HOMILIA DO 5º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B

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RESTABELECIDOS PELO AMOR DEUS, ANUNCIEMOS O EVANGELHO COM A VIDA E A VERDADE

Ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se” (Mc. 1,31)

Amados irmãos e amadas irmãs!

            A liturgia deste Domingo reflete sobre algumas das questões fundamentais que evidenciamos diariamente em nossas vidas, principalmente nos tempos difíceis que vivenciamos. Qual o sentido do sofrimento e da dor que acompanham a nossa caminhada pela terra? Qual a atitude de Deus diante dos dramas que marcam a nossa existência? São perguntas como estas que muitas vezes nos fazemos em meio a nossas orações cotidianas. Mesmo em meio ao sofrimento inerente a nossa condição humana, somos convidados pela sua Palavra divina a perceber e a acreditar que o plano de Deus não é um projeto de morte, mas sim um caminho de vida verdadeira, de felicidade sem fim.

Na primeira leitura (Jó 7,1-4.6-7), nos apresenta o protagonista do livro de Jó. Ele é apresentado como um homem piedoso, temente a Deus e zeloso cumpridor dos preceitos da Lei. Como resposta a sua conduta exemplar, tudo na vida de Jó é visto como recompensa de Deus. Ele é o modelo do “dogma da Retribuição; conceito israelita que ao enxergar Deus como um atento negociante, ensinava que os bens são recompensas divinas pelos nossos bons atos e os males são castigos divinos pela desobediência. Todavia, ao longo do livro, Jó perde tudo que tinha e não consegue encontrar justificativa para tamanho infortúnio. Se ele sempre foi zeloso, por que está sendo castigado então? Quatro amigos visitam Jó e tentam convencê-lo de que sua dura realidade é resultado do seu pecado.

Jó tem certeza de sua inocência e não acredita na imagem deturpada de Deus como comerciante que paga segundo as ações humanas. No entanto, ele comenta, com decepção e desilusão, que a sua vida está marcada por um sofrimento pavoroso e que Deus parece ausente e indiferente ao seu desespero. Apesar da amargura, Jó se dirige a Deus, pois mesmo em meio ao sofrimento aterrador, sua fé lhe revela que Deus é a sua única esperança e que fora d’Ele não há possibilidade de salvação. Jó sabe, pela fé, que “Ele conforta os corações despedaçados”, e que “Ele enfaixa as feridas e as cura” como nos recorda o salmo de hoje. Suas palavras são carregadas de amargura, mas são expressão de um coração que ainda possui fé. Se Jó reza mesmo se sentindo injustiçado é porque ainda acredita na intervensão divina. Sua oração carregada de fé em meio a desolação humana encontrará seu ápice no grito de abandono realizado por Jesus Cristo na cruz.

No Evangelho (Mc. 1,29-39), nos é indicado que a missão de Jesus Cristo não é outra senão anunciar o Reino de Deus. No primeiro capítulo de sua obra, são Marcos se esmera em revelar que em Jesus são manifestados todos aqueles sinais anunciados pelos profetas como evidências concretas da chegada do Messias (Is. 61,1-5). Nos escritos proféticos a era messiânica é iniciada com os sinais prodigiosos do messias. Assim sendo, em Marcos a era messiânica coincide com o advento do Reino de Deus. Além da cura da sogra de Pedro, todos aqueles que padeciam males – espirituais ou físicos – são levados até Jesus e curados. Assim se cumpre a frase com que Jesus iniciou sua missão: “O Reino de Deus está próximo!”.

 Iluminando esta realidade, manifesta-se a eterna preocupação de Deus com os seus filhos através da ação libertadora de Jesus em favor dos que sofrem. Jesus “aproximou-Se” da sogra de Pedro que estava doente. Não o deus do comércio que recompensa de acordo com a obra. A sogra de Pedro é curada antes mesmo de se colocar a serviço. É o Deus que vem ao nosso encontro. A iniciativa de Se aproximar de quem está prisioneiro do pecado, do sofrimento, da doença, revela que a missão que Jesus recebeu do Pai consiste em realizar a libertação de tudo aquilo que  faz o ser humano sofrer e lhe usurpa a vida. Jesus “segurou-a pela mão e ajudou-a a levantar-se”. A mulher está prostrada pelo sofrimento que lhe impede de viver; mas o contato com Jesus devolve-lhe a vida e equivale a uma ressurreição. “E ela começou a servi-lo.” O evangelho sugere, ainda, que a ação de Jesus tem de ser continuada pelos seus discípulos, pois o efeito imediato do encontro com Jesus e da vida que brota d’Ele é a ação missionária que se concretiza no serviço dos irmãos.

 No final do dia, isto é, no entardecer, junto a porta da “casa de Simão Pedro”, Jesus é apresentado reunido com toda a cidade. A casa de Simão Pedro é a representação da Igreja, lugar, comunidade, família onde Jesus se reúne com a humanidade para lhe oferecer vida em plenitude. É no entardecer, quando as trevas começam a engolir o mundo, que Jesus evidencia – pela cura, libertação e salvação – que somente Ele pode devolver em definitivo a luz que o pecado usurpou da humanidade.

Na segunda leitura (1Cor. 9,16-19.22-23), São Paulo acentua, a obrigação de continuar a missão de Jesus através do testemunho. Os discípulos de Jesus não podem ser guiados por interesses pessoais, mas sim pelo amor a Deus, ao Evangelho e aos irmãos. Quem fez uma experiência pessoal com Jesus e dedica a sua vida ao serviço do Reino não é um funcionário, com um horário e um salário agradável, que cumpre as suas horas de serviço. Mas é alguém que põe o amor aos irmãos e à comunidade como centro de sua vida; que está sempre disponível para servir aos irmãos, para os escutar e os acolher. Para o discípulo de Jesus, o amor deve expressar-se e concretizar-se no dom, no serviço, na entrega total. Como no ato da sogra de Pedro que ao ser curada manifesta sua fé e gratidão se colocando a serviço.

No entanto algo mais deve ainda nos chamar a atenção. Marcos apresenta-nos Jesus – depois de curar, libertar e salvar a todos –, retirado num lugar solitário, em oração. É importantíssimo perceber que a ação redentora de Jesus é finalizada na oração e que a sua ação missionária, se inicia de novo, a partir da oração. A oração é, para Jesus, a fonte de onde emana sua força, sua vida e sua missão. Em nossa época tão midiática, onde os cristãos “influencers digitais”, muitas vezes praticam a caridade, mas a transformam numa espécie de comércio uma vez que seu ato é filmado para receber “curtidas”, a atitude de Jesus de se afastar para entrar em comunhão com o Pai, nos ensina que o bem não deve ser usado como moeda de troca e autopromoção. A recompensa para quem vive o Evangelho não são benesses – sobretudo materiais – advindas de Deus. Como podemos perceber na vida concreta de Jesus Cristo, a verdadeira recompensa para quem vive a fidelidade a sua vocação e missão é Deus mesmo.

    Encerremos meditando e rezando com o Apóstolo Paulo: “Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a consolação, que nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia! Com efeito, à medida que em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações.” (II Coríntios, 1. 3-5)

Pe. Paulo Sérgio Silva

Diocese de Crato.

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