HOMILIA DO DOMINGO DE RAMOS DA PAIXÃO DO SENHOR – ANO A

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A GLÓRIA DE DEUS SE FEZ AMOR NA CRUZ

Humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz.” (Fl. 2, 8)

No último Domingo da Quaresma, somos colocados às portas de Jerusalém e consequentemente às portas do “Tríduo Pascal”.  A “Semana Santa” constitui o centro do ano litúrgico e seus ritos recordam o núcleo da fé cristã (Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor). Como uma fonte de onde se origina a água que alimenta todos os rios, do Tríduo Pascal emana toda a espiritualidade cristã. Assim sendo, a Palavra nos leva a contemplar Deus que em seu amor de Pai, envia seu Filho ao nosso encontro. O Salvador partilha a nossa condição humana, faz-se servo e oferece a própria vida para vencer definitivamente o mal e o pecado. A cruz, que ao longo de trinta três anos de vida terrena foi aos poucos se fazendo presente no caminho e na vida de Jesus, agora se revela concretamente enquanto nos ensina o ápice do amor divino e humano: a doação da vida.

Na primeira leitura (Is. 50,4-7), o profeta Isaías narra a missão de um servo anônimo que foi chamado por Deus para testemunhar à humanidade sua Palavra de salvação. Podemos discernir no texto três pontos que merecem nossa atenção: 1) Embora não lhe seja dado o título de profeta, é óbvio que este servo anônimo recebeu a vocação profética uma vez que sua missão está ligada inseparavelmente ao anúncio da palavra de Deus. Mesmo sabendo dos desafios e consequências da vocação, ele não coloca obstáculos e nem opõe resistência ao anúncio da Palavra. 2) Sofrimento, angústia e dor acompanham sua missão. É vontade de Deus que seus servos sofram? De modo algum! No entanto, em um mundo marcado pelo pecado, todo aquele que responde e dispõe a ser instrumento de Deus, acabará por sofrer perseguição. 3) A confiança Naquele que o chamou (2Tm. 1,12). A convicção de que Deus o acompanha fortalece o profeta/servo e o torna incólume ante as perseguições e malefício tramados contra ele.

Apesar do sofrimento, calúnias, torturas e perseguições ao longo de sua missão, o profeta permanece confiante ante os desafios. Porquê?  Porque confiou em Deus e aprendeu que Ele jamais abandona aqueles a quem chamou e que permaneceram na fidelidade a sua missão. Este servo anônimo, com sua fé e confiança, representa a fidelidade à aliança com o Deus de Israel e incentiva o povo a perseverar na fidelidade diante das perseguições e esperar a ação divina. Os primeiros cristãos aprenderam a enxergar neste “servo” o anúncio da missão e dos acontecimentos da Paixão de Jesus Cristo.

Na segunda leitura (Fl. 2,6-11), o Apóstolo Paulo, por meio de um hino cristológico que era cantado nas celebrações litúrgicas pelas primeiras comunidades cristãs, apresenta-nos o exemplo de Cristo. O texto apresenta o caminho controverso e os diferentes frutos produzidos pelo orgulho (Adão) e a humildade (Cristo). O orgulho humano que reivindica para si a existência divina acaba por precipitar toda a humanidade numa queda vertiginosa (Gn. 3,1-24 / Is. 14,12-17). Cristo, que em obediência ao Pai, assume a condição humana sem renunciar sua essência divina, em sua humildade realiza a santificação/divinização humana.

Ao encarna-se assumindo a condição humana, o Filho de Deus renunciou o orgulho e a arrogância (raízes do pecado) e livremente escolheu permanecer obediente aos planos de Deus Pai, servindo a humanidade, até a doação da própria vida. A “kénosis” (esvaziamento/rebaixamento/despojamento/aniquilamento) leva a renúncia de glórias humanas, honrarias, status social, bens materiais e conduz a busca para doar-se pelo bem do próximo. É esse mesmo caminho de vida que todos aqueles que carregam o honroso nome de cristãos devem livremente seguir.

O Evangelho (Mt. 21,1-11/ Mt. 27,11-54) da liturgia de hoje, dividido em duas partes, apresenta dois períodos da conclusão da vida e missão de Jesus Cristo. No primeiro momento, na procissão de entrada em Jerusalém, evoca a vitória do Rei Davi sobre os filisteus, situação que provocou inveja no Rei Saul e levou o povo a aclamá-lo como seu salvador. Assim como aconteceu com Davi, Jesus é acolhido e aclamado pelo povo e pelos discípulos e ao mesmo tempo é rejeitado pelos líderes políticos e religiosos. Sua entrada na cidade, montado em um jumentinho e acompanhado pelos pobres revela a mensagem do Messias que veio humildemente realizar o Reino de Deus.

A mudança repentina que transforma rapidamente a aclamação jubilar na entrada de Jerusalém em gritos odiosos de condenação e crucificação revelam a instabilidade do coração humano e como podemos nos tornar volúveis, voláteis e frívolos.

No segundo momento temos a narração da Paixão do Senhor. As diferentes ações realizadas por Jesus revelam que ele morreu como viveu: com confiança em Deus Pai e com misericórdia e compaixão para com a humanidade. O Serviço na Ceia, a Oração Sacerdotal pelos discípulos, a Oração Confiante no Getsêmani, a consolação às mulheres a caminho do Calvário, o perdão ao ladrão arrependido, a entrega da própria vida na cruz, a confiança plena ao entregar seu espírito ao Pai, revelam o coração do Deus humanado que é capaz de renunciar seu bem mais precioso para salvar aqueles que ama.

Esquecido por aqueles a quem tanto ajudou, perseguido e caluniado por aqueles que o rejeitaram desde sempre, Jesus Cristo permanece confiante na conclusão de sua missão. Assumindo nossa condição e carregando sobre seus ombros e sua vida a nossa “Cruz”, Jesus enfrenta e vence os mais profundos desafios da existência humana vivida sem Deus: a Dor, o Sofrimento, a Solidão e a Morte. O salmo meditado na liturgia de hoje provavelmente foi rezado integralmente por Cristo enquanto padecia na solidão da cruz, manifesta a atitude de Jesus de permanecer em sua entrega confiante a Deus, mesmo quando se torna incapaz sentir sua presença e comunhão no momento que mais necessita.

E Ele morreu como viveu: imerso em confiança em Deus e em atitude de compaixão para com a humanidade.

Assim, a Palavra de Deus convida a refletir sobre a conclusão e o ápice de uma vida feita dom e serviço pela salvação da humanidade. Na cruz, a humanidade compreende enfim que o amor de Deus não conhece limites. Será que compreendemos a responsabilidade e exigência de seguir Jesus Cristo?  Enxergamos as cruzes ao longo de nossa estrada de vida e as pessoas crucificadas nelas? Para onde nossa vida está nos conduzindo? Com nossa vida, afirmamos que Jesus Cristo é verdadeiramente o Filho de Deus?

Pe. Paulo Sérgio Silva.

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.

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