HOMILIA DO 1º DOMINGO DO ADVENTO – ANO B

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VIGIAR PARA ACOLHER A SALVAÇÃO QUE VEM DE DEUS

Vigiai! Não sabeis quando o dono da casa vem”. (Mc. 13,35)

Diletos Irmãos e Irmãs.

            Como esta celebração abrimos as portas de nossos corações para vivenciar o Advento a fim de colher todos os possíveis frutos que ele tem a nos oferecer para bem nos preparar para celebrar a Encarnação do Verbo. Se trata de um tempo litúrgico que possui como característica o inegável apelo a conversão, a vigilância e a esperança. Sendo assim a liturgia da Palavra nos convida a analisar e avaliar a nossa caminhada pelos caminhos da história, enquanto nos indica ações e atitudes concretas que nos orientam sobre o modo correto de vivenciar esse tempo de espera.

            No Evangelho de hoje (Mc. 13,33-37), por meio de uma parábola, Jesus Cristo exorta os discípulos a enfrentar a história com coragem, determinação, coerência e esperança, animados pela certeza de que Deus vem ao seu encontro. Assim, ensina que esse tempo de espera deve ser um tempo de atenta vigilância.  Esta vigilância não deve ser entendida como um momento de inércia ou de acomodação, pelo contrário dever ser vivida como um tempo de compromisso ativo e coerente com a fé para que se possa realizar a construção do Reino.

            Para entender bem a perspectiva do advento é preciso ter em mente que se trata se um tempo de espera e preparação para bem celebrar o nascimento do Messias, mas também tempo de espera e conversão tendo em vista a esperança da segunda vinda de Jesus Cristo. Por isto, o texto que nos é hoje proposto como Evangelho nos transporta para Jerusalém, nos dias que antecedem a Paixão e Morte de Jesus. Depois da entrada de em Jerusalém, Jesus inicia os dias de catequese com os discípulos e das polêmicas com os líderes judaicos como aparece em Mc. 11,20-13,1-2. O objetivo do Mestre é dar aos discípulos indicações sobre como enfrentar os desafios que marcarão a caminhada da comunidade, até à vinda final de Jesus para instalar, em definitivo, o novo céu e a nova terra, isto é o Reino de Deus em plenitude. O Messias está consciente de como será concluída a sua missão e não ignora que os seus discípulos irão enfrentar as dificuldades, as perseguições, as tentações que o mundo vai colocar no seu caminho. Essa comunidade necessitará, portanto, de estímulo e alento para que diante do sofrimento, não venha a abandonar a fé. É por isso que surge este apelo à fidelidade, à coragem, à vigilância.

            A parábola em questão é curta e direta. Fala de um homem que partiu em viagem e distribuiu tarefas aos seus servos e mandou ao porteiro que vigiasse a porta (cf. Mc 13,33-34). Terminada a parábola, o Mestre realiza uma admoestação aos discípulos sobre a atitude correta para esperar o Senhor (cf. Mc. 13,35-37). Assim, o objetivo é manter vivo no coração do discípulo o dever de guardar e fazer crescer e frutificar o Reino que Jesus lhes confiou antes de partir para o Pai.

            Nesta ótica, a primeira leitura (Is. 63,16b-17.19b;64,2b-7) retirada do livro do Profeta Isaías, trabalha também com a possibilidade do povo de Israel, depois dos anos em que esteve cativo no Exílio da Babilônia, novamente se encontrar com seu Deus libertador e salvador. Deste modo, na comovente oração que possui traços de exame de consciência e confissão de pecado, Deus é apresentado como que revestido de características de pai, pastor e redentor, no sentido de vir ao encontro para o libertar do pecado e para recriar um Povo de coração convertido e santo. O profeta sabe que a essência de Deus é amor e misericórdia. Por isto, tem esperança e certeza de que a sua ação salvadora libertará o seu Povo. O profeta reconhece que o povo foi rebelde e infiel. Endureceu o coração e se tornou frio e indiferente.  Ele sabe que o povo se encheu de orgulho, que há muito tempo esqueceu de Deus e deixou de fazer esforço para viver de forma coerente os compromissos assumidos da Aliança. Sua suplicante oração termina com uma imagem muito bela: Deus é visto como oleiro e o seu Povo é o barro que Ele modela com amor e cuidado. A imagem serve, certamente, para definir o poder e o domínio de Deus que pode modelar o seu Povo como bem Lhe desejar. Mas também faz alusão ao poema do livro do Gêneses (Gn. 2,7) que narra a criação nos primórdios, pois se trata de fato daquilo que o profeta espera de Deus: uma nova criação. Mas para isto, o povo precisa se converter e deixar-se moldar pelo amor do seu Deus.

            São Paulo, na segunda leitura (1Cor. 1,3-9) e em comunhão com a oração do profeta Isaías, reconhece que a ação redentora de Deus, concretiza-se através de seu Filho Jesus e das propostas que Ele veio fazer aos seres humanos. Jesus, o Filho de Deus, nascido na plenitude dos tempos é a resposta de Deus a oração do profeta feita na primeira leitura (Gl. 4,4-7). E exorta a comunidade dos Coríntios, recém nascida por meio de sua pregação apostólica, a reconhecer que no Filho todos os povos foram “enriquecidos em tudo, em toda palavra e em todo entendimento”.  Neste Advento, estamos dispostos a acolher Jesus, nos converter e aceitar as propostas que Deus, através d’Ele, nos faz?

            Na nossa catequese em forma de parábola, o “dono da casa” da parábola é, certamente, Jesus. Ao concluir sua missão com a Ressureição e Ascensão, Ele volta para junto do Pai e confia aos discípulos a missão de dar continuidade ao “Reino”, isto é, fazer deste mundo uma realidade construída de acordo com os valores do Reino de Deus. Os discípulos de Jesus não podem, portanto, viver acomodados, à espera de que o Senhor venha novamente. Eles receberam uma missão que lhes foi confiada pelo próprio Jesus e que eles devem realizar, mesmo diante das perseguições, rejeições e desafios. É necessário não esquecer que esta espera, vivida no tempo e na história, não é uma espera passiva, de quem se limita a deixar passar o tempo até que chegue o final dos tempos. Se trata de uma espera ativa e atenta, que indica um compromisso sério e coerente com a construção de um mundo mais fraterno, mais justo, mais evangélico. E afinal, quem é o “porteiro”, que deve vigiar a porta? Na perspectiva de Marcos, o porteiro é todo aquele que tem uma responsabilidade especial na comunidade cristã, logo, é todo cristão que cuja missão ou vocação o levou a assumir uma liderança ou coordenação a frente de qualquer pastoral, movimento ou serviço seja na sua pequena comunidade ou mesmo na paróquia e diocese. Ao porteiro foi confiada a missão da vigilância e da animação da comunidade. Eles devem ajudar a comunidade a discernir dentre os valores do mundo, aquilo que a comunidade pode ou não aceitar para viver na fidelidade a Jesus e ao seu Reino. Quais são os nossos critérios, no discernimento dos valores que guiam nossas comunidades? São os nossos próprios interesses e perspectivas pessoais e egoístas ou o Evangelho de Jesus?

            Como discípulos missionários devemos corajosamente resistir à tentação de cair no sono do desânimo e letargia espiritual (Rm. 13,11-14). Não podemos ignorar os valores do Evangelho e viver nos deixando guiar pelos valores mundanos como capitalismo, materialismo, egoísmo, individualismo, violência, corrupção e frieza espiritual. Devemos com coragem e perseverança, dar nossa contribuição para a edificação do Reino, sendo testemunhas e anunciadores da paz, da justiça, do amor, do perdão, da fraternidade, cumprindo dessa forma a missão que Jesus lhes confiou.

            Encerremos rezando nosso salmo de hoje: “Ó Pastor de Israel, prestai ouvidos. Vós sobre os querubins vos assentais, aparecei cheio de glória e esplendor! Despertai vosso poder ó nosso Deus e vinde logo nos trazer a Salvação!” (Sl. 79,2ac-3b)

Pe. Paulo Sérgio Silva.

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.

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