HOMILIA DA FESTA DA EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ – ANO C

Compartilhe:

VITÓRIA, TU REINARÁS! Ó CRUZ, TU NOS SALVARÁS!

“[…] assim é necessário que Filho do Homem seja levantado, para que todos que nele creem tenham a vida eterna.” (Jo 3,14-15)

A Festa que celebramos hoje se trata de uma das mais antigas do cristianismo. Iniciada no dia 13 de setembro do ano 325. A Cruz de Jesus é a mais magnífica expressão do oblativo amor divino. O Deus que caminhou invisivelmente conosco em meio aos percalços da história, na plenitude dos tempos assumiu nossa frágil condição e na cruz revelou-se doação, serviço e vida em abundância. Celebremos a vida que nos foi dada na cruz enquanto buscamos proteger a dignidade da vida em todas as suas manifestações.

Na primeira leitura (Nm 21,4b-9), o Livro dos Números, deixando de lado os numerosos censos e registros que lhes são característicos, narra um episódio do período em que os israelitas atravessavam o deserto em busca da terra prometida. Israel, apesar de já liberto pelo Senhor, continuava preso a mentalidade de escravo. Diante das inúmeras adversidades (calor escaldante, fome, sede, cansaço físico e mental, predadores, inimigos humanos, etc.) o povo realiza mais um momento de revolta e ingratidão para com Deus e Moisés. Utilizando-se de um tradicional pensamento teológico (pecado, castigo, conversão, salvação), o autor do livro revela a paciência e a solicitude de Deus que acompanha toda a humanidade “neste vale de lágrimas” enquanto peregrinamos em busca do Reino dos Céus. Do mesmo modo que a ação e missão de Jesus Cristo nos revelou, aqui, neste texto, são apresentados o zelo, a misericórdia e compaixão deste Deus sempre disposto a curar as feridas que a “serpente do pecado” nos causa diariamente. Como o povo de Israel também nos acostumamos a enxergar como “castigo de Deus” os acontecimentos que nos causam sofrimento. No entanto, esquecemos que o maior castigo foi Ele quem suportou por nós na cruz.

Na segunda leitura (Fl 2,6-11), Paulo apresenta aos cristãos de Filipos, através da recitação de um hino cristológico, os pontos centrais da sua Teologia da Encarnação. Jesus Cristo, o Filho Unigênito, enviado pelo Pai em missão redentora, embora tendo igual divindade, por amor e obediência, despiu-se da dignidade divina ao encarnar-se. Se no deserto Israel duvidou muitas vezes da solicitude Deus, na Cruz, esta dúvida se torna impossível. Ao contemplar a imagem do crucificado qualquer um pode compreender qual o limite do amor divino. Na cruz a humanidade compreende até onde vai a solidariedade divina conosco e até onde Ele está disposto a carregar o nosso sofrimento. Se na encarnação Jesus Cristo assume nossa condição, na sua Cruz se materializa visível e silenciosamente nosso sofrimento e pecados, colocados sobre os seus divinos ombros como se fossem seus. Ele não apenas sofre conosco, Deus que vive eterna comunhão, aceitou viver uma cisão na sua unidade divina, afim de nos resgatar em seu amor. Cristo, por amor e serviço, submeteu-se ao nível mais baixo da humilhação, da solidão e da dor, para “pagar” a dívida que tínhamos com o pecado, e assim resgatar a todos em seu amor.

No Evangelho (Jo 3,13-17), o evangelista João expõe um compassivo e catequético diálogo entre Jesus e Nicodemos, com a intenção de revelar o sentido da missão redentora de Jesus. Toda a história da salvação se deve a uma iniciativa exclusiva de Deus e do seu amor. Foi este mesmo amor que o levou a permanecer acompanhando a humanidade ao longo das eras, mesmo em face das inúmeras e constantes rejeições. E foi este mesmo amor compassivo e clemente que na plenitude dos tempos enviou o Filho como cumprimento das promessas messiânicas. (Cf: Gl 4,4-5)

Sabemos que desde tempos remotos a cruz foi utilizada como o instrumento de tortura e morte mais infame e ignominioso. Por isto, se faz necessário entender que a festa que celebramos não se trata de uma exaltação da cruz por si mesma, mas do mistério salvífico que se realizou nela e através dela. Com Jesus, o vil instrumento de morte se tornou instrumento de vida eterna. E então compreendemos que “o Deus Todo-Poderoso, por ser soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir nas suas obras se não fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar o bem do próprio mal.” (S. Agostinho, De libero arbítrio, I, 1, 2). Assim a cruz que era usada pelo mal e o pecado como árvore da morte, pelo sacrifício pascal de Cristo, se tornou a árvore da vida (Cf: Gn 3,22).

Celebrar a cruz de Jesus, é celebrar o amor de Deus e a salvação que Ele nos veio oferecer de forma definitiva. Mas não apenas isto. É também se comprometer pela graça que nos foi concedida no Batismo, a viver como Jesus e a construir um mundo que seja a cada dia reflexo do Reino de Deus. Testemunhando assim o amor de Deus junto daqueles que devido ao pecado, a ganância e a injustiça, vivem como os crucificados de nossa época.

Que Maria Santíssima, a Senhora que se compadece de nossas dores, nos ensine a amparar e consolar aqueles que carregam as mais pesadas cruzes, para que não desistam e alimentem a esperança de chegar ao Reino dos Céus.

Pe. Paulo Sergio Silva

Diocese de Crato.

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Porteiras.

Paróquia Nossa Senhora das Dores – Jamacaru.

 

 

Posts Relacionados

Facebook

Instagram

Últimos Posts