HOMILIA DO 15º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

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O AMOR É A PLENITUDE DA LEI

Ele viu e sentiu compaixão”. (Lc 10, 33)

A liturgia deste domingo apresenta mais um dos encontros catequéticos de Jesus Cristo com o grupo dos mestres da Lei. Ao trazer a questão sobre a dúvida em relação a garantia de vida eterna, o texto como resposta oferece o ensinamento de Jesus sobre o mandamento do amor fraterno, algo essencial da vida cristã. Como alcançar a vida eterna? Ou numa linguagem mais simples: como conseguir ir para o céu? A resposta de Jesus em forma de parábola nos ensina que se desejamos verdadeiramente conviver com Deus eternamente, devemos desde já aqui na terra praticar a compaixão e a misericórdia que são expressões da presença Dele em nossa vida.

Na primeira leitura (Dt 30,10-14) Moisés fala ao povo de Israel convidando todos os seus membros a viverem os mandamentos não como uma lista de normas frias, mecânicas e obsessivas, mas como presença de Deus em suas vidas. Entregar a Deus o coração (converter-se ao Senhor. Dt 30,10) se torna o único caminho capaz de tornar possível a observância dos mandamentos porque com o coração entregue a Deus, o povo enxergará cada irmão como os mesmos olhos de misericordiosos de Deus. Porque amar a Deus de todo coração significa amar também os outros seres humanos de todo coração.

Na segunda leitura (Cl 1,15-20), o Apóstolo Paulo apresenta-nos um hino cristológico onde ensina aos cristãos colossenses que a referência fundamental para o nosso coração sempre será o coração do próprio Jesus Cristo. Possivelmente este hino era usado nas celebrações das primeiras comunidades cristãs afim de manter na memória e no coração as características vitais de Jesus Cristo. Ele foi composto provavelmente para combater falsas doutrinas que haviam espalhado na comunidade. Alguns pregadores criaram uma falsa hierarquia divina e afirmavam a necessidade de adorar outros seres transcendentes (espíritos, anjos, potestades, etc.), tornando Jesus Cristo apenas um membro comum destes grupos. A princípio o texto aparenta fugir do tema da catequese litúrgica de hoje, todavia não se trata disto. A ideia central do texto é, portanto, afirmar unidade entre a criação e a redenção, em Cristo. Logo, entendemos que Jesus Cristo é o alicerce a partir do qual devemos construir nossa vida e história. Ele é a cabeça da redenção, justificando toda a criação em sua glória, porque é também a cabeça da criação (por isto é chamado de “primogênito de toda a criação” Cl 1,15). Se Jesus Cristo é a misericórdia de Deus Pai, sua vida é modelo para todos que desejam alcançar a vida eterna.

O Evangelho (Lc 10,25-37) nos apresenta um episódio ocorrido no início da subida de Jesus para Jerusalém. Ao longo desta jornada espiritual e geográfica Jesus foi abordado por diversas pessoas com diferentes questões. Aqui se trata de um mestre da Lei interessado não em encontrar a verdade, mas em colocar Jesus a prova para depois o acusar. Mesmo conhecendo sua má intenção, ao invés de fechar-se, Jesus dialoga com o mestre da Lei o levando a citar o livro do Deuteronômio como resposta para sua própria questão. Em seguida apresenta a parábola do Bom Samaritano como forma de ensinar a praticar essencialmente o que a Lei pede e ensina.

Na parábola, Jesus apresenta o modelo de comportamento ético e moral não apenas para quem é cristão ou judeu, mas para toda a humanidade. O Bom Samaritano mesmo sem conhecer a lei, age como Deus, porque age motivado pela profunda compaixão diante do sofrimento. O samaritano, que era considerado um infiel segundo os padrões legalistas, diferente do sacerdote e do levita que conheciam bem a Lei, foi capaz de deixar tudo para salvar a vida de um desconhecido que se quer foi capaz de agradecê-lo. O sacerdote e o levita conheciam as leis relacionadas às impurezas (Levítico 15,1-33/ Levítico 21,11) e sabiam que ao desobedecê-las ficariam impedidos de entrar no Templo – a morada de Deus. Eles seguem a Lei, todavia por esquecerem que o verdadeiro culto é a prática do amor, eles acabam não alcançando a presença divina (disse o profeta Oséias: “Pois é amor/misericórdia que eu desejo e não sacrifício ritualOs 6, 6). O único que consegue aproximar verdadeiramente de Deus é o Samaritano porque sua atitude revela um coração transbordando compaixão.

Sua atitude lembra a compaixão de Deus diante do sofrimento do povo de Israel durante a escravidão do Egito. Assim entendemos que o próximo não é apenas alguém da minha família ou comunidade; é todo aquele que encontramos pelo caminho da vida e que necessita de nossa compaixão, de nosso amor e nosso cuidado, independentemente de raça ou religião. É alguém que depende de nós para recuperar a dignidade de sua vida.

Entretanto, se faz necessário ressaltar que Jesus de modo algum está negando a importância da Lei. Ele não veio para destruí-la, mas para dar-lhe pleno cumprimento. No entanto a vivência da Lei deve ser acompanhada de imensa misericórdia e compaixão.  (Mt 5, 17-19) Afinal como afirmava o Apóstolo Paulo a plenitude da Lei é o Amor. (Rm 13,10 – Gl 5,14). Na era patrística, Santo Agostinho irá formular uma pequena frase que se tornará caminho seguro para quem deseja ter um bom guia na busca por Jesus Cristo: “Ama et fac quod vis” – “Ama e faz o que quiseres” (Tratado 7, seção 8 do Comentário à Primeira Carta de João). Significa dizer que, se o amor verdadeiro estiver presente em suas ações, qualquer coisa que você fizer terá como objetivo o bem e o amor ao próximo. Em suma, se o amor for a motivação por trás de suas ações, elas serão naturalmente boas e justas, logo, elas lhe ajudaram a vivenciar já aqui na terra a vida eterna que deseja encontrar no céu.

Assim, nosso redentor nos ensina que se nós queremos verdadeiramente a vida eterna. Se queremos arduamente ir para o céu. É preciso então desde já aqui na terra pôr em prática a compaixão de Deus. Amar como Deus Pai ama a humanidade. Amar como Jesus nos amou na cruz. Amar como o Espírito Santo que habita em nós nos impulsiona. E a Igreja – a comunidade dos discípulos que caminham para a Jerusalém celeste – aprende e entende que uma parte essencial da sua missão sempre será sempre esta: ter compaixão e levantar todos os homens e mulheres caídos nos caminhos da vida e da história.

Pe. Paulo Sergio Silva.

Diocese de Crato.

 

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