No dia 1º de setembro milhares de fiéis se reuniram na Catedral Nossa Senhora da Penha, em Crato- CE, para festejarem o dia da padroeira da Diocese de Crato.
O Bispo Dom Fernando Panico, na solenidade da padroeira, reforçou a importância de Maria para a Igreja, “Maria oferece a todos a salvação de Deus, que ela acolheu em seu próprio Filho”, e falou da necessidade de se ter a fé com obras, “Na fé, o importante não é afirmar que se crê em Deus, mas saber em que Deus se crê. Se creio num Deus autoritário e justiceiro, acabarei procurando dominar e julgar a todos. Se creio num Deus que é amor e perdão, viverei amando e perdoando.”
Confira a Homilia de Dom Fernando na Solenidade de Nossa Senhora da Penha 2015:
HOMILIA NA FESTA DE NOSSA SENHORA DA PENHA 2015
Amados irmãos e irmãs, queridos padres, diáconos, religiosas e religiosos, seminaristas, leigos e leigas:
Bendito seja Deus que nos concede a graça de celebrar mais uma vez a solenidade de Nossa Senhora da Penha, Padroeira desta Diocese e cidade de Crato. Todos os anos, esta Festa nos reúne a todos ao redor de Maria, a Mãe de Jesus e Mãe da Igreja, para revisitar e reviver, com coração aberto e humilde, as alegrias da fé testemunhada e celebrada por nossa Mãe SSma. em sua caminhada de mulher cheia de graça, a Virgem Mãe que sabe ouvir tudo o que Deus lhe diz. Olhando para a imagem histórica de Nossa Senhora da Penha, que há 270 anos é venerada neste lugar, nosso coração de filhos devotos da Virgem Maria quer contemplar em Nossa Senhora a sede da Sabedoria, o trono da Graça divina, aquela que é feliz porque acreditou, ou seja, confiou totalmente no poder de Deus que socorre o seu povo, lembrando-se de sua misericórdia.
O Evangelho de Lucas nos relata que logo que Maria soube da gravidez de sua prima Isabel, se levantou para ir visitá-la. Maria que acabava de receber a boa notícia do nascimento de Jesus quer participar com sua prima a alegria do dom de Deus. São necessários dois a três dias de caminhada para Maria, que deixa a Galiléia, no norte do país, para ir até a montanha de Judá, no sul do pais, onde viviam Isabel e Zacarias. Eis que a Virgem que o Senhor por mãe escolheu, apressada, sobe a montanha. Outra mãe vai servir, já tão idosa que nos braços a acolhe. Maria e Isabel estão plenas do Espírito Santo. As duas carregam nos seus seios um precioso fruto. O filho de Isabel é o profeta do Altíssimo. O filho de Maria é o Filho do Altíssimo. O encontro de Maria com Isabel é suscitado pelo Senhor e manifesta alegria e ação de graças. Maria, após Isabel, pronuncia seu cântico: “Minha alma proclama a grandeza do Senhor, meu espírito se alegra em Deus, meu salvador”.
A cena descrita pelo Evangelho que ouvimos é comovente. E nos traz uma mensagem cristalina e belíssima: a vida muda quando é vivida a partir da fé. Para as duas mães, Maria e Isabel, mães que creem, acontecimentos como a gravidez e o nascimento de um filho adquirem sentido novo e profundo. As duas mulheres vão ser mães. As duas foram chamadas a colaborar no plano de Deus. Maria, que veio apressadamente de Nazaré, transforma-se na figura central. Tudo gira em torno dela e de seu Filho.
Maria, “a mãe do meu Senhor”. Assim proclama Isabel em voz alta e cheia do Espírito Santo. Isto é certo para os seguidores de Jesus. Maria é antes de tudo, a Mãe de nosso Salvador. Daí parte sua grandeza. Os primeiros cristãos nunca separam Maria de Jesus. Eles são inseparáveis.
Maria, aquela que crê, é por Isabel proclamada feliz porque acreditou. Maria é grande não simplesmente por sua maternidade biológica, mas por ter acolhido com fé o chamado de Deus para ser Mãe do Salvador. Ela soube ouvir a Deus, guardou sua Palavra dentro de seu coração; meditou-a; a pós em pratica cumprindo fielmente a sua vocação. Maria é a Virgem fiel, que crê.
Maria, a evangelizadora. Maria oferece a todos a salvação de Deus, que ela acolheu em seu próprio Filho. Essa é sua grande missão e seu serviço.
Maria, portadora de alegria. A partir de uma atitude de serviço e de ajuda a quem precisa, Maria irradia a Boa Notícia de Jesus, o Cristo, que ela sempre traz consigo. Ela é para a Igreja o melhor modelo de uma evangelização prazerosa.
Amados irmãos e irmãs, nesta Festa de Nossa Senhora da Penha, que celebramos um ano após das comemorações pelo primeiro centenário desta querida Diocese de Crato, olhemos de verdade para Maria nossa Mãe e, como ela, nós também possamos ser felizes porque cremos. Feliz aquele que crê. O pensador francês Pascal atreveu-se a dizer que “ninguém é tão feliz quanto um cristão autentico”. Mas a imensa maioria hoje pensa o contrário: a fé tem pouco a ver com a felicidade, pois a religião é um estorvo para viver a vida de maneira intensa, porque mata o prazer de viver. O que aconteceu? Por que se fala tão pouco de felicidade nas Igrejas? Porque muitos cristãos não descobrem Deus como o melhor amigo de sua vida? Temos um canto para o Ato Penitencial na Missa que nos sugere uma resposta a esta pergunta:
Pelos pecados, erros passados, por divisões na tua igreja ó Jesus.
Senhor piedade! Senhor piedade! Senhor piedade! Piedade de nós
Quem não te aceita, quem te rejeita pode não crer por ver cristãos que vivem mal.
Cristo piedade! Cristo piedade! Cristo piedade, piedade de nós
Hoje se a vida é tão ferida, deve-se à culpa e à indiferença dos cristãos!
Senhor piedade! Senhor piedade! Senhor piedade! Piedade de nós.
Apesar das incoerências e da infidelidade de nossa vida medíocre, ditoso é também hoje aquele que crê do fundo do seu coração no Amor e na Misericórdia de Deus.
Estamos vivendo um tempo em que, cada vez mais, o nosso único modo de poder crer verdadeiramente será para muitos, aprender a crer de outra maneira. Já o grande convertido John Newman anunciou esta situação quando advertia que uma fé “passiva”, herdada e não repensada, terminaria entre as pessoas cultas em “indiferença” e, entre as pessoas simples em “superstição”. Para crer em Deus é necessário passar de uma fé passiva, infantil, herdada, para uma fé mais responsável e pessoal. Na fé, o importante não é afirmar que se crê em Deus, mas saber em que Deus se crê. Se creio num Deus autoritário e justiceiro, acabarei procurando dominar e julgar a todos. Se creio num Deus que é amor e perdão, viverei amando e perdoando.
Maria é o melhor modelo da fé viva e confiante. É a mulher que soube ouvir a Deus no fundo de seu coração e viveu aberta a seus desígnios de salvação. Sua prima Isabel a elogiou com estas palavras: “ Feliz és tu, que creste”. Felizes também nós, você e eu, se aprendermos a crer. É a melhor coisa que nos pode acontecer na vida.
Crer sem desanimar nas dificuldades e nas tormentas da vida. Uma fé inabalável em Cristo, uma fé firme como a rocha. Tudo para Deus é possível. E tudo será possível pela fé e a confiança filial em Deus, a exemplo de Maria. Recordemos e inspiremo-nos na fé de nossos santos e santas, nossos pais e mães de vida espiritual. No 5º centenário de Santa Teresa de Ávila, em meio a tantas turbulências na nossa Igreja, a nossa fé permaneça inabalável: “Nada te perturbe. Nada te amedronte. Tudo passa. Só Deus não passa. A paciência tudo alcança. A quem tem Deus nada falta. Tudo passa”.
Amados irmãos e irmãs, Nossa Senhora da Penha nos obtenha caminhar na fé, que muitas vezes se nos apresenta como um caminho escuro, o caminho da Cruz. A Cruz é na verdade o único caminho da fé. Ao mesmo tempo, é da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo e das nossas cruzes pessoais, comunitárias e sociais, quando unidas à cruz redentora da Paixão e Morte do Senhor, que se manifesta a gloria e a sabedoria de Deus, cujo brilho revela em nossas noites a Presença luminosa da fé que nos permite caminhar seguros, sem tropeçar e cair em tentação.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.





