HOMILIA DO 21º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B

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JESUS, CAMINHO, VERDADE E VIDA

A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”. (Jo. 6,68)

            Ao longo dos meses acompanhamos Jesus formando sua comunidade à luz dos valores eternos e permanentes do Evangelho. O “discurso do Pão da Vida” que temos refletido nestas últimas semanas é o ápice desta formação porque exige da multidão curiosa que segue Jesus a fazer a escolha de acolher seu projeto do Reino de Deus ou não. Encerrando o referido discurso, somos convidados também a fazer nossas escolhas. Assim, a Palavra de Deus nos revela que a nossa vida pode ser consumida em valores efêmeros e estéreis ou plenificada pelos valores eternos que nos conduzem à vida em abundância. Dois grupos de discípulos são apresentados: os discípulos da curiosidade que se dispersam com a multidão indignada e os discípulos do Senhor na comunidade apostólica. Em qual grupo ingressamos e iremos permanecer?

Na primeira leitura (Js. 24,1-2a.15-17.18b), no final da travessia de 40 anos no deserto, Josué convida Israel a escolher entre “servir o Senhor” ou servir outros deuses. Josué demonstra sua opção fundamental: “eu e minha casa serviremos o Senhor” (v. 15). Josué realiza no início de suas palavras uma recordação, memorial e, no contexto atualiza o evento salvífico do passado, no hoje do culto judaico. E recordando os grandes feitos de Deus no passado, o povo é convidado a escolher no presente o caminho que deseja permanecer. Seguindo seu líder, o povo escolhe permanecer servindo a Deus. A escolha do povo não é resultado de uma imposição, mas se trata uma resposta madura, afinal já não são um pequeno grupo de escravos fugitivos, mas uma multidão de pessoas livres que formou um povo que é fruto de uma experiência forte de Deus. Ao contemplar a própria história, Israel percebeu que só em Deus pode encontrar a liberdade e a vida em plenitude. Se trata da mesma escolha que é apresentada por Jesus aos discípulos e a multidão.

Na segunda leitura (Ef. 5,21-32), ao longo de sua carta, o Apóstolo Paulo informa aos cristãos de Éfeso que a opção por Jesus Cristo possui exigências também nas relações familiares. Os fiéis necessitam entender que os valores do Evangelho não são apenas para serem ouvidos e celebrados na liturgia, mas também serem vividos no concreto da vida cotidiana. Os discípulos de Jesus, precisam entender que a família é o lugar onde se deve viver primeiramente os valores de Jesus e do Reino. Aqui se deve entender que as palavras do Apóstolo não têm como intenção fazer apologia ou legitimar um autoritarismo arcaico e opressor. O apóstolo faz um paralelo entre Cristo-marido e Igreja-esposa. A Igreja, comunidade de fé, se empenha em servir a Cristo por amor, de modo semelhante, os maridos devem amar as esposas e se entregar por elas “assim como Cristo amou e se entregou pela Igreja” (Ef. 5,25). Uma vez que o amor de Cristo pela Igreja se reflete no amor dos esposos, os dois são chamados ao serviço, não a dominação; e devem escolher a doação da vida e não o egoísmo e o narcisismo.

No Evangelho (Jo. 6,60-69), finalizando a catequese contida no “discurso do Pão da Vida”, somos apresentados agora aos efeitos das palavras de Jesus nos seus ouvintes da multidão e principalmente nos discípulos. As palavras de encerramento de Jesus são ditas enquanto se vislumbra no horizonte a cidade de Jerusalém, altar do seu futuro e necessário sacrifício. À medida que o caminho e o tempo avançam, já não há mais espaço para dilemas, cinismo moral ou indecisões.  Se o tempo urge, se faz necessária uma opção clara e sem titubeios, um compromisso bem definido e sem rodeios. Em suma, uma decisão definitiva.

Jesus sabia que nem todos aqueles na multidão e que se diziam discípulos realmente acreditavam na sua Palavra. Aqueles que optaram pela lógica do poder, pelos interesses escusos da ambição e da glória, o abandonam. Ele está disposto a correr o risco de ficar sem discípulos, mas não está disposto a abandonar o caminho do Reino de Deus, pois sabe que o caminho do amor, do serviço, da partilha, da doação -, é o único caminho por onde é possível alcançar Deus e sua salvação.

Os verdadeiros discípulos, movidos pelo Espírito Santo, mesmo compreendendo os riscos do seguimento a Ele, escolhem permanecer no caminho do amor e do dom da vida, pois sabem que só Jesus tem palavras de vida eterna. As palavras duras e incômodas de Jesus são igualmente válidas para a nossa sociedade atual: “Vós também quereis ir embora?”  Na resposta de Simão Pedro se percebe o caminho que os Doze Apóstolos estão dispostos a seguir: “a quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (v. 68). A comunidade conhece e se reconhece na voz de Pedro e sabe que só no caminho proposto por Jesus poderá encontrar vida verdadeira.

Contemplemos o exemplo de fidelidade dado pelos apóstolos. Quem sabe hoje também seja a nossa vez de sermos postos à prova. É a nossa vez de ter a fé renovada e de proclamar que jamais abandonaremos Jesus e sua Igreja! No caminho do Reino de Deus, que culmina na mesa da Palavra e da Eucaristia, está a fonte de nossa fraternidade, o impulso inesgotável na multiplicação e partilha do pão da justiça, do amor e respeito à dignidade de todos.

Somos convidados a fazer juntos uma escolha. Mais uma outra vez fazer da voz de Pedro a nossa voz e repetir que queremos seguir Jesus, porque compreendemos que Ele, e somente Ele, tem para nós palavras de vida eterna. Que o Senhor em sua infinita misericórdia nos ajude para que nós – e nossa família – permaneçamos servindo a Ele, pois só Ele é o caminho, a verdade e a vida.

Pe. Paulo Sérgio Silva

Diocese de Crato.

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