HOMILIA DO 4º DOMINGO DO TEMPO DA PÁSCOA – ANO A

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JESUS, BOM PASTOR: NOSSA PORTA PARA O REINO DE DEUS

Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.” (Jo. 10, 10)

Na estrada pascal que percorremos em direção ao Pentecostes, depois de apresentar Jesus Cristo como a Misericórdia Divina encarnada, a liturgia da Palavra o apresenta agora como Bom Pastor. Este título messiânico nos indica que Ele é o modelo de sacerdote e guia para toda a humanidade. Significa reconhecer que Ele nos ama de forma incondicional a ponto de ser capaz de dar vida por nós. É, portanto, este o tema central que a Palavra de Deus propõe hoje à nossa reflexão. Assim sendo, somos convidados a refletir sobre a identidade de Jesus enquanto pastor e ao mesmo tempo refletirmos sobre a nossa própria identidade uma vez que reconhecendo-o como Messias Ressuscitado, nos tornamos seu rebanho e respondemos ao Seu chamado para anunciar o Evangelho a todas as criaturas e perseverar na vida comunitária dando testemunho ao mundo da partilha, do serviço e da caridade.

Na primeira leitura (At. 2,14a.26-41) continuamos acompanhando a catequese missionária em forma de pregação do Apóstolo Pedro. Pelas suas palavras compreendemos qual é o itinerário catequético da Igreja desde o início de sua missão: O Apóstolo proclama o “querigma cristão”; este primeiro anúncio produz a conscientização e o arrependimento que leva ao desejo de conversão (Metanoia). Como ovelhas que buscam o pastor, os ouvintes, na sinceridade do seu coração, indagam aos Apóstolos: “irmãos, o que devemos fazer?” (At. 2,37). Como fora realizado nos livros sapiênciais, a eles é apresentado dois caminhos: conversão e batismo para toda a humanidade. Os ouvintes do Apóstolo Pedro devem escolher por uma verdadeira adesão à Cristo, por isto a necessidade do Batismo e da acolhida do Espírito Santo. Todavia, eles devem também aceitar o fato de que o chamado a conversão a Cristo é para todos os povos, não apenas para Israel, porque Ele veio para que “todos” tenham vida. Atualmente o processo catequético teve uma pequena mudança. Primeiro somos batizados e à medida que vamos crescendo devem despertar para a conversão que leva a verdadeira e consciente adesão a Cristo. Esta conversão e adesão deve ser expressada em nossa vida pelos valores que vivemos como cristãos. Acostumados à mentalidade permissiva e relativista do mundo, temos que crescer na consciência de que os valores que devem alimentar nosso coração são aqueles que foram ensinados e vividos por Cristo e anunciados pela Igreja. Pois, a verdadeira metanoia se realiza quando ouvimos o chamado e escolhemos passar pela “Porta” que é Cristo.

A comunidade cristã, através do testemunho de Pedro, ao afirmar Jesus Cristo como único salvador, o reconhece como seu pastor e guia que nos conduz em direção à vida verdadeira.  Mas tarde, no futuro, a comunidade cristã irá afirmar pela regra de São Bento: “nihil amori christi praeponere” (nada antepor ao amor de Cristo).

Na segunda leitura (1Pd. 2,20b-25) continuamos do mesmo modo acompanhando a correspondência pastoral entre Pedro e suas Comunidades localizadas no interior da Ásia dos anos 80 d.C. E aqui também se vislumbra a apresentação de Cristo como “o Pastor” que guarda e conduz as suas ovelhas. Se as ovelhas devem obedecer e se deixar guiar pelo pastor, da mesma maneira os cristãos devem buscar imitar em suas vidas o exemplo de Jesus Cristo. O cristão deve viver em sua vida o todo da imitação de Cristo, não apenas as partes de sua missão que lhe são agradáveis. Como o servo sofredor (Is. 52-53), Cristo deu-nos o exemplo da paciência. Ele sofreu com resignação e morreu com amor e por amor, antes de chegar à ressurreição. Eis à esperança para as pequenas comunidades cristãs que como Jesus Cristo recém-nascido, já são perseguidas e ameaçadas: apesar dos sofrimentos que têm de suportar, pela fidelidade, estão destinadas a viver com Cristo em sua glória. Por isso, devem permanecer em obediência a Ele, vivendo com alegria e coragem o seu compromisso batismal.

O Evangelho (Jo. 10,1-10) ao invés de apresentar a tradicional parábola do Bom Pastor, o evangelho escolhe fazer uso da alegoria da “porta do redil” que abre caminho para anunciar a parábola do bom pastor. Ao enxergar Jesus como a porta do redil que dá acesso ao Reino de Deus compreendemos que somente vivendo como ele poderemos entrar neste Reino. Somos nós que temos que nos adequar para poder passar pela porta, não é a porta que deve ser alargada para que passemos comodamente.

Sabemos como a figura do “pastor” é emblemática para a fé do povo de Israel.  Sendo assim, somos convidados a recordar o primeiro mandamento dado a Israel: a escuta. (Dt. 6,4). É através do ato de ouvir que as ovelhas identificarão o Pastor e é por meio do testemunho/vivência das ovelhas que Ele será identificado como Bom Pastor. Com o discurso que ouvimos hoje, os discípulos contemporâneos a Jesus puderam entender que fazer parte da comunidade cristã, isto é, do rebanho de Cristo é antes de tudo, escutar e se comprometer fielmente com sua proposta de nova humanidade. Proposta esta que se realiza com a doação da própria vida através do amor e do serviço.

 A missão de Jesus é trazer a vida plena a todos os seres humanos (Jo. 10,10). Em nossa sociedade atual a figura do pastor já não atrai a nossa sensibilidade como fazia com as primeiras comunidades. Hoje se fala muito na palavra “líder”, função que muitas vezes transparece a presença de alguém que se impõe, que domina, que exige e que manda nos outros. Por isto, se faz tão necessário retornarmos à espiritualidade das primeiras comunidades cristãs que contemplavam o ícone de um jovem portando nos ombros uma ovelha resgatada como recordação de Jesus Cristo cuja vida revelou ação de um Deus que assumiu para si a responsabilidade de cuidar de todos tornando-se o verdadeiro Pastor da humanidade através da coragem, serenidade, doação, simplicidade, serviço e amor gratuito.

Cientes de nossas debilidades, precisamos confiar nossa vida e história aos cuidados Daquele que é capaz de nos proteger e guiar, a ponto de “se entregar a si mesmo para dar a vida às suas ovelhas”. Eis o que distingue o bom e verdadeiro Pastor do pastor mercenário. É a atitude diante do “lobo” (aqui o lobo, simboliza tudo o que põe em perigo a vida das ovelhas: a corrupção, a injustiça, a violência, o pecado, o ódio do mundo). O pastor mercenário é contratado por dinheiro. O rebanho não é dele. Ele ama o dinheiro, não as ovelhas que lhe foram confiadas. Apenas cumpre o seu contrato. Foge quando percebe o perigo que ameaça a ele e aos seus interesses pessoais. O verdadeiro pastor é aquele cuja fonte do serviço é o Amor, não o dinheiro. Ele não veio cumprir um contrato, mas fazer com que as ovelhas tenham vida em abundância. O bem das ovelhas é a sua prioridade vital. Por isso, ele arrisca tudo em favor do rebanho e está disposto a dar a própria vida por essas ovelhas que ama.

Estamos verdadeiramente seguindo o Bom Pastor? Ou estamos seguindo pretensos líderes por estradas que ao invés de pastagens abundantes tem-nos levado a abismos e a terra árida? Como as primeiras comunidades cristãs fizeram com Pedro e os Onze, ainda escutamos o Papa e nossos Bispos que são sinal da Tradição e do Magistério que fizeram chegar até nós a presença de Cristo? Quais sãos as vozes que estamos escutando e deixando conduzir nosso coração? Será de um político corrupto, ganancioso e manipulador? Será de um artista narcisista? De um influenciador digital egocêntrico? De algum líder religioso que adultera e manipula a Palavra de Deus para impor seus devaneios anticristãos?

Busquemos conhecer e aderir a Cristo. Somente Ele pode preencher as nossas mais íntimas aspirações de Paz, de Verdade e de Vida plena.

Pe. Paulo Sérgio Silva.

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.

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