HOMILIA DO 33º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A

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A ALEGRIA DE SER FIEL NAQUILO QUE NOS FOI CONFIADO

DIA MUNDIAL DOS POBRES

Muito bem, servo bom e fiel!  Vem participar da minha alegria!” (Mt.25,21)

            Amados irmãos e amadas irmãs!

            A liturgia deste Domingo nos recorda a responsabilidade de ser, na vida cotidiana, testemunha consciente, ativa e comprometida desse projeto de salvação/libertação que Deus Pai tem para todos os seres humanos. Por isto, podemos afirmar que é um convite para continuar a temática da vigilância e da coragem enquanto nos prepara para adentrar na espiritualidade do Advento.

            Novamente o Evangelho apresenta-nos um trecho do “discurso escatológico” – temática que conduz os capítulos 24 e 25 do Evangelho segundo Mateus –, onde o autor reflete sobre o tema da segunda vinda de Jesus e indica a atitude com que os discípulos devem esperar e preparar essa vinda. Sendo assim, somos mais uma vez apresentados a uma parábola que deseja nos ensinar os mistérios do Reino dos Deus do porvir (Mt. 25,14-30). Nela, Mateus nos apresenta duas atitudes como exemplos diferentes de como esperar e se preparar para a última vinda de Jesus: um servo que se esforça para fazer frutificar os “bens” que Deus lhe confia e um discípulo que se instala no medo e na acomodação e acaba não multiplicando o que Deus lhe entrega.

            A parábola fala de “talentos” que um senhor distribuiu aos servos. Para nós atualmente “talento” é sinônimo de aptidão, capacidade ou dom. Já na cultura judaica no tempo de Jesus, um “talento” era na verdade uma unidade de peso e medida que corresponde a cerca de 36 quilos de prata e equivale ao salário de aproximadamente 3.000 dias de trabalho de um operário. Com isto, Mateus manifesta a grandeza e o valor daquilo que Deus nos confia na esperança de que nós coloquemos estes dons a serviço dos irmãos e irmãs. O dono dos talentos seria Deus, que exige fidelidade e lealdade e que não aceita situações de acomodação, hesitação e de preguiça. Os seres humanos a quem Ele confia os valores do Reino devem acolher estes dons e multiplicá-los através do serviço e da doação da vida, a fim de que o Reino seja uma realidade na vida cotidiana de toda humanidade. No Reino de Deus não existe espaço para ambiguidades ou indecisões; ou se está completamente comprometido, ou não se está. “Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, não é frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca”. (Cf: Ap. 3,15-16)

            Para nos ajudar a compreender como multiplicar os dons recebidos, a primeira leitura (Pr. 31,10-13.19-20.30-31), retirada do livro dos Provérbios, apresenta como exemplo, na figura da mulher virtuosa, alguns dos valores que conduzem a vida para a felicidade e a paz. São os princípios morais da responsabilidade, trabalho, do compromisso, da generosidade e do respeito a Deus. No entanto, apesar de os nomear como valores da mulher virtuosa, estes princípios são valores que devem ser possuídos e vividos por todos e todas que desejam viver na fidelidade aos planos de Deus e corresponder à missão que Deus lhe confiou. Estes valores vividos cotidianamente fazem aqueles que os vivem multiplicarem os dons, tornando assim “O seu valor maior que o das pérolas”. (Cf: Pr. 31,10)

            Na segunda leitura (1Ts. 5,1-6), Paulo continuando na carta aos Tessalonicenses o tema da segunda vinda de Cristo, lembra que o importante não é saber quando virá o Senhor pela segunda vez. O mais urgente é estar atento e vigilante. É viver de acordo com os ensinamentos de Jesus, testemunhar os valores evangélicos e empenhar-se ativamente na construção do Reino de Deus. Mais do que sofrer na espera ansiosa da volta do Redentor, é urgente que “não durmamos, como os outros, mas sejamos vigilantes e sóbrios” (Cf: 1Ts 5,6).

            Com motivação semelhante Mateus escreve esta parábola, ou seja, seu intuito é o de preparar bem sua comunidade para a segunda vinda do Senhor Jesus, no final dos tempos. A vinda do Senhor é uma certeza mesmo que não se saiba nem o dia ou hora em que irá realizar-se. Como professamos no Credo, quando voltar, ele julgará conforme o comportamento praticado na sua ausência. Assim na parábola, o “senhor” é Jesus que, antes de ascender ao céu, entregou bens de valor incalculável aos seus “servos” (os discípulos missionários). Os “bens” são os dons que Deus Pai, através de Jesus Cristo e do Espírito Santo, ofereceu aos seres humanos. Como exemplo destes dons podemos citar a Palavra de Deus, os Sacramentos, os valores do Evangelho, o serviço aos irmãos, o amor que se doa até à morte, a partilha, a misericórdia, a fraternidade, e enfim, os carismas e ministérios que ajudam a construir a comunidade do Reino.

            A parábola apresenta como modelos de discípulos, os dois servos que entenderam o valor e a importância dos “bens” e por isto, se preocuparam em investir, não se acomodando por causa preguiça, da rotina ou do medo. Todavia, condena e repreende o servo que entregou intactos os bens que recebeu. Ele, por causa do medo, não quis correr riscos. Como discípulos missionários estamos fazendo frutificar os dons que Deus nos? Estamos seguindo a exortação do Apóstolo Pedro que nos aconselha que “Cada um coloque à disposição dos outros o dom que recebeu. Se alguém tem o dom de falar, proceda como com palavras de Deus. Se alguém tem o dom do serviço, exerça-o como capacidade proporcionada por Deus; que em todas as coisas, Deus seja glorificado”? (1Pe. 4,10).

            Cristo passou no mundo fazendo o bem e se doando pela humanidade. Nós, cristãos, somos o “corpo de Cristo”. Uma vez que nos identificamos com Cristo, temos a grave responsabilidade de O testemunhar e de deixar que, através de nós, Ele continue a amar os seres humanos que caminham ao nosso lado pelos caminhos do mundo. Os dois “servos” da parábola que fizeram frutificar os “bens”, lutaram, esforçaram-se e arriscaram. Todos os dias e em todos os lugares, como cristãos somos convidados a ter a ousadia e a coragem de arriscar. Não aceitar a injustiça e lutar contra ela. Não pactuar com o egoísmo, o orgulho, a prepotência. Não podemos silenciar os valores do Evangelho em troca de algum agrado vindo dos poderosos. Todavia, assim como o terceiro servo, infelizmente há cristãos que desistem por medo ou conveniência. Desistem de participar da construção de um mundo melhor. Limitam-se a cumprir as regras ou se escondem no comodismo. Vivem sem força, sem vontade, sem coragem de ir mais além e até decidem compactuar com a injustiça e a corrupção apenas porque recebem um emprego, um benefício enquanto os outros sofrem e são perseguidos e humilhados.

            Deus não impõe nada.  À nossa frente são colocadas as escolhas e decisões. São elas que nos aproximam de Deus ou nos afastam do seu Reino de amor. Como decidimos agir e viver é o que decisivo no final de nossa vida. A partir do que vivemos, ouviremos no entardecer de nossa vida: Vinde, servo bom e fiel! Ou afastai-vos de mim, servo infiel! Deus não se guarda nem se poupa para nos reconduzir ao bom caminho. Como filhos e discípulos, ajamos do mesmo modo, ofertemos nossa vida generosamente, ela que é o maior dom que Deus nos ofertou.

Encerremos meditando e rezando o salmo: “Será assim abençoado todo homem que teme o senhor. O Senhor te abençoe de Sião, cada dia de tua Vida.” (Sl. 127, 4-5).

Pe. Paulo Sérgio Silva

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito

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