HOMILIA DO 21º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A

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AFINAL, QUEM É JESUS?

SEMANA DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES LEIGAS

            Amados irmãos e irmãs, aproxima -se o fim do mês de agosto, mês que a Igreja reserva para aprofundar a reflexão sobre a Vocação, enquanto rezamos por todas e cada vocação que Deus concede à Igreja como caminho para atualizar a graça redentora de Cristo e dom para servir a humanidade. Como uma jornada, cada semana foi percorrida tendo como tema um tipo e modelo e vocação. Na primeira semana rezamos pelas Vocações Sacerdotais, na segunda rezamos pelas Vocações Matrimoniais e Familiares, na terceira rezamos pelas Vocações à Vida Consagrada e Religiosa e na quarta semana rezamos pelas Vocações Leigas.

            Na primeira leitura (Is. 22,19-23) ouvimos mais um oráculo do profeta Isaías, homem de origem de família nobre e culta, mas que se distinguiu como ferrenho defensor dos pobres, dos oprimidos, dos órfãos e viúvas. A princípio, o texto de hoje pode parecer destoado do tema da liturgia, pois, trata de um problema relacionado apenas a troca do copeiro do rei. O responsável por esta função recebia as chaves da casa, administrava os bens, decidia sobre a abertura e o fechamento das portas do palácio e também era responsável por escolher os visitantes que iriam ter a honra de ver o rei. Mas do que um cargo de poder, o copeiro deveria ser um servidor sem privilegiar ninguém. Que semelhança fundamental encontramos na entrega das chaves a Eliacim (copeiro do rei) e a Pedro? Cuidar do povo de Deus (Judá e Igreja). No que diz respeito a Pedro o fundamento da sua missão está em manter a Igreja fiel na mesma profissão de Fé que ele proclamou! Sua missão é cuidar do povo de Deus como um pai e garantir que povo não se desvie de proclamar que Jesus é o Senhor! Assim compreendemos a missão de Pedro. Sua vocação mais do que um cargo de autoridade, se trata de um serviço de caridade, pois a maior autoridade conferida por Cristo é presidir a Caridade (Mt. 23, 11). Eis em que consiste o verdadeiro serviço “das chaves”: ser um pai para aqueles sobre quem se tem responsabilidade e procurar o bem de todos com solicitude, igualdade, humildade, amor e justiça.

            Na segunda leitura (Rm. 11,33-36) acompanhamos o hino de louvor que fecha a reflexão do Apóstolo Paulo sobre o tema da salvação e como ela alcançará o povo de Israel. Sabemos como fato que o Povo Eleito rejeitou oferta da salvação que Deus fez a humanidade, na pessoa do seu Filho, Jesus Cristo. Para Paulo, mesmo com a recusa de Israel em acolher Jesus, Deus permanece fiel a promessa que fez e continua agindo para reconduzir seu povo eleito aos caminhos da salvação. Para o Apóstolo tudo isto serve e servirá para revelar as insondáveis sabedoria e misericórdia de Deus. Em suma, este hino ensina que nem sempre seremos capazes de compreender de imediato os desígnios de Deus, e quando tivermos momentos de dúvida sobre nossa vocação, devemos nos entregar confiantemente nos braços de Deus, acolher com humildade a sua Palavra e procurar seguir, com simplicidade, convicção e amor os seus caminhos misteriosos.

            No centro da reflexão que a liturgia deste domingo nos oferece, aparecem os dois temas em torno dos quais se constrói toda a missão cristã: Jesus Cristo e a Igreja. Por isto, o Evangelho (Mt 16,13-20) nos convida, discípulos de todas as épocas, a aceitar e acolher Jesus como “o Messias, Filho de Deus”. Desta decisão de segui-lo, nasce a Igreja que é a comunidade dos discípulos de Jesus, chamada e organizada a partir da vocação e missão de Pedro. A missão da Igreja é dar testemunho e permanecer anunciando a proposta de salvação que Jesus veio trazer. À Pedro, que representa a comunidade cristã, é confiado o poder das chaves; chaves estas que simbolizam o capacidade de interpretar as palavras e ensinamentos de Jesus, adaptá-los aos desafios do mundo e de acolher na comunidade cristã de todos os tempos, todos aqueles que decidirem viver com convicção a proposta do Reino que Jesus oferece.

            Para permanecer fiel à sua vocação essencial, a Igreja deve conhecer Jesus Cristo. Este conhecimento não se realiza ou acontece puramente como um processo intelectual. Como nos recorda o Documento de Aparecida, este conhecimento é fruto de um encontro pessoal e permanente com a pessoa de Jesus. Afinal, “no início do ser cristão não há uma decisão ética, ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo (Deus caritas est, 1)

            A passagem que nos é apresentada, assim como no Evangelho de Marcos, ocupa um lugar central no Evangelho de Mateus. Se trata de um momento de mudança, quando começa a ser apresentada no caminho de Jesus, a Cruz. Depois do êxito inicial do seu ministério, Jesus começa a sofrer a oposição dos líderes religiosos e políticos e experimenta a falta de interesse genuíno da multidão que o acompanhava. A sua proposta do Reino não é acolhida, a não ser por um pequeno grupo, o grupo dos discípulos. Jesus, então, dirige aos discípulos várias de perguntas sobre si próprio. Todavia, não se trata, de uma preocupação para medir sua popularidade. Trata-se, sobretudo, de tornar a sua missão clara para os discípulos e confirmá-los na sua opção de seguir Jesus e de decidir-se pelo Reino.

            As respostas dividem o evangelho em duas partes ou intenções.  A primeira, de caráter mais cristológico, ou seja, centralizado em Jesus e na definição da sua identidade. A segunda mais eclesiológica, se volta para a Igreja, que Jesus reúne em torno de Pedro. “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” As diferentes respostas expressam a opinião daqueles que não conseguiram vivenciar um verdadeiro encontro com Jesus Cristo. Como resultado do encontro superficial, eles não conseguem conhecer Jesus; não entendem sua condição única e essencial (é o Filho de Deus); não compreendem a originalidade e propósito de sua missão (é o Messias). Estas pessoas reconhecem, apenas, que Ele é um homem chamado por Deus e enviado ao mundo com uma missão igual os profetas do Antigo Testamento. Nesta visão dos “homens”, Jesus é um homem bom, justo, generoso, que escutou os apelos de Deus como Moisés, Elias ou João Batista. Embora seja muito importante esta afirmação, não é o suficiente para ser sinal do Reino. Na verdade, isto significa que os “homens” não entenderam a novidade do Messias, nem a profundidade do mistério de Jesus.

            O discípulo, para enfrentar os desafios da missão e não sucumbir aos caminhos e tentações do mundo, necessita conhecer verdadeiramente quem é Jesus e qual o centro de sua Vida e Missão. Pedro, ao responder a segunda pergunta representa uma comunidade que viveu o encontro e entendeu quem é o seu Mestre. Dizer que Jesus é o “Messias” significa dizer que Ele é esse libertador que Deus enviou para libertar Israel e lhe oferecer a salvação definitiva. No entanto, não apenas é isto. Chamar Jesus de “Filho do Deus vivo”, significa afirmar que Ele vive em total comunhão com Deus, em uma relação de indelével intimidade e que Deus Lhe confiou a missão de salvação da humanidade. Pedro assim, reconhece a unidade entre Jesus e o Pai e que Ele realiza os planos do Pai no meio dos homens. Os discípulos são chamados a entender o mistério de Jesus para poder colaborar com esta missão.

            Em seguida temos a resposta de Jesus à confissão de fé da comunidade dos discípulos apresentada pela voz e o coração de Pedro. Jesus começa felicitando Pedro pela clareza da fé que expressa. No entanto, essa fé não é mérito de Pedro, mas um dom de Deus, uma vocação. É preciso então ser fiel a este Dom. A entrega das chaves equivale à nomeação de “administrador da casa” com poder de “atar e desatar”. Um poder que requer fidelidade, responsabilidade e aptidão para o serviço, para que não venha acontecer a situação que a primeira leitura relata, onde um administrador infiel usa seu poder para benefício próprio. Assim, Pedro se torna administrador e supervisor da Igreja, com autoridade para interpretar as palavras de Jesus, adaptar os ensinamentos os seus as situações da vida diária e para acolher ou não novos membros na comunidade dos discípulos do Reino. Pedro tornou-se por escolha de Deus “aquele que preside a Caridade” (nas palavras de Santo Inácio de Antioquia). Todos são chamados por Deus a participar da comunidade do Reino, mas aqueles que não querem viver às propostas de Jesus não podem permanecer na comunidade.

            O discípulo deve transformar sua experiência de encontro com Jesus em serviço. E para isto, Deus oferece toda uma variedade e infinidade de vocações missionárias e leigas. Vocações que o Espírito Santo inspira no coração de cada batizado. Não como uma imposição, mas como chamado, como convite a servir ao próximo; para que através deste serviço encontre a plenitude que Jesus oferece. Diante desta sabedoria divina que designa um caminho de plenitude para cada filho e filha, o discípulo deve louvar a Deus, como o Apóstolo Paulo faz na segunda leitura.  Afinal, o verdadeiro cristão é aquele que, mesmo sem entender o alcance dos planos de Deus, se confia inteiramente as suas mãos e deixa que sua admiração e adoração sejam expressos num hino de louvor: “Glória a Deus para sempre. Amém”.

            Encerremos nosso diálogo com a oração vocacional: Senhor da messe e Pastor do rebanho, faz ressoar em nossos ouvidos teu forte e suave convite: “Vem e segue-me”! Derrama sobre nós o teu Espírito, que ele nos dê sabedoria para ver o caminho e generosidade para seguir tua voz. Senhor, que a messe não se perca por falta de operários. Desperta nossas comunidades para a Missão. Ensina nossa vida a ser serviço. Fortalece os que desejam dedicar-se ao Reino na diversidade dos carismas e ministérios. Senhor, que o rebanho não pereça por falta de pastores. Sustenta a fidelidade de nossos bispos, padres, diáconos, consagrados e consagradas, ministros leigos e leigas. Dá perseverança a todas as pessoas vocacionadas. Desperta o coração dos jovens, para ministério pastoral em tua Igreja. Senhor da messe e Pastor do rebanho, chama-nos para o serviço de teu povo. Maria, mãe da Igreja, modelo dos servidores do Evangelho, ajuda-nos a responder “Sim”. Amém!

Pe. Paulo Sérgio Silva.

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.

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