IGREJA: COMUNIDADE QUE AMA E GUARDA OS MANDAMENTOS DE JESUS
“Se me amais, guardareis os meus mandamentos, e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor […]. (Jo. 14,15)
Ao longo do tempo pascal temos acompanhado Jesus ressuscitado se fazendo presente na caminhada de sua comunidade apostólica. Estes encontros com o Senhor ressuscitado além de fortalecer a fé dos discípulos, serviram para consolidar em seus corações os valores do Reino, essenciais para a fidelidade ao anúncio do Evangelho. Jesus inicia sua despedida física e prepara os discípulos para vivenciar um novo tipo de presença permanente. Esta presença revela a comunhão trinitária. As nossas próximas celebrações litúrgicas – Ascensão e Pentecostes – anunciam novas etapas de crescimento para a fé cristã. A comunidade deverá manter-se em Unidade para ser promovedora da Paz.
A primeira leitura (At. 8, 5-8.14-17) revela a paulatina ação do Espírito Santo em conduzir a comunidade cristã afim de realizar o propósito da história da salvação. Assim como acontecera anteriormente onde uma divisão é sanada pelo Espírito fazendo surgir a “Diaconia” para que a Caridade mantenha a Unidade (At.6,1-7), hoje, em meio a crescente perseguição promovida contra a comunidade cristã de Jerusalém, o mesmo Espírito faz esta perseguição se tornar o início do anúncio do Evangelho para todas as nações começando a partir da Samaria. Esta ação do Espírito nos faz enxergar uma paráfrase de um popular ditado brasileiro: “Deus sempre escreve certo na história, apesar das linhas tortas que em nossa fragilidade, nós oferecemos a Ele.”
O texto possui duas partes que merecem ser refletidas e meditadas. Na primeira parte temos um relato da frutuosa atividade missionária do diácono Filipe. Membro do grupo dos sete primeiros diáconos, Filipe tem sua atividade permeada pela presença do Espírito Santo uma vez que realiza os mesmos sinais que Jesus realizou e que prometeu permanecer realizando através dos seus discípulos. Começam a surgir os primeiros sinais da presença do Reino e os samaritanos explodem em grande alegria. Nos escritos de Lucas a alegria é sempre utilizada como sinal da chegada do Messias. A segunda parte relata a visita missionária realizada por Pedro e João. De fato, a nova comunidade cresce com fervor, mas corre o perigo de fincar suas raízes na superficialidade por causa dos sinais espetaculares que presenciaram no início. Os apóstolos lhes impõem as mãos e eles recebem o Espírito. O anúncio do Evangelho realizado na Samaria – região considerada pagão pelos judeus e, portanto, indigna da salvação – revela o próximo e necessário passo na missão da Igreja Apostólica: o Evangelho deve chegar aos confins do universo, o mundo pagão deve ser evangelizado. Todavia, a comunidade não é um galho solitário, mas um ramo unido a videira. O Espírito somente permanecerá atuando se a comunidade aceitar viver a sua fé integrada numa família universal de irmãos – a Igreja – guiados pelo Espírito e reunidos em torno do Pai e do Filho, Jesus Cristo.
Na segunda leitura (1Pd 2,4-9) continuamos a ouvir o apóstolo Pedro a aconselhar e exortar as pequenas comunidades da Ásia a permanecerem confiantes dando testemunho da sua fé através do amor concreto, apesar das hostilidades crescentes que sofrem. Para isto, não podem perder de vista o Senhor, o Cristo Jesus que fez da sua vida um dom de amor a todos. Logo, os cristãos devem ser fiéis ao compromisso assumido no Batismo e permanecer dispostos a dar as razões da sua fé e da sua esperança, ou seja, testemunhar aquilo em que acreditam. E mesmo em face das ameaças, hostilidade e agressividade, o testemunho deve ser imbuído de sensível caridade, delicadeza, amabilidade, modéstia, respeito e fraternidade de modo que revele o amor por todos sem exceção – até mesmo pelos seus perseguidores (Cf: Mt.5,43-48). Afinal se Cristo ofereceu a todos a salvação, sua comunidade – a Igreja – não pode se furtar desta missão. Os cristãos, como Jesus, devem permanecer fazendo o bem e dando sua vida para que o Reino de Deus aconteça. Todavia, devemos também contemplar uma vergonhosa constatação: ao analisar nossa voracidade nas redes sociais, em nossos dias, nós cristãos aparentemente estamos mais propensos a pegar em tochas de fogo do que a lavar os pés uns dos outros.
No Evangelho (Jo 14,1-12) continuamos acompanhando partes do “testamento espiritual” de Jesus, que na última ceia, ele oferece a sua comunidade. Diante do anúncio da paixão iminente, os discípulos sentem-se desconcertados e inquietos. Jesus promete-lhes o “Paráclito”. Será este Defensor que conduzirá a comunidade cristã pelo caminho da verdade e caridade, enquanto aprofunda sua comunhão com Jesus e com o Pai.
Jesus define o caminho que os seus discípulos devem percorrer, para serem transformados pelo amor de Deus: Viver o mandamento do Amor. Pois o amor partilhado é a condição para permanecer unido a Jesus e para dar frutos de salvação. Os discípulos são os “amigos” que conheceram o amor do Pai revelado por Jesus Cristo. Assim sendo a missão da comunidade cristã é testemunhar o amor de Deus à humanidade. Através desse testemunho, concluir-se-á o projeto salvador de Deus e nascerá uma Nova Humanidade. Para São João o verbo “Permanecer” (do grego – méno; utilizado 40 vezes no seu evangelho) é de suma importância para a compreensão da indissolúvel união existente entre Cristo e sua Comunidade. O discipulado não é baseado em uma união meramente moral. Trata-se de uma união vital, que gera vida espiritual naquele que crê. No Batismo, tornamo-nos “outros cristos”, pois a vida de Cristo passa a ser gerada em nós. Em cada Eucaristia, comungamos do seu Corpo e Sangue. Nossa vida é unida à Sua vida, vida divina que deve transbordar para a humanidade através de nós. De modo espiritual e sacramental, isso é um fato.
Mas como esta vida transborda e se realiza em nosso dia a dia? O que guia nosso coração? O medo e a desolação que geram acomodamento e debilidade? Ou a esperança que nos identifica com Jesus e seu caminho de vida e que nos leva a lutar para lançar as bases do Reino de Deus neste mundo? É uma pergunta que não deve ser respondida de uma só vez. Esta é uma reflexão para todos os dias e para toda a vida.
Estamos em pleno mês de maio, mês que procuramos fortalecer nosso amor filial pela Virgem Maria através dos exercícios espirituais que devotamente realizamos. Se na liturgia é tempo de preparar o coração para acolher o dom do Espírito Santo, aproveitemos, pois, esta companhia maternal e aprendamos com nossa mãe Maria, pois mais do que ninguém, ela soube entregar inteiramente o coração ao Espírito para ser morada de Deus.
Pe. Paulo Sérgio Silva
Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.