DOMINGO GAUDETE[1]
A ALEGRIA DE PREPARAR E PERCORRER O CAMINHO DO SENHOR
“Irmãos, alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai–vos.” (Fl. 4,4)
A força que move e conduz a vida da Igreja – neste domingo – é a Alegria. A cor rosa que substitui o roxo sinaliza o espírito de exultação que nos movimenta em direção à Belém. O profeta Sofonias nos convida a cantar e rejubilar de alegria, o salmo repete o convite para exultar em cantos de contentamento e São Paulo conclama suas comunidades a viver em atitude de júbilo na presença do Senhor. Este insistente convite a viver a alegria deve ser acompanhado de um desejo sincero de conversão que ao provocar uma verdadeira transformação em nossa vida nos liberta do nosso egoísmo e comodismo e nos faz contemplar a presença de Deus e permanecer em atitude de abertura ao seu plano salvífico.
Na primeira leitura (Sf. 3,14-18a), à semelhança do vigor pungente da aurora, o profeta Sofonias “acorda” Jerusalém com uma jubilosa exclamação: “o rei de Israel é o Senhor, Ele está no meio de ti” (Sf.3,17). Este grito profético sugere que no percorrer desse caminho de conversão, o Senhor Deus que nos ama, também nos acompanha. O seu amor transformador não apenas perdoa as nossas faltas, mas provoca a nossa renovação vital. Apesar da teimosia humana, Deus não desiste de seu plano de salvação. A força que move a necessária conversão é a misericórdia divina. O que transforma ou renova o mundo não é o medo de castigo, a busca de ídolos que satisfaçam nossos mais vis desejos, mas sim o amor, o perdão e a comunhão com Deus. Assim compreendemos o convite profético à alegria: Deus está no meio de nós! Sim! Ele insiste em caminhar conosco.
No Evangelho (Lc.3,10-18), continuando a reflexão anterior, continuamos acompanhando ação profética de João Batista. Ao enxergar a sobriedade e simplicidade de sua vida, o povo desperta para uma necessária mudança vital. Pessoas das mais diferentes camadas sociais acorrem a ele e suplicam: “E nós, o que devemos fazer?” (Lc. 3,14) Esta pergunta não se trata de um clamor desesperado resultante do medo de um castigo, mas expressa a prontidão para refazer a própria vida e docilidade para acolher a proposta de salvação que vem de Deus.
João indica que mais do que mera boa vontade é necessário atitudes concretas para uma transformação verdadeira: é preciso abandonar o egoísmo e aprender a partilhar; é indispensável destruir os esquemas de exploração e de imoralidade e deixar a justiça acontecer; é imprescindível desistir de usar à violência e à prepotência como forças de destruição e humilhação e respeitar a dignidade de todos. Para que a conversão seja autêntica, para a alegria seja verdadeira, é necessário que o “amor seja sem falsidade e hipocrisia”, é imperativo que a humanidade “deteste o mal e apegue-se ao Bem” (Rm.12,9-10). A atitude do povo e a resposta de João nos lembram a ação do Servo de Deus, Padre Cícero, em relação ao clamor do povo nordestino. Assim como João Batista, o padre Cícero indicou os caminhos para viver a fé de forma concreta. Estes conselhos foram transformados em um piedoso cântico de romaria que ainda hoje é repetido por aqueles que em meio aos desafios da vida cotidiana desejam viver a vontade de Deus: “Quem matou, não mate mais! Quem roubou, não roube mais! Romeiros de verdade vivem na fraternidade.”
João Batista enxergava a futura ação de Jesus nos mesmos moldes das ações profética do A.T. Por isto, que assim como Jeremias foi chamado para “arrancar, derrubar, devastar e destruir” afim de “edificar e plantar” (Jr. 1,10), o Messias enviado por Deus, traz um batismo purificador, que realiza uma dúplice ação. Tudo que é mal será destruído (a imagem da palha queimada) quando Espírito Santo for derramado sobre os homens revelando a eles a plenitude da verdade.
Não foi à toa que diante da certeza da presença de Deus em nosso meio, São Paulo, na Segunda Leitura (Fl. 4,4-7), indicou aos cristãos da cidade de Filipos as atitudes vitais que devem marcar a história de todos os que desejam acolher o Senhor: confiança, alegria, mansidão, bondade e oração (súplica e ação de graças). A comunidade cristã deve ser solidária aos necessitados e perseverante na oração. Deve confiar no amor e na bondade divina e deve se deixar conduzir por esta bondade para a viver a fraternidade que leva a sair de si mesmo e ir ao encontro de todos, especialmente daqueles que se encontram exilados nas periferias existenciais.
Também nós, mediante o advento do Natal e a realidade desumana que nos cerca, devemos nos perguntar: “O que devemos fazer?” Viver a fé com seriedade. Abrir espaço para Deus humanado em nossa vida. Converter e abrir a dura porta de nosso coração para que Ele e todos nossos irmãos e irmãs possam entrar. Afinal, permanece essencial este critério para acolher Jesus: um coração convertido. E uma conversão que se expresse na atitude de compaixão e misericórdia para com todos, sobretudo os mais necessitados.
Oh! Emanuel! Deus conosco que é a manifestação do amor do Pai! Vem porque continuamos precisando de Ti! Insistimos: Vem e renova o nosso coração!

Pe. Paulo Sérgio Silva
Diocese de Crato
[1] Tanto o Tempo da Quaresma como o Tempo do Advento, possuem um “domingo atípico”, onde a Igreja oferece uma pausa na austeridade e sente, antecipadamente, a alegria daquilo que ela mesma se prepara para celebrar (na Quaresma é o 4º domingo, chamado de “Domingo Laetare”, antecipando a alegria da Páscoa, e no Advento é o 3º domingo, chamado “Domingo Gaudete”, celebrado, este ano, no próximo dia 15, e que antecipa a alegria do Natal do Senhor). Se trata de um convite da Mãe Igreja para que todos os seus filhos busquem chegar às alegrias da Salvação e celebrem este mistério com intenso júbilo na liturgia solene. A seriedade da espera que a liturgia nos inspira – manifestada pela cor roxa –, dar lugar a leveza e alegria que o róseo proporciona. Esta mudança de tonalidade na peregrinação espiritual nos lembra que o mistério de Cristo deve ser pensado e vivido sempre na totalidade do evento salvífico: Encarnação – Vida – Igreja – Paixão – Morte – Ressurreição – Dom do Espírito – Ascensão – Consumação – Parusia. Pois, tudo isso Ele fez propter nos et propter nostram salutem (por nós e para nossa salvação).




