HOMILIA DO 3º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO A

Compartilhe:

CORAÇÕES ARDENTES, PÉS A CAMINHO, NA COMPANHIA DO SENHOR

“Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão.” (Lc. 24,35)

Se na Quaresma realizamos uma peregrinação em direção a Jerusalém, na Páscoa somos convidados a nos congregar/reunir em comunhão com o Cristo ressuscitado à espera do Espírito Santo prometido à Igreja. A liturgia da Palavra de hoje, continuando a catequese iniciada no domingo anterior, reafirma a essência da missão da Comunidade eclesial (Igreja): anunciar Cristo ressuscitado com palavras, testemunhá-lo concretamente pela vivência do Evangelho para assim concretizar o projeto do Reino de Deus que Ele iniciou. À luz desta afirmação compreendemos que Jesus, vivo e ressuscitado, permanecerá sempre acompanhando a sua Igreja em missão, vivificando e rejuvenescendo-a com força do Espírito Santo e orientando-a com a sua Palavra. E esta mesma Palavra que nos foi proclamada hoje desperta algumas questões cruciais e ao mesmo tempo em que oferece caminhos para responder tais questões: Como é podemos fazer uma experiência de encontro com Jesus ressuscitado? Como podemos revelar ao mundo que Jesus está vivo e continua a oferecer-nos a salvação? Resposta: Encontro e anúncio. E é a partir desse “encontro”, que os discípulos são convidados a dar testemunho de Jesus diante de toda a humanidade.

A primeira leitura (At. 2, 14.22-33), Atos dos Apóstolos, apresenta-nos, a Igreja nascente, simbolizada por Pedro e os Onze Apóstolos, na sua missão de dar o testemunho sobre Jesus. Depois de terem anunciado, em palavras e em gestos concretos (At. 3,1-10), que Jesus está vivo e permanece oferecendo a salvação (At. 3,11-26), os apóstolos convidam a multidão que os ouve a acolher a proposta de vida plena que Jesus lhes faz (At. 2,36-41).

Se trata do início do anúncio e testemunho da comunidade apostólica e simultaneamente também o início das perseguições aos cristãos. Pedro, como outrora fizera tantas vezes diante de Jesus Cristo, professa a sua Fé. No entanto, agora o faz corajosamente diante de uma vasta multidão composta por todos os grupos que compõem a sociedade israelita e realiza o “Querigma”. Aqui vislumbramos nas palavras de Pedro, a semente do que mais tarde se tornará a arvore frondosa e firme que conhecemos como “Credo” ou “Símbolo Apostólico” (que rezamos aos domingos). Ao falar diante dos perseguidores, Pedro e os demais Apóstolos e Discípulos cumprem os pedidos que Jesus lhes fez na terceira vez que apareceu a eles como ressuscitado.  Mesmo que o mundo se oponha ao nosso testemunho, o cristão deve antes obedecer a Deus do que aos homens (At. 5,27-33).

Na segunda leitura (1Pd. 1,17-21) continuamos ouvindo a catequese e exortação do Apóstolo Pedro endereçadas as comunidades cristãs no final dos anos 80 d.C. que começavam a padecer as violentas perseguições do imperador Domiciano. Como pai e pastor, Pedro os aconselha a manter a fidelidade à sua fé, apesar dos sofrimentos e perseguições. Novamente os recorda o exemplo de Cristo, que em sua missão passou pela experiência da paixão e da cruz, antes de chegar à glória da ressurreição. Deste modo exorta-os a manter viva a chama da esperança, da fé, do amor, por meio da solidariedade, vivendo com alegria, coragem, coerência e fidelidade a sua vocação batismal.

Em suma, as palavras de Pedro são um apaixonado convite à santidade.  Uma vez que ao apresentar o exemplo de Jesus Cristo, o Cordeiro sem mancha, suplica aos cristãos que vivam na obediência, na confiança e na entrega a Deus, testemunhando aquilo são verdadeiramente: um povo consagrado ao Senhor.

No Evangelho (Lc. 24,13-35), Lucas nos apresenta um relato exclusivo do seu evangelho que não aparece em nenhum outro escrito cristão. Longe de ser um relato histórico e científico, se trata de uma catequese que deseja ensinar aos cristãos perseguidos da década de 80d.C como podem realizar a experiência do encontro com Jesus ressuscitado. Por isto, nos é relatado um dos primeiros encontros de Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, com a sua comunidade.

Acompanhamos dois discípulos que depois de abandonar a comunidade de Jerusalém estão retornando à sua aldeia. Eles estão desolados. E não é pra menos, afinal, seus sonhos jazem sepultados depois de padecer numa cruz. Jesus de Nazaré que se apresentara tão grandioso em prodígios e portentos e que eles pensaram ser o Messias triunfalista, fora julgado, condenado, crucificado e morto.  São estes os fatos que eles informam a um desavisado peregrino que surge naquele caminho pesaroso e que apesar de estar vindo de Jerusalém, não sabia de nada que acontecera. O peregrino se torna companheiro na estrada e escuta atentamente o seu relato cheio de queixas e amargas decepções e se espanta com sua falta de fé (Lc. 24,25). Então, calmamente, com destreza de um Mestre, lhes revela tudo que fora predito pelos profetas sobre o Messias e sua paixão. Sim. Os dois discípulos guardaram vivamente tudo que acontecera nos últimos dias na cidade de Jerusalém. No entanto, seu relato encontrava-se ainda incompleto, pois ele se encerrava na cruz e na falta de fé naquilo que fora testemunhado pelas mulheres da comunidade. Faltava a eles a fé no Cristo ressuscitado.

Como e onde os discípulos podem fazer a experiência do encontro com Jesus ressuscitado? Na segunda parte da viagem, quando o peregrino é convidado a pernoitar com eles, no momento da refeição abençoada, eles descobrem a resposta. É no encontro fraterno com aqueles que partilham da mesma fé e da mesma mesa eucarística, escutando a Palavra de Deus, compartilhando esta vivência através do amor experimentado em gestos de fraternidade e de serviço. Os discípulos, alimentados pela Palavra e encorajados pela sua Paz que faz arder o coração, recebem de Jesus a missão de dar testemunho a toda humanidade das ações salvadoras de Deus. A essência da missão da Igreja (os discípulos de Jesus Cristo) é pregar a conversão a todos os homens e mulheres, indicando que a vida nova que Deus oferece, ou seja, a salvação, a vida eterna, se realiza quando acolhemos a pessoa de Jesus Cristo e a Ele confiamos nossa vida e nossa história.

Os fatos narrados nos revelam que Jesus ressuscitado permanece sendo o alicerce sobre o qual se funda e se constrói a comunidade dos discípulos. E a catequese narrada por Lucas se revela para nós uma alegoria da celebração eucarística. Pois, as palavras utilizadas para descrever os gestos de Jesus evocam a celebração eucarística da Igreja primitiva. Dessa forma, nós recordamos como ainda hoje é possível encontrar Jesus vivo e ressuscitado.  Esse Jesus que por amor enfrentou a cruz, continua a fazer-Se companheiro de nossa peregrinação nos caminhos da história. É preciso estar atento, pois em meio as perseguições que ainda hoje sofrem os anunciadores do Evangelho, enquanto padecemos sofrimentos e enfrentamos a tentação de desistir e voltar atrás, o Senhor a cada domingo nos acompanha para pegar nosso coração descrente e frio e fazê-lo novamente arder de compaixão, fé e misericórdia. Não esqueçamos: sempre que nos reunimos em nome de Jesus para “partir o pão”, Ele lá estará, vivo e atuante, em nosso meio.

É tempo, pois, de voltar para o seio da comunidade. Se nossa fé fraquejou por motivos diversos a ponto de nos fazer abandonar a comunidade na qual fomos gerados no Batismo, voltemos. Retornemos, pois é lá que o Senhor espera para novamente partilhar Seu Corpo, Seu Sangue e Sua Vida. E com esta partilha permanente haveremos de edificar o Reino de Deus Pai que foi e permanece sendo o centro da vida e da missão de Jesus Cristo.

Pe. Paulo Sérgio Silva

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.

Posts Relacionados

Facebook

Instagram

Últimos Posts