordenação e Supervisão Educacional – Faculdade Plus (FAP); Pedagogia Catequética – Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO); Acompanhamento Espiritual Franciscano – Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (ESTEF); Docência do Ensino Fund., Médio e Superior – Faculdade Montenegro (FAM); Licenciatura em Filosofia – Faculdade Evangélica do Meio Norte (FAEME); Bacharelado em Teologia – Faculdade Católica de Fortaleza (FACAP). Publicou os livros: A pedagogia da Iniciação Cristã com Adultos (Editora Nova Aliança); Itinerário Catecumenal e Maturidade Cristã (Editora Vozes). Têm Artigos Científicos publicados.

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[1] “No Brasil, até os anos 70 (século XX), parecia um País católico, onde a religião católica não era só a da maioria, mas quase monopolizava crenças e atitudes religiosas. Do Censo de 1980 registrou, pela primeira vez na história do Brasil, uma porcentagem de católicos inferior, embora de pouco, a 90%. Como vimos, tal porcentagem diminuiu nos Censos seguintes: 83,3% em 1991 e 73,9% em 2000.” (ANTONIAZZI, 2004, p, 10).

 

 

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