O REINO DE DEUS É CHAMADO DIVINO E RESPOSTA HUMANA
“Em verdade vos digo que os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus”. (Mt. 21,31)
Amados irmãs e amadas irmãs!
Como discípulos em formação permanente, neste domingo continuamos com a temática das Parábolas do Reino. Se na semana passada fomos apresentados a decisão compassiva de Deus, que em sua infinita misericórdia, a todos convida para trabalhar no seu Reino de paz e amor, hoje, a parábola proposta por Jesus Cristo fala da decisão de cada ser humano diante deste convite realizado pelo Pai. Diante da proposta de Deus, podemos assumir dois caminhos: dizer “sim” e colaborar com Ele de modo autêntico e verdadeiro ou escolher caminhos de egoísmo, indiferença, falsidade e recusar o compromisso que Deus nos pede. A Palavra de Deus exorta-nos a um compromisso sério e coerente com Ele. Uma decisão que significa um esforço leal na construção de um mundo novo, de justiça, de fraternidade, de paz.
O evangelho de hoje situa-nos em Jerusalém, já perto do final da missão de Jesus. Jesus já entrara em Jerusalém e fora recebido com louvores pela multidão (Mt. 21,1-11). Todavia, o entusiasmo do povo foi sendo substituído, aos poucos, por uma recusa ou insatisfação diante do projeto apresentado por Jesus. Os líderes religiosos questionam Jesus sobre sua “autoridade”, e Ele os indaga sobre a origem do batismo pregado por João Batista. Diante do silêncio ou recusa em responder, Jesus os adverte de que se eles continuassem de coração fechado, nunca compreenderiam a forma como Deus escolheu salvar a humanidade. Jesus então apresenta três parábolas, para ilustrar a recusa de Israel em acolher a proposta do Reino. Com elas, Jesus convida os líderes religiosos a refletir sobre a situação de fechamento que os impedirá de viver as alegrias do Reino de Deus. Hoje, meditamos uma destas três parábolas.
A parábola dos dois filhos aponta duas atitudes diversas ante as propostas de Deus. O primeiro filho foi convidado pelo pai trabalhar “na vinha”. O filho recusa de imediato. No contexto familiar da Palestina do tempo de Jesus, a resposta causaria ao pai vergonha e acabava com sua autoridade e honra diante dos familiares, dos amigos, dos vizinhos. No entanto, o primeiro filho acaba por se arrepender de sua atitude e vai trabalhar na vinha (vers. 28-29). O segundo filho, diante do mesmo convite, respondeu: “sim, senhor, eu vou”. Ele oferece uma resposta satisfatória, que não desrespeita e honra paterna. Foi então considerado por todos como um filho exemplar. No entanto, na verdade, não foi trabalhar na vinha. A parábola ensina que, no olhar de Deus, o que importa não é quem se comportou bem apenas para manter a aparência. Mas, de acordo com a lógica divina, o importante é cumprir, realmente, a vontade do pai. No Reino, não bastam palavras bonitas ou boas intenções ditas apenas da boca para fora, mas é preciso uma resposta decisiva e coerente aos desafios e às propostas do Pai (Deus). Por isto, que em determinado momento, Jesus alertou aos fariseus de que os cobradores e prostitutas entrariam primeiro que eles no Reino de Deus (Mt.21,31).
Diante desta urgente constatação, na primeira leitura (Ez.18,25-28), o profeta Ezequiel convida os israelitas no cativeiro na Babilônia a comprometerem-se de forma séria e coerente com Deus, sem desculpas ou justificativas. Cada fiel deve tomar consciência do resultado do seu compromisso com Deus e assumir, com coerência sua adesão à Aliança que Deus novamente oferece a Israel. Cada um precisa descobrir que, diante das escolhas erradas e da insistência de permanecer no caminho do mal, enfrentará as consequências. No entanto, se decidir abandonar os caminhos de egoísmo e de pecado e decidir-se por Deus e pelos valores do seu Reino, encontrará a vida e a liberdade almejada.
Assim, São Paulo – na segunda leitura (Fl. 2,1-11) – em um notável hino de louvor cristológico, lembra que os cristãos são chamados por Deus a seguir Jesus e a viver na entrega total ao Pai e aos seus planos redentores. Ao nos exortar para ter “os mesmos sentimentos e a mesma caridade” que nosso Redentor e a viver “numa só alma e num só coração”, ele nos lembra que mesmo divididos pela diversidade de línguas e culturas, somos todos membros de um mesmo corpo e de uma só família e que por isto não devemos nortear nossa vida em comunidade alimentados “por competição ou por vanglória; mas, com humildade”. (Fl.2,3)
Aos olhos de quem não adentrou na dinâmica do Evangelho, não vestiu os trajes dos convidados da festa do Reino (Cf: Mt. 22,1,14) e não aceita que a misericórdia divina se volte para buscar os perdidos ou pecadores, Jesus foi um rebelde. O cristão deve ter como exemplo esse Cristo, servo sofredor e humilde, que fez da sua vida um caminho de acolhida para quem deseja recomeçar sua peregrinação à Jerusalém Celeste. A parábola responde àqueles que o acusavam de acolher os pecadores e os excluídos, isto é, aqueles que aparentemente, disseram não a Deus em algum momento de sua vida. Jesus manifesta em suas palavras e na sua vida que, na perspectiva de Deus, não interessam as convenções externas, mas a atitude interior. O que honra a Deus não é o mero cumprimento de ritos externos para aparentar bondade, mas o coração que cumpre verdadeiramente a sua vontade. Os ritos celebrados devem ser acompanhados pela verdade do coração. Os fariseus celebravam ritos escrupulosamente, no entanto se recusavam a praticar a misericórdia para com aqueles que já estavam condenados aos olhos de quem não conhece o coração de Deus. Nós devemos celebrar o que vivemos e viver o que celebramos como nos recorda parte do Rito de Ordenação. “Toma consciência do que virás a fazer; imita o que virás a realizar, e conforma a tua vida com o mistério da Cruz do Senhor.”
Reflitamos: O que é que significa, dizer “sim” a Deus? Será que é ser batizado ou crismado? Será ser casado na igreja? É fazer parte de alguma pastoral ou movimento na paróquia? É ter feito votos em um instituto religiosos? É ir todos os dias à missa? Obviamente que isto expressa nosso sim a Deus! Todavia, é preciso que esse “sim inicial” se confirme, depois, no modo como vivemos a dignidade do sacramento do Batismo ou da Confirmação em um verdadeiro esforço permanente, trabalhando, na vinha do Pai. Nunca serão suficientes apenas palavras e declarações de boas intenções. É justo e necessário viver, dia a dia, os valores do Evangelho e seguir Jesus no caminho de amor que Ele percorreu e assim construir através gestos concretos, um mundo de justiça, de bondade, de solidariedade, de perdão, de paz.
Encerremos com o salmo deste domingo: O Senhor é piedade e retidão e reconduz ao bom caminho os pecadores. Ele dirige os humildes na justiça, e aos pobres Ele ensina seu caminho (vers. 8-9) Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos e fazei-me conhecer a vossa estrada. Porque sois o Deus da minha salvação; em Vós espero, ó Senhor, todos os dias! (vers. 4 -5)
Pe. Paulo Sérgio Silva.
Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.