HOMILIA DO 2º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO C

Compartilhe:

DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA

Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não seja incrédulo, mas fiel.” (Jo 20,27)

            Concluindo a oitava da Páscoa, celebramos hoje o Domingo da Divina Misericórdia que foi incluído no calendário litúrgico da Igreja pelo Papa e agora santo, São João Paulo II, em 30 de abril de 2000, na Missa de canonização de Santa Faustina, cujas revelações particulares a tornaram conhecida como apóstola da Divina Misericórdia. Assim sendo, desde o ano 2000, as comunidades e as paróquias de todo o mundo passaram a celebrar no segundo domingo da Páscoa a Festa da Divina Misericórdia. A partir disto, compreendemos porque a liturgia da Palavra deste domingo revela a comunidade cristã como o lugar de encontro com Jesus ressuscitado. A Igreja cuja missão essencial é ser anunciadora do Evangelho, é chamada a ser instrumento da Misericórdia Divina pelo testemunho da Caridade e pela comunicação dos sacramentos de Cristo.

            A primeira leitura (At 5, 12-16) nos revela, por meio da ação dos Apóstolos, que a comunidade cristã continua no mundo a missão salvadora e libertadora de Jesus Cristo. Através do seu testemunho, a Igreja Apostólica continua a oferecer ao mundo a força curadora do Cristo vivo e Jesus permanece a atuar como redentor pela sua ação sacramental. É preciso entender, entretanto, que os milagres realizados pela presença dos apóstolos não se tratam de espetáculos para causar impacto emocional. Afinal comunidade Cristã “não cresce por meio de proselitismo, mas por atração” (Bento XVI, Homilia na Eucaristia de inauguração da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe e Evangelii Gaudium n.14 – Papa Francisco). Os sinais realizados são testemunho da ressurreição, isto é, dessa vida nova que em Cristo começou e que através dos seus discípulos deve levar a toda humanidade. Os cristãos são chamados a perseverar no ensinamento apostólico, na comunhão fraterna, na partilha do pão e na oração em comum para ter um fiel testemunho da missão confiada por Cristo a sua Comunidade Eclesial.

            A segunda leitura (Ap 1,9-11a.12-13.17-19) permanece na intenção de apresentar a centralidade na pessoa de Jesus como referência fundamental da comunidade cristã. Assim, anuncia através das visões do Apóstolo João, que o “filho do homem” / Jesus Cristo permanece ao lado da sua Igreja nos caminhos da história. É n’Ele e em sua vida nova (Ressurreição) que a comunidade eclesial, de modo semelhante a uma árvore que recebe sua vitalidade das raízes, encontrará a força vital para peregrinar e para vencer as forças do mal e do pecado que perseguem o Reino de Deus.

                O relato apresentado no Evangelho (Jo 20,19-31) intensifica a catequese apresentada pelas leituras: Jesus vivo e ressuscitado é o centro da comunidade cristã. Quem desejar permanecer unido a Ele deve permanecer na Comunidade Cristã (Igreja), pois é ao redor d’Ele que a comunidade se estrutura e se alicerça. É n’Ele e d’Ele que a Igreja recebe a vida que a anima permitindo enfrentar e vencer as dificuldades e as perseguições. Ao mesmo tempo, será na vida da comunidade – na sua vida litúrgica, na sua caridade e no seu testemunho – que os seres humanos encontrarão as provas de que Jesus está vivo.

               João inicia este relato afirmando que o encontro com o Ressuscitado aconteceu no domingo (primeiro dia da semana) ao anoitecer. O chegar da escuridão da noite é uma imagem da própria comunidade apostólica que se encontro reunida fisicamente, mas desunida espiritualmente. Estão fechados em casa por medo da perseguição e ao mesmo tempo fechados pela desolação e desespero provocados pela crise de fé. O Senhor se faz presente e se torna ponto de referência e origem da unidade; todos voltam o olhar e o coração em sua direção. Ele lhes comunica duplamente o primeiro dom da ressurreição: A Paz. Uma paz que é sinônimo de harmonia, serenidade, tranquilidade, confiança.

               Jesus lhes revela sua identidade. Não se trata de uma alucinação coletiva ou da aparição de um fantasma. O ato de tocar nas mãos e no seu lado manifesta-o como Emanuel (Deus conosco) que vem ao encontro com os sinais corporais do seu amor e da sua entrega. Reproduzindo a ação divina do início da criação (Gn 2,7) Jesus sopra e transmite aos discípulos a Vida Nova que fará deles homens novos. Eles são então enviados para dar continuidade a sua ação redentora (At 5, 12-16 – primeira leitura).

               No entanto, alguém está ausente apesar de fazer parte da comunidade: Tomé. A catequese feita através do testemunho do discípulo Tomé, nos revela que para João, somente é possível fazer a experiência da fé de Jesus Cristo, Vivo e Ressuscitado, permanecendo na comunidade, que é o lugar onde Ele se manifesta e permanece atualizando os efeitos de sua graça redentora. Na sua atitude de incredulidade, Tomé representa aqueles que vivem fechados em si mesmos, que não acreditam no testemunho da Igreja, se recusam a fazer parte da comunidade e exigem de Deus uma manifestação particular e individualista. Tomé somente obtém o encontro com o Cristo vivo quando retorna ao coração da comunidade. O encontro tão almejado acontece novamente no domingo, dia em que a comunidade se reúne para celebrar a Eucaristia. Assim nos é revelado que é na vivência do amor fraterno, na acolhida que promove o perdão e a reconciliação (Jo 20,23), na Palavra proclamada e meditada e com o Pão Eucarístico partilhado, que se encontra e se permanece na presença de Jesus ressuscitado (Jo 20,26).

                  A Igreja assim conclui a Oitava da Páscoa. Oito dias celebrados, não como um tempo cronológico, mas um tempo espiritual, que Deus inaugurou e reuniu como um só dia, quando ressuscitou Cristo de entre os mortos. Como no dia da crucificação, a Igreja contempla novamente o lado aberto do Senhor, agora não mais como sinal de sua dor, mas como janela de onde se vislumbra seu Sagrado Coração, fonte de onde emana a Misericórdia Divina.

Pe. Paulo Sérgio Silva

Diocese de Crato.

Posts Relacionados

Facebook

Instagram

Últimos Posts