HOMILIA DO 7º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO A

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SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR

Eis que estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo.” (Mt.28,20)

Ao longo de sete semanas acompanhamos Jesus Cristo ressuscitado preparando seus discípulos para dar continuidade a sua missão após o seu retorno ao seio da Trindade. A Solenidade que hoje celebramos afirma que, na conclusão de uma vida vivida no amor e na doação, realiza-se a comunhão plena com Deus. Jesus Cristo nos deixou este testemunho e somos nós, seus discípulos missionários, que devemos continuar a realizar o plano libertador e salvador de Deus para toda a criação.

Na primeira leitura (At. 1,1-11), Lucas nos apresenta um panorama das comunidades cristãs dos anos 80 d.C. Se nas primeiras décadas a esperançosa expectativa da segunda vinda de Cristo serviu para alimentar a fé dos primeiros cristãos, agora esta mesma expectativa, alimentada pela frustração causada pela demora do seu retorno, causa grande crise eclesial. A instabilidade gerou dúvidas doutrinais, enfraquecimento da fé e levou a uma vida acomodada, medíocre e sem motivações para testemunhar o Evangelho. Este sentimento de frustração, inclusive, tem acompanhado as comunidades cristãs ao longo das eras e causado dificuldades na missão cada vez que desejamos outorgar para nós o direito de decidir quando acontecerá a plenitude do Reino de Deus.

Sendo assim, transcorridos 40 dias depois da Ressurreição, o livro Atos dos Apóstolos, narra, em tom de despedida, os acontecimentos conclusivos da presença física e salvífica do Senhor Jesus Cristo no interior de sua comunidade. A pergunta feita pelos discípulos (“Senhor, é agora que vais restaurar o Reino de Israel”? v.6) mostra uma comunidade ainda presa à idéia de um messianismo puramente político e limitado a um povo. A resposta oferecida por Jesus almeja levá-los a compreensão de que sua missão nunca foi restaurar o reino de Israel, mas, sim instaurar/implantar o Reino de Deus; realidade salvífica não apenas para o povo de Israel, mas para todos os povos da terra. Ao mesmo tempo nos é reforçado o anúncio que tem acompanhado-nos desde as semanas anteriores: a vinda do Espírito Santo que fortalecerá os discípulos a fim de que eles realizem o testemunho evangelizador “até aos confins do mundo”. Aos discípulos que contemplam o céu enquanto o Senhor é elevado, surge o convite para a fugir do comodismo que leva a ficar à espera do retorno de Jesus Cristo. Pois, sua missão é continuar o anúncio do Reino de Deus para toda a humanidade.

Na segunda leitura (Ef. 1,17-23), São Paulo, enquanto reafirma dados essenciais da fé cristã, realiza uma prece de ação de graças onde glorifica a Deus pela fé e pela caridade que a comunidade cristã de Éfeso tem testemunhado e ao mesmo tempo expressa a indissolúvel união entre Cristo e sua Igreja. Deste modo, convida os discípulos a ser conscientes da esperança a que foram chamados em sua missão. Ao afirmar que Cristo é a “cabeça” da Igreja, São Paulo, revela que há entre os dois uma comunhão tanto de vida como de destino. Cristo/cabeça é a “consciência/coração/vontade” que move a sua comunidade; Ele é o eixo em torno do qual a Igreja/corpo cresce, se orienta e constrói/planta o Reino de Deus. Ele é ainda a origem, o fim e a razão da existência deste corpo/Igreja. Afirmar que a Igreja é a “plenitude” de Cristo significa dizer que nela reside a “totalidade” da presença de Cristo. Ela é a morada onde Cristo sacramentalmente se torna presente no mundo. Deste modo é através desse “corpo/Igreja” que Cristo permanece atualizando todos os dias o seu plano de salvação para toda humanidade. Os cristãos devem caminhar rumo ao Reino de mãos dadas, como membros do mesmo corpo mantendo assim a comunhão com Cristo, que é a “cabeça” desse “corpo”.

Mateus escreve para uma comunidade vinda do judaísmo. Por isto, não é de se espantar que ele tenha escolhido colocar a figura da montanha como lugar de tantos momentos marcantes para a comunidade apostólica. A montanha enquanto lugar elevado e de encontro com Deus aparece várias vezes no Antigo Testamento. E no Novo Testamento não poderia ser diferente. Ela aparece como cenário no momento da tentação (Mt. 4,8), na entrega do “novo decálogo”, as Bem-aventuranças (Mt. 5, 1-12), na multiplicação dos pães (Mt. 14,23), no acontecimento teofânico da Transfiguração (Mt. 17,1) e na agonia que precedeu a Paixão (Mt. 26,36). A montanha da Ascenção permanece anônima ainda que o evangelista indique que sua localização geográfica fica na Galileia. A região da Galileia possuía grande afluência de pagãos advindos das mais diversa culturas e nacionalidades; e isto levava os judeus a desprezá-la. Foi nesta região que o Senhor viveu, foi lá também que Ele reuniu os primeiros discípulos (Mt. 4, 12-13). Ao colocar Jesus Cristo se despedindo da vida terrena em uma montanha da “Galileia dos pagãos”, Mateus revela-nos que a redenção bem como o seu anúncio tem como destino toda humanidade; judeus e pagãos devem receber a proclamação da salvação realizada pelo Filho de Deus em seu favor.

Assim sendo, no Evangelho (Mt. 28,16-20), quarenta dias após a Ressurreição, Jesus realiza mais uma aparição aos discípulos, os exorta a vencer a desilusão, comodismo, medo e envia-os em missão, como testemunhas da salvação de Deus. As palavras do Senhor revelam que a presença/anúncio desta salvação no mundo se faz presente através das ações dos Seus discípulos. Começando por Jerusalém e em seguida indo ao mundo inteiro, os discípulos deverão anunciar a conversão (mudança de mentalidade e de coração) e o perdão realizado na cruz. Todavia, antes de peregrinar pelo mundo, a comunidade deve permanecer unida tanto física como espiritualmente à espera do Paráclito/Espírito Santo, o Defensor que ao habitar o coração da comunidade apostólica, se tornará a vida da própria Igreja.

Esta solenidade é motivo de inenarrável alegria para nós! Cristo ascendendo ao céu leva consigo nossa humanidade! Pois, Aquele que hoje sentou-se à direita do Pai é o Filho eterno feito homem! Ele é um de nós! Verdadeiramente hoje, a nossa humanidade foi colocada acima dos Anjos! O Verbo divino outrora gerado do seio virginal, reclinado na manjedoura em Belém, acalentado e alimentado por Maria e José, que foi levantado na cruz e depositado no sepulcro, hoje, como homem, foi colocado acima dos anjos, à Direita do próprio Pai! Alegremo-nos e exultemos, pois onde já está o Cristo, nossa Cabeça, estaremos um dia todos nós, membros do seu Corpo! Eis por que nosso coração está em festa, nossa alma rejubila de alegria, e até nosso corpo no repouso está tranquilo; pois não haveis de nos deixar entregue à morte, nem vosso amigo conhecer a corrupção (Sl. 15,9-10). Eis a nossa mais profunda consolação: temos um Irmão nosso à Direita do Pai, intercedendo por nós!

Na certeza de que nosso caminho nos leva a anunciar o Evangelho para que todos possamos estar um dia onde Jesus Cristo já se encontra, permaneçamos atentos a nossa missão, a missão da Igreja. Perseveremos! Experimentemos, Anunciemos e Testemunhemos a presença do Senhor na sua Palavra, na sua Igreja, nos seus Sacramentos e na sua Comunidade reunida até o dia em que seremos plenamente unidos e reunidos com a Santíssima Trindade em sua glória.

Padre Paulo Sérgio Silva

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito

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