HOMILIA DO 7º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO C

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SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR

Vós sereis testemunhas de tudo isto.” (Lc 24,48)

Ao longo de sete semanas acompanhamos Jesus Cristo, ressuscitado, preparando seus discípulos para dar continuidade a sua missão após o seu retorno ao seio da Trindade. A Solenidade que hoje celebramos afirma que na conclusão de uma vida vivida no amor e na doação está a comunhão plena com Deus. Jesus Cristo nos deixou este testemunho e somos nós, seus discípulos missionários, que devemos continuar a realizar o plano libertador e salvador de Deus para toda a criação.

Na primeira leitura (At 1,1-11), transcorridos 40 dias depois da Ressurreição, o livro Atos dos Apóstolos, narra, de forma resumida e em tom de despedida, os acontecimentos da missão salvífica do Senhor Jesus Cristo. A pergunta feita pelos discípulos (“Senhor, é agora que vais restaurar o Reino de Israel”? v.6) mostra uma comunidade ainda presa na idéia de messianismo puramente político. A resposta oferecida por Jesus almeja levá-los a compreensão de que sua missão nunca foi restaurar o reino de Israel, mas instaurar/implantar o Reino de Deus, isto é, tornar possível aquela condição existencial de realidade salvífica desejada por Deus, não apenas para o povo de Israel, mas para todos os povos da terra. Ao mesmo tempo é anunciada a vinda do Espírito Santo que fortalecerá os discípulos a fim de que eles realizem o testemunho evangelizador “até aos confins do mundo”. Aos discípulos, que contemplam o longínquo horizonte enquanto o Senhor ascende aos céus, surge o convite para fugir do comodismo que leva a ficar à espera do retorno de Jesus Cristo de forma inerte e dormente espiritualmente. Pois, sua missão é continuar o anúncio do Reino de Deus para toda a humanidade.

Na segunda leitura (Ef 1,17-23), São Paulo, enquanto reafirma dados essenciais da fé cristã, realiza uma oração de ação de graças onde expressa a indissolúvel união entre Cristo e sua Igreja. Deste modo, convida os discípulos a serem conscientes da esperança a que foram chamados na sua missão. Ao afirmar que Cristo é a “cabeça” da Igreja, São Paulo, revela que há entre os dois uma comunhão tanto de vida como de destino. Cristo/Cabeça é o eixo em torno do qual a Igreja /Corpo cresce, se orienta e constrói o Reino de Deus. Ele é ainda a origem, o fim e a razão da existência deste Corpo/Igreja. Os cristãos devem caminhar rumo ao Reino de mãos dadas como membros do mesmo corpo mantendo assim a comunhão com Cristo, que é a “cabeça” desse “corpo”. Cristo habita no seu “corpo” que é a Igreja; e é nela que Ele se torna hoje presente atualizando a salvação do mundo e para o mundo.

No Evangelho (Lc 24,46-53), quarenta dias após a Ressurreição, Jesus realiza mais uma aparição aos discípulos, os exorta a vencer a desilusão, comodismo e o medo e envia-os em missão, como testemunhas da salvação de Deus. Nas suas palavras finais Jesus realiza uma última catequese sobre como a sua Paixão Morte e Ressurreição sempre foram parte do plano salvífico de Deus. A presença física do Senhor Ressuscitado não se fará mais presente, todavia sua ação consoladora e salvífica permanecerá através do Espírito Santo derramado em seus corações (Rm 5,5).

As palavras do Senhor revelam que a presença/anúncio desta salvação no mundo acontecerá, a partir de agora, através das ações dos discípulos de Jesus. Começando por Jerusalém e em seguida indo ao mundo inteiro, os discípulos deverão anunciar a conversão (mudança de mentalidade e de coração) e o perdão realizado na cruz. Todavia, antes de peregrinar pelo mundo, a comunidade deve permanecer unida tanto física como espiritualmente à espera do Paráclito/Espírito Santo que se tornará a vida da própria Igreja. O Mestre anuncia que uma vez revestidos pela “força do alto”, eles vencerão a injustiça e a opressão, pois “expulsarão os demônios em meu nome”, serão anunciadores da paz e sabedoria, visto que “falarão novas línguas”, levarão a esperança e a vida plena a todos os que sofrem vítimas da doença e do sofrimento porque “quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”. Estas coisas confirmarão que em todos os momentos, Jesus permanecerá com eles, ajudando-os a vencer as perseguições.

Lucas encerra sua descrição do momento com três ações ou atitudes. Jesus lhes confere a última bênção revelando um dom divino que habilitará os discípulos para a difícil de missão de evangelizar o mundo. Os discípulos realizam um ato de adoração que demonstra uma comunidade já consciente da divindade de Jesus Cristo. E por último surge a alegria que se torna presente na vida dos discípulos pela certeza de estarem vivendo a vontade de Deus. O tema da alegria é central nos textos compostos por São Lucas porque para ele, a alegria é o mais evidente sinal messiânico e escatológico da missão de Cristo. A alegria que toma conta do coração da comunidade consciente de sua salvação indica que o mundo novo já iniciou e o Reino de Deus já foi instaurado.

Por isto, esta solenidade é motivo de inenarrável alegria para nós! Cristo ascendendo ao céu leva consigo nossa humanidade! Pois, Aquele que hoje sentou-se à direita do Pai é o Filho eterno feito homem! Ele é um de nós! Verdadeiramente hoje, a nossa humanidade foi colocada acima dos Anjos! O Verbo divino, que foi reclinado no presépio, erguido na cruz e depositado no sepulcro, hoje, como homem, foi colocado acima dos anjos, à Direita do próprio Pai! Alegremo-nos e exultemos, pois onde já está o Cristo, nossa Cabeça, estaremos um dia todos nós, membros do seu Corpo! Eis a nossa mais profunda esperança: temos um Irmão nosso à Direita do Pai, intercedendo por nós!

Na certeza de que nosso caminho nos leva a anunciar o Evangelho para que todos possamos estar um dia onde Jesus Cristo já se encontra, permaneçamos atentos a nossa missão, a missão da Igreja. Perseveremos! Experimentemos, Anunciemos e Testemunhemos a presença do Senhor na sua Palavra, na sua Igreja, nos seus Sacramentos e na sua Comunidade reunida até o dia em que seremos plenamente unidos e reunidos com a Santíssima Trindade em sua glória.

Padre Paulo Sérgio Silva

Diocese de Crato.

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