HOMILIA DO 3º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO C

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CHAMADOS A CONTINUAR A MISSÃO DE CRISTO RESSUSCITADO

 

Esta foi a terceira vez que Jesus, ressuscitado dos mortos, apareceu aos discípulos” (Jo 21, 14)

 

A liturgia da Palavra de hoje, continuando a catequese iniciada no domingo anterior, reafirma a essência da missão da Comunidade eclesial (Igreja): anunciar Cristo ressuscitado; testemunhar e concretizar o projeto do Reino de Deus que Ele iniciou. À luz desta afirmação compreendemos que Jesus, vivo e ressuscitado, permanecerá sempre acompanhando a sua Igreja em missão, vivificando e rejuvenescendo-a com a força do Espírito Santo e orientando-a com a sua Palavra.

Na primeira leitura (At 5,27b-32.40b-41) acompanhamos o início do anúncio e testemunho da missão da comunidade apostólica e simultaneamente também o início das perseguições aos cristãos. Pedro, como outrora fizera tantas vezes diante de Jesus Cristo, professa sua fé. Agora, corajosamente diante do Sinédrio que interroga os discípulos em meio a ameaças. Podemos vislumbrar nas palavras de Pedro, a semente do que mais tarde se tornará o que conhecemos como “Credo” ou “Símbolo Apostólico” (que rezamos aos domingos). Ao falar diante dos perseguidores, Pedro e os discípulos cumprem os pedidos feitos por Jesus na terceira vez que apareceu a eles como ressuscitado. Como acontece em todas as épocas, o Evangelho anunciado desperta o espírito de conversão na vida do povo e enfrenta a resistência de pessoas e líderes da parte da sociedade afastada de Deus. Mesmo que o mundo se oponha ao nosso testemunho, o cristão deve antes obedecer a Deus do que aos homens.

Na segunda leitura (Ap 5,11-14) João continua descrevendo as revelações recebidas durante seu exílio na ilha de Patmos. Se trata de um testemunho que visa fortalecer as comunidades cristãs em meio as perseguições do imperador romano. A figura do cordeiro que possui significativa importância no antigo Testamento (Ex 12,3-7.12-14; Lv 5,5-6; Lv 17,11; Is 53,6-8; Jr 11,19) finalmente é revelado. Jesus Cristo é apresentado como o “Cordeiro” imolado que ao vencer a morte, libertou definitivamente a humanidade (Jo 1,29-36; Hb 9,27-28; 1Cor 5,7; 1Pe 1,18-20; 1Jo 1,29). Ouvimos descrita uma celebração litúrgica que une céu e a terra. A narração da cena é carregada da simbologia característica dos escritos joaninos. No firmamento, os anjos louvam ao “Cordeiro” pela sua fidelidade a Deus Pai, e na terra a criação manifesta sua adoração diante do “ressuscitado” pela sua vitória. Os quatro Seres Vivos que já haviam sido apresentados no Antigo Testamento, no livro de Ezequiel (Cf: Ez 1,4-25; 10,15), representam todas as criaturas; E na tradição patrística, foram associados aos 4 evangelistas Marcos, Mateus, Lucas e João. São mencionados Anciãos que representam a totalidade do Povo de Deus. No final todo o universo se une aos “Anciãos” (os 12 Apóstolos) em adoração a Jesus Cristo ressuscitado. Nesta jubilosa celebração é revelado a plenitude da graça e do amor divino. Um amor que não apenas perdoa e reconcilia, mas também que recria o céu e a terra, no mistério da morte-ressurreição do Cristo.

 O Evangelho (Jo 21,1-19) relata a terceira aparição de Jesus ressuscitado aos discípulos. Este encontro recorda o início da missão dos apóstolos – Jesus os encontrou na beira do lago de Genesaré (Lc 5,1-10), a beira do Jordão (Jo 1,35-42) e no Mar da Galiléia (Mt 4,18-22 /Mc 1,16-20) – e possui sabor de despedida, pois Jesus se preparava para ascender ao céu enquanto aconselhava os apóstolos a perpetuar sua missão messiânica.

Sabemos que a pesca é a imagem da missão da Igreja na permanente ação evangelizadora. Os sete apóstolos mencionados na ação de pescar representam a Igreja em sua totalidade. Todavia, a decisão de Pedro de ir ao mar para pescar pode também representar a tentação de abandonar a missão cristã e retornar a vida anterior (como sabemos Pedro trabalhava como pescador antes de encontrar Jesus).

Como no primeiro encontro, a pesca durante a noite resulta infrutífera. A noite é o tempo da escuridão, da ausência de luz (afastamento da presença de Jesus). Ao amanhecer, com a chegada da luz, Jesus aparece e ordena, outra vez, lançar as redes. O convite para lançar novamente as redes pode ter despertado no coração dos discípulos a memória da origem de sua vocação. Eles recordam que sua missão (pescaria) somente será frutuosa se contarem com a presença de Cristo em suas vidas e a obediência a sua Palavra.

 Ao descerem do barco os discípulos já encontram o alimento preparado por Jesus. Os alimentos oferecido por Cristo ressuscitado são imagem do zelo do bom pastor para com suas ovelhas. Gesto que deverá ser vivenciado e repetido pela Igreja em sua solicitude pastoral. Em suma, a abundante pesca e a partilha do alimento em terra firme são sinais do amor, do serviço e da solicitude com que Jesus acompanha sua comunidade em missão (são figurações da Eucaristia).

Em seguida temos a tríplice confissão de fé e de amor realizada por Pedro. Qual o seu significado? Durante a Ceia, Pedro inicialmente recusou se deixar lavar por Jesus e depois durante o julgamento, negou o Mestre por três vezes. A tríplice resposta exigida por Jesus a Pedro neste momento representa um convite, urgente e necessário, para que o discípulo mude a mentalidade, se deixe abraçar pelo dom do serviço e se deixe converter pelo amor, valor fundamental e essencial para os convidados do Reino de Deus. Jesus confere a Pedro a missão de pastor do rebanho, o primado que lhe havia prometido. O Serviço, a Fidelidade, o Amor e a Misericórdia exercidas por Jesus Cristo no seu diálogo com Pedro deverão ser igualmente vividas e exercidas por Pedro no seu pastoreio de toda a humanidade. Pois amar a Jesus Cristo significa amar e cuidar daqueles a quem Jesus ama.

Não há lugar neste Reino para quem não está disposto a percorrer o caminho do Serviço, da Doação e do Amor como Jesus percorreu. Ao confiar a Pedro a missão de presidir na Caridade a sua comunidade, Jesus o convida a descobrir de onde se origina a verdadeira autoridade: no serviço e na entrega amorosa.

Em nossos dias de sociedade cada vez mais tecnológica e individualista, nós, os cristãos, somente teremos êxito de uma pesca abundante – o anúncio do Evangelho – se vivermos a comunhão, a unidade, reconhecermos o Ressuscitado junto dos seus irmãos e irmãs (Cf: Mt 25, 31-46) e nos deixarmos guiar pela sua Palavra.

Pe. Paulo Sérgio Silva

Diocese de Crato.

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