Minha experiência com Maria #ep5: “Ainda sinto os olhos marejarem cada vez que ouço Maria de Nazaré”

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A primeira lembrança que tenho da devoção à Virgem Maria é de minha saudosa mãe cantando um piedoso hino de súplica, ao lado do fogão de lenha, enquanto preparava o café da manhã. Na idade adulta, fiquei sabendo que aquele cântico era muito usado para consolar os agonizantes na proximidade da morte e para acompanhar as “sentinelas” dos já falecidos. Até hoje, quando passo por momentos de provação, lembro-me de algumas linhas que diziam: “Sem tardar, vem doce Maria/ Vem Mãe pia me amparar (bis). Brilha já, do mar Pura Estrela, que a procela escura está; Teu olhar é luz que nos guia e alumia o navegar…”. Essas estrofes foram as últimas palavras que, em meu coração, cantei para a minha mãe ao visitá-la no hospital poucos dias antes de ela partir para a vida eterna.

O mês de maio, por ser dedicado aos exercícios devocionais marianos, sempre me remete aos anos áureos da infância e às minhas primeiras experiências com a piedosa devoção à Santíssima Virgem tão difundida entre nós católicos.

Cresci numa pequena comunidade rural encrustada no sopé da Chapada do Araripe. Por ser local de difícil acesso, principalmente no período chuvoso, a capela dedicada a Santo Agostinho passava longos meses sem ter a graça da celebração eucarística. Apesar disso, os moradores reuniam-se todos os dias, às 18h, para meditar o Rosário, seguido da leitura do Evangelho. Lembro-me, inclusive, que, no mês de maio, havia um exercício mariano próprio e os fiéis organizavam uma procissão durante a qual depositavam ramos de flores silvestres aos pés da Imagem de Nossa Senhora, colocada numa pequena mesa, em frente ao altar, entoando este hino: “Dai-me licença, Senhora, uma festa vou fazer, estas flores que há em maio nós desejamos colher (bis). Neste Mês de alegria tão lindo, mês de flores, queremos, de Maria, celebrar os teus louvores (bis). Dos ramos mais viçosos, queremos em seu altar, um hino harmonioso vamos lhe hoje cantar (bis). Tem flores e lindos cantos esta mesma estação, de Maria os encantos que cativa o coração (bis)”. As crianças competiam entre si para ver quem conseguiria encontrar, nos jardins e campos silvestres, as flores mais bonitas e vistosas.

Nossa capela também possuía uma vitrola e muitos discos de vinil do padre Zezinho, cujas canções, além de belas melodias, formavam a nossa devoção filial pela letra catequético-teológica que somente ele sabia compor. Minha infância foi embalada por esses cânticos. Hoje, aos 38 anos de idade, dos quais oito deles são dedicados ao ministério sacerdotal, ainda sinto o coração acelerar e os olhos marejarem cada vez que ouço “Maria de Nazaré”.

Do mesmo modo, nossa pequena cidade, edificada sob a proteção patronal de Nossa Senhora da Conceição, realizava intensos exercícios devocionais marianos no mês de maio que incluíam a peregrinação da Imagem da Padroeira por todas as comunidades rurais. As famílias a recebiam por um breve período em suas casas, reunindo-se na sala, onde rezavam um mistério do Terço e ofertavam uma pequena quantidade de alimento como donativo ou esmola, depois acompanhavam a Imagem até a casa seguinte. O trajeto entre uma casa e outra era feito geralmente no sábado, acompanhado de fogos de artifícios, cânticos marianos, algumas mulheres e muitas crianças.

Esses atos celebrativos, vividos na infância, muito me ajudaram no período da formação sacerdotal no Seminário São José. Todas as noites, depois do jantar e antes de rezar a liturgia das Horas, eu recitava o Santo Terço caminhando em frente ao Casarão. Também passei a pesquisar sobre Mariologia para descobrir por que a Igreja sempre viveu a devoção filial à Maria Santíssima.  Tudo isso me fez ver o quão importante é, na vida de um cristão, compreender o papel de Maria no projeto de salvação de Deus e quão relevante é cultivarmos a proximidade filial, para vivermos o mesmo privilégio de nosso redentor, Jesus Cristo, de tê-la por Mãe a Obra Prima da Criação.

Padre Paulo Sérgio Silva, sacerdote da Diocese de Crato, Ceará

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