REUNIDOS COM CRISTO, PARTILHANDO O PÃO E A VIDA
“Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu aos que estavam sentados…” (Jo. 6,11)
A liturgia deste domingo novamente nos apresenta a solicitude e generosidade de Deus preocupado em saciar a “fome” de vida de toda a humanidade. Deus nos convida a repartir o Pão e a vida com todos aqueles que têm “fome” de dignidade, de amor, de liberdade, de justiça, de paz e de esperança. Aqueles que são alimentados pelo Palavra de Deus se unem, formam o corpo de Cristo e vivem a unidade na caridade do pão partilhado.
Na Primeira Leitura (2Rs. 4,42-44), um episódio da missão do Profeta Eliseu. Em sua época, o povo eleito, influenciado pelo culto as entidades pagãs, passou a buscar alianças políticas que aparentavam oferecer mais segurança que a Aliança estabelecida com Deus. Como resultado, aconteceu grande instabilidade política, religiosa e social. Apesar disto, no evento narrado, o profeta recebe pães feitos com os primeiros frutos da colheita, que deviam ser apresentados e consagrados a Deus. O profeta Eliseu, ao partilhar o pão que lhe foi oferecido com as pessoas que o rodeavam, revela que Deus age, não por gestos mágicos, mas através da generosidade do nosso coração. A leitura nos apresenta a mesma realidade repleta da Graça divina que o Evangelho irá contemplar: a confiança na providência faz com que o pouco oferecido, acolhido e compartilhado, revele a superabundância da ação divina. Assim como aconteceu com Eliseu no A.T., as ações miraculosas de Jesus manifestam no N. T. a presença da graça e da vida de Deus no meio do seu Povo.
Na Segunda Leitura (Ef. 4,1-6), o Apóstolo Paulo lembra a comunidade cristã de Éfeso – e a nós também – algumas exigências da vida cristã: que a humildade, a mansidão e a paciência são incompatíveis com o egoísmo, o orgulho, a prepotência e o preconceito que causam a divisão. Assim, é justo e necessário compreender que a caridade deve ser o centro das relações que estabelecemos uns com os outros, pois o amor deve ser sempre a base de todas as nossas relações.
Se no Evangelho (Jo. 6,1-15) passado vimos a compaixão de Jesus ao ensinar a uma multidão faminta da Palavra de Deus, neste domingo contemplamos a compaixão de Jesus agindo através de gestos concretos. Os discípulos – os continuadores da missão de Jesus Cristo – são convidados a abandonar a lógica egoísta do mundo que nos leva a esconder os dons recebidos e a assumir a lógica divina da partilha, que propõe à doação plena pelos irmãos e irmãs.
O evangelista inicia a narração fazendo um paralelo entre a páscoa judaica e a ação messiânica de Jesus. Se para os judeus a páscoa era a festa da libertação, ação de Jesus possui o mesmo efeito uma vez que Ele é apresentado atravessando um grande mar e curando (libertando) o povo de tudo que o oprimia.
O Pão, alimento básico e essencial para todos os povos, é apresentado como sinal da ação divina. Pão espiritual (Palavra/Evangelho) e Pão material, ambos são oferecidos por Jesus a numerosa multidão que insistentemente o seguia. Na bíblia, partilhar o pão com alguém significa estabelecer laços familiares com essa pessoa. Em um contexto de escassez de alimento e de justiça, a atitude de partilhar o pão era semelhante ao ato de lançar o alicerce de uma casa, pois criava uma comunidade unida por laços fraternos.
A fome – de alimento material e de dignidade – é uma realidade inegável no mundo. Deus a ignora? Ou age magicamente fazendo surgir o “pão” num estalar de dedos? A Palavra que meditamos nos sugere que Deus atua de forma mais simples: através da sua Palavra semeada. Esta Palavra ao ser acolhida no coração, depois frutifica em gestos concretos de generosidade e de doação.
O primeiro sinal que vemos é a partilha. Alguém, naquela imensa multidão, atingido pela força da palavra de Jesus, decide oferecer o pouco que possuía para alimentar sua família. Jesus acolhe a doação e, dando graças ao Pai, distribui o pão que se multiplica milagrosamente (segundo sinal ou milagre). Assim, entendemos que Deus – mesmo podendo realizar tudo sozinho -, escolhe sempre fazer isso através da colaboração da própria humanidade. Como afirmava Santo Agostinho: “O Deus que te criou sem ti, não te salvará sem ti”. Muitas vezes, sonhamos com ações divinas grandiosas e espetaculares, esquecendo-nos que Deus veio ao nosso encontro através da colaboração e do “Sim” livre de uma mulher e que Ele Se manifesta na nossa ação generosa quando praticamos, sem propaganda, gestos de partilha, de solidariedade, de doação.
A multidão saciada deseja aclamar Jesus como Rei, porque não compreende a verdadeira missão do Messias. Ele não veio resolver os problemas do mundo através de um projeto de dominação política e de poder. Os religiosos que abandonam sua missão e vocação para se tornarem candidatos políticos, aderindo a uma ideologia, revelam que não compreenderam a missão de Jesus ou concluíram que o projeto do Reino de Deus não é suficiente para promover a paz.
Neste domingo, celebramos o Dia Mundial do Idoso instituído pelo Papa Francisco, uma oportunidade para retribuirmos, por meio do cuidado e zelo, tudo aquilo que recebemos deles enquanto crescíamos. Para o Papa Francisco celebrar esta data tem como objetivo “destacar como a solidão é, infelizmente, a amarga companheira na vida de muitos idosos, que muitas vezes são vítimas da cultura do descarte”. Neste ano de preparação para o Jubileu 2025, que terá como temática a Oração, refletirá a súplica de um ancião que reconhece a sua história de amizade com Deus.
Lembremos: para que haja pão (alimento material) suficiente para todos, faz-se necessário a conversão do nosso coração. Essa conversão acontece quando acolhendo a Palavra Deus deixamos que Ele cresça e dê frutos de santidade em nossas vidas.

Pe. Paulo Sergio Silva.
Diocese de Crato




