HOMILIA DO 7º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

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SER DISCÍPULO É VIVER A MISERICÓRDIA DO PAI

Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso.” (Lc 6,36)

A liturgia deste domingo se trata da continuação dos ensinamentos dados por Jesus Cristo durante o Sermão das Bem-aventuranças. Com traços semelhantes ao Decálogo de Moisés, são apresentados conselhos, exortações e proibições que visam orientar a vida daqueles que decidiram viver os valores do Reino de Deus e permanecer caminhando com o Mestre. Assim, tendo como parâmetro ou modelo a misericórdia divina, as exortações proferidas por Jesus exigem de seus discípulos a prática e a vivência do amor sem limites, mesmo para com os inimigos. Os cristãos no mundo devem semear a lógica do amor substituindo a erva daninha da lógica da violência, do pecado e do mal. Por isto que o perdão, a misericórdia e o amor surgem como temas centrais, hoje, no discurso de Jesus Cristo.

A primeira leitura (1Sm 26, 2.7-9.12-13.22-23) narra um fato ocorrido com Davi, no período em que ele, devido a uma rivalidade política, estava sendo perseguido pelo rei Saul. Abisai, o fiel escudeiro que acompanha Davi, com sua lógica bélica e vingativa, representa um mundo guiado pelo código de Talião ou Hamurabi (Ex 21,16-24; Lv 24,19-21; Dt 19,21). A resposta que Davi oferece diante da oportunidade de eliminar Saul, apresenta um coração nobre e benigno. Ele escolhe perdoá-lo ao mesmo tempo em que reconhece que a vida e a justiça pertencem a Deus e a seus desígnios. O fato narrado nos faz compreender porque o povo de Israel enxerga Davi como seu rei mais benevolente, fiel a Deus e recebedor da promessa messiânica. O perdão é apresentado como a única força capaz de pôr fim ao círculo vicioso da violência e guerra.

Na segunda leitura (1Cor 15, 45-49), o Apóstolo Paulo continua a catequese sobre a ressurreição, iniciada nos domingos anteriores. Aqui ele utiliza-se do seu famoso paralelo entre o homem terreno (Adão) e o homem celeste (Cristo). O Apóstolo ao falar da alegoria dois “homens”, nos faz compreender que o primeiro “Adão” por escolher construir sua história fora dos planos divinos, levou a humanidade a afastar-se da graça e trilhar caminhos de autodestruição. O Segundo “Adão” (Jesus Cristo) por construir sua vida e missão através do amor a Deus e ao próximo, nos lembra que os caminhos da justiça e da paz são as estradas por onde somos conduzidos para a vida plena que Deus nos reserva no futuro. Esta alegoria está implícita na primeira leitura e é manifestada através das atitudes diferentes tomadas por Abisai (homem terreno) e Davi (homem celeste).Trazemos em nós, os traços destes dois homens. A catequese de hoje nos questiona sobre qual deles deixaremos guiar nosso coração. O homem guiado pelo ódio, pecado e vingança? Ou o homem que vive o perdão, a benevolência e o amor?

No Evangelho (Lc 6,27-38), durante Sermão das Bem-aventuranças e continuando a apresentação do seu projeto de vida, Jesus permanece apresentando as exigências para seu discipulado: um coração aberto para amar, para perdoar, para acolher e para servir a todos sem distinção.

Em meio a missão, aos milagres e a crescente fama, havia um risco muito grande de um “encantamento”. Os discípulos poderiam facilmente fechar-se em um círculo privilegiado e formar uma nova “casta” na sociedade contemporânea a Jesus.

Jesus percebe isto e deixa claro que mais do que uma numerosa multidão de curiosos ou interesseiros, desejava verdadeiros discípulos que estivessem dispostos a edificar o Reino de Deus. Logo, os seus discípulos deveriam ser diferentes dos fariseus e mestres da lei – praticantes da Palavra por conveniência (Tg 1,22-27) e fazer da sua vida uma continuação da compaixão e misericórdia que eles viram em prática na vida de Jesus Cristo. Não é suficiente amar apenas a própria família, apenas o próprio grupo social, da própria raça, do próprio povo, partido, igreja ou clube de futebol. O amor cristão trata-se de um amor sem discriminações e sem limites que leva os discípulos a enxergar em cada ser humano – mesmo no inimigo – um irmão ou irmã. Há aqui um aprofundamento dos ensinamentos iniciados com as bem-aventuranças. O amor é colocado no centro como coração do Evangelho.

Os ensinamentos contidos no evangelho de hoje constituem o que podemos chamar de a regra de ouro para o caminho do discipulado. Amar os inimigos, amar aquelas pessoas que nunca irão retribuir o bem que lhes fizermos, se apresenta como um verdadeiro desafio para todos os cristãos e qualquer outro ser humano. Não julgar e não condenar ninguém – uma vez que em tempos de redes socias e notícias falsas, os julgamentos e condenações apressadas estão cada vez mais comuns – se trata de um reconhecimento da autoridade de Deus, a quem compete o julgamento da humanidade unicamente. Jesus Cristo lembra que o Pai ao julgar sempre se utiliza de Misericórdia, oferecendo ao pecador e penitente uma oportunidade de conversão e redenção (Ez 18,32; Ez 33,11).

O verdadeiro discípulo deve fazer de sua vida a expressão da benevolência do próprio Deus. As exortações que se seguem no discurso de Jesus traçam o perfil e o coração do verdadeiro discípulo. O autêntico discípulo deve estar disposto a: amar os inimigos, falar e fazer o bem, não odiar, rezar por quem o persegue, não julgar e viver a Caridade. Tudo isto tendo como modelo a misericórdia do próprio Deus (Lc. 6,36).

O cristão, como alter Christus (outro Cristo), ou seja, como manifestação atualizada da presença de Jesus, não ignora a presença do mal, contudo não se deixa influenciar pela lógica maléfica e permanece fiel ao compromisso de construir a paz e alcançar o bem comum. Pois, independentemente do passar do tempo, a ética, a moral e os princípios cristãos sempre incluirão o perdão, o diálogo, a justiça e a construção da paz.

No dia 19 deste hodierno mês, recordamos o início do ministério episcopal do Bispo, Dom Frei Magnus Henrique Lopes O.F.M.  aqui em nossa Diocese. Como seus filhos e fiéis, rezemos intercedendo por ele ao mesmo tempo em que rezamos pela saúde do Santo Padre, o Papa Francisco:

Ó Deus e Pastor do rebanho, nós vos agradecemos por todos os benefícios que tens concedido à nossa diocese. Voltastes, mais uma vez, o vosso olhar sobre nós, cumprindo a promessa de conceder ao vosso povo, pastores conforme o vosso coração (cf. Jr 3,15). Iluminai, pela ação do Espírito Santo, o pastoreio do nosso bispo, dando-lhe sabedoria e discernimento para conduzir o vosso povo na Diocese de Crato a fim de aquele que for eleito, confiando na assistência do vosso Espírito, responda com disponibilidade ao chamado, desempenhando com dignidade o seu ministério pastoral. A nós, seus fiéis diocesanos, concedei as virtudes da humildade e da obediência, para acolhermos bem aquele que nos enviastes. Assim, pastor e rebanho unidos pelo vínculo da caridade poderão se empenhar na edificação de uma Igreja viva, missionária e sinodal. Isso vos pedimos pela intercessão de Nossa Senhora da Penha, padroeira de nossa Diocese e de todos os padroeiros de nossas paróquias e comunidades. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém”.

Pe. Paulo Sergio Silva

Diocese de Crato.

 

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