HOMILIA DO 22º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A

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NOSSA MISSÃO É A CRUZ

Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga” (Mt. 16, 24)

            Irmãos e irmãs, a liturgia deste domingo é uma continuação do domingo passado. Como resposta a profissão de fé de Pedro e da Comunidade Cristã (Igreja), Jesus inicia o anúncio de sua Paixão e começa a apresentar o caminho da Cruz e explica aos discípulos o verdadeiro sentido do seu messianismo e da sua filiação divina. Assim sua comunidade compreende que a vida verdadeira e plena que Deus nos oferece passa pelo caminho do amor e do dom da vida (cruz).

            Na primeira leitura (Jr. 20,7-9) ouvimos uma oração em forma de lamento do Profeta Jeremias. Creio que já conhecemos um pouco da missão. Jeremias exerceu seu ministério em uma época de bastante insegurança social e infidelidade a Aliança. Os líderes do povo eleito abandonaram a confiança em Deus e a depositaram nas alianças políticas feitas com os povos estrangeiros. O profeta denuncia a falsa segurança e como resultado disto passa a ser perseguido e excluído por todos (família, amigos e líderes o ignoram). Acabou sendo preso acusado de anunciar desgraças e espalhar terror. Ouvimos então o lamento desconcertante do profeta que vive a solidão e a perseguição por causa de sua fidelidade a Palavra de Deus. O profeta já não sente mais a presença divina que o chamou e toma a firme decisão de não mais emprestar sua voz para que Deus possa ser ouvido pelo povo. No entanto, o amor pela Palavra divina queima no coração do profeta e ele não consegue resistir a seus apelos. Ele volta a missão. Mesmo em meio ao silêncio ensurdecedor da solidão e ao sofrimento da perseguição, o profeta alimenta a esperança de encontrar e permanecer com a presença de Deus em sua estrada e em sua missão.

            Na segunda leitura (Rm. 12,1-2) depois de discorrer longamente sobre o plano de salvação que Deus realizou na pessoa do seu Filho, Jesus Cristo, o Apóstolo começa a oferecer indicações práticas sobre como cada cristão pode viver e atualizar no cotidiano da vida esta salvação. O texto que meditamos hoje é uma espécie de introdução a estes conselhos práticos de como viver o Evangelho. Afinal, o que significa não se conformar com o mundo? O que significa oferecer inteiramente a vida a Deus? A resposta mais simples para estas duas indagações é: viver como Jesus Cristo. Não existe outro modelo de oferta plena da vida que possa falar mais alto ao nosso coração do que a sua oferta abnegada na cruz. Não se conformar com o mundo significa usar os dons dados por Deus para se afastar das ilusões e seduções do mal e do pecado; rejeitar o que não convém ao cristão para poder trilhar com fidelidade os caminhos da vocação e missão.

            A missão de Jesus Cristo já completava quase três anos. As multidões que o seguiam ficaram para trás e os líderes políticos/religiosos decidiram rejeitá-lo. Aqueles que continuam a acompanhar Jesus, se tornam o grupo definitivo dos discípulos. Eles acreditam que Jesus é o “Messias, Filho de Deus” e querem partilhar o seu destino de glória e de triunfo. Todavia Jesus irá explicar-lhes que a sua missão não passa por triunfos e sucessos humanos, mas pela cruz (cf. Mt. 16,21-17,21) e vai ensiná-los que viver como discípulo é seguir um caminho de entrega e de oferta do dom da vida (cf. Mt. 17,22-27).

            Os fatos narrados do evangelho de hoje (Mt. 16,21-27) acontecem logo após a confissão de fé de Pedro (Mt. 16,13-20) e podem ser divididos em duas partes: Na primeira, Jesus anuncia aos discípulos a sua paixão. A proposta do Reino de Deus foi rejeitada pelas multidões e pelos líderes judeus. No entanto, Jesus não desiste de sua missão e anuncia que pretende realizar até o fim os planos do Pai, mesmo que para isto seja necessário morrer. Pedro se opõe a este caminho. A recusa de Pedro e dos discípulos em aceitar o anúncio da paixão, significa que a sua compreensão da missão de Jesus ainda é muito imperfeita. Para ele, a missão do “Messias, Filho de Deus” é uma missão gloriosa e triunfante e na lógica de Pedro (que é o pensamento do mundo) a vitória não pode estar na cruz e na oferta da vida.  A esta ilusão de poder, Jesus responde com dureza, pois é preciso que os discípulos corrijam esta visão de Jesus e do plano do Pai que Ele vem realizar. O plano de Deus não passa por sucessos humanos, nem por planos de poder e de domínio. As palavras de Pedro pretendem desviar Jesus do cumprimento dos planos de Deus Pai e Jesus não está disposto a acolher qualquer proposta que o impeça de realizar, com amor e fidelidade, os projetos do Reino.

            Na segunda parte, o Mestre apresenta uma catequese sobre o sentido e as consequências de ser seu discípulo. Jesus é direto e incisivo. Quem quiser viver a vontade de Deus e ser seu discípulo, precisa “renunciar a si mesmo”, “tomar a cruz” e seguir Jesus no seu caminho de amor, de entrega e de misericórdia. Como prova disto, encontramos a vocação e missão profeta Jeremias na primeira leitura. Ele, um profeta de Israel, descreve a sua experiência de “cruz”. Chamado por Deus, Jeremias colocou toda a sua vida ao seu serviço. Na sua missão de profeta, ele teve que enfrentar os poderosos e lutar contra a lógica do mundo, por isso, ele conheceu o sofrimento, a solidão, a perseguição. É essa a experiência de todos aqueles que acolhem a Palavra de Deus no seu coração e vivem com coerência sua fé em Deus e se atrevem a colaborar com seus planos de salvação. A Palavra de Deus é um fogo abrasador, uma força irresistível, que consome o coração do profeta e que não permite a ele desistir da missão ou fugir para uma vida acomodada. Ao profeta resta, permanecer no serviço da Palavra, não desistir diante da solidão e de sofrimento, vivendo na esperança de, ao longo da missão, reencontrar e ser sustentado pelo amor de Deus que um dia o seduziu e o despertou.

            De fato, quem desejar encontrar o Senhor na glória da ressurreição, deve decidir segui-lo em todos momentos de sua vida e isto inclui subir com Ele o caminho do Calvário e abraçar a Cruz. Por isto, São Paulo, na segunda leitura, convida os cristãos a oferecerem sua vida a cada dia a Deus. Paulo garante que é esse o sacrifício que Deus prefere. Isto significa, de acordo com Paulo, não aceitarmos a lógica egoísta, individualista e materialista do mundo, aprendermos a discernir os planos de Deus e a viver nossa fé de forma coerente. O verdadeiro culto espiritual para São Paulo está na nossa relação com Deus, com os outros homens e com o mundo. Esta relação deve fazer o cristão renunciar aos caminhos do egoísmo, do orgulho, da injustiça e do pecado e a realizar uma mudança de coração (conversão pastoral, pessoal e comunitária), de mentalidade e de inteligência, que ajude ao homem discernir qual é a vontade de Deus e assim percorrer, com fidelidade, os seus caminhos.

            Eis o sentido de “renunciar a si mesmo”. É não deixar que o egoísmo, o orgulho, o comodismo dominem nossa vida. O discípulo/missionário não vive fechado no seu mundo, indiferente aos acontecimentos à sua volta, insensível às necessidades e sofrimentos dos irmãos, mas vive para Deus e na solidariedade, na partilha e no serviço ao próximo. “Tomar a cruz” É amar sem limites. Ser discípulo é estar disposto a dar a vida para que os seus irmãos sejam livres e felizes. Por isso, o cristão não tem medo de lutar contra a injustiça, a exploração, a miséria, o pecado, mesmo que isso signifique enfrentar a perseguição, a tortura e a morte.

            Neste domingo agradeçamos a Deus vocação e missão dos (as) Catequistas de todos os tempos. Mesmo em meio a perseguição, ingratidão e incompreensão, eles e elas permaneceram fiéis em sua missão e esta decisão vital fez com que o Evangelho chegasse até nós hoje.

Rezemos: Senhor, diante de Ti venho me prostrar. No teu gesto de amor e doação, venho aprender o que é realmente amar! Olhando e orando diante da tua cruz, contemplo toda a humanidade, principalmente aqueles que ainda hoje sofrem as consequências do egoísmo e indiferença humana. Senhor Jesus, que pelo mistério da cruz remistes o mundo, fazei frutificar em boas obras a vida de todos que contemplarem esta cruz. Vós que viveis com o Pai, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Pe. Paulo Sérgio Silva.

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.

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