FESTA DO PADROEIRO É LUGAR PARA ANUNCIAR O EVANGELHO? Fazer festa, missão da Igreja

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As festas de padroeiro remontam à Idade Média na Igreja e continuam ativas nas mais de dez mil paróquias espalhadas pelo Brasil. Elas são um sopro de renovação que oferecem – através das novenas e suas quermesses –, vitalidade e ânimo as nossas paróquias e comunidades rurais em meio a normalidade da vida cotidiana. Em suma: São fortes momentos de evangelização. A Festa do padroeiro é fundamental no processo de evangelização de uma paróquia uma vez que nos ajuda a reunir o povo de Deus em torno da santidade que foi vivida e hoje é contemplada como testemunho e modelo para nossa própria vida.

No entanto, existem ainda pessoas, até inicialmente bem intencionadas, que não entendem a missão da Igreja. Uns pensam que sua missão é cuidar simplesmente ou estritamente do rito litúrgico religioso. Outros pensam que a missão da Igreja é juntar dinheiro.  E caminhar nesta trilha é cometer um desvio de conduta pastoral. Evangelizar, além de rezar e celebrar, é também cuidar das pessoas como elas são e onde elas estão, ou seja, cuidar a partir da realidade pastoral da comunidade. Todavia, isto não significa fazer todos os seus gostos, caprichos e desejos. Evangelizar é semear a sementinha de mostarda do evangelho no coração da vida diária das pessoas (Mt. 13,31-32).

A Igreja não evangeliza por proselitismo e sim por atração. O ato de evangelizar se realiza ao apresentar a ação de Deus de modo tão cativante e encantador que o ouvinte deseja sempre mais ouvir.  Do mesmo modo, a Igreja também não incentiva a cultura do viver bem, mas a do bem viver, por meio da convivência harmoniosa e da partilha fraterna. Tanto assim que chamamos de “Festa do(a) Padroeiro(a) não apenas as atividades litúrgicas e espirituais, mas também as atividades artísticas e sociais que acontecem neste importante momento da vida paroquial/comunitária. Comemoramos a presença salvífica de Jesus e a intercessão de Maria e dos Santos com festa dentro e fora do templo.

       Pensemos […]. Quando se aproxima a semana que antecede a novena, já conseguimos para sentir o cheiro do munguzá, do pastel, da galinha caipira, etc. Quem não gosta de uma boa quermesse? A conversa fraterna na barraca depois da novena é um momento propício para se confraternizar. A alegria e barulho das risadas no momento do leilão, a ansiedade para ganhar algum prêmio seja na rifa ou nos bingos relâmpagos […]. Vivenciamos isto em muitas comunidades paroquiais ao longo do ano e compreendemos que não há melhor forma de bem celebrar a vida dos santos do que fazendo a vontade de Deus. E sua vontade é “ver os irmãos e as irmãs reunidos e unidos” (Sl.133).

       Fazer a vontade de Deus, assim como fizeram os santos celebrados nas festas, é construir espaços de acolhida e missão. A celebração em comunidade não é mero evento cultural ou ação entre amigos, mas sim expressão da ação do Espírito Santo que na unidade se desvela nas ações da Igreja de Jesus como momento de pura graça. Uma vez por ano nos reunimos para festejar nosso santo padroeiro. Logo, deve ser uma festa para falar ao coração, para cantar a ladainha a plenos pulmões, olhar nos olhos, estender as mãos e abraçar a um amigo, para ouvir um cântico antigo do qual temos saudade, para participar de uma dança típica da nossa infância e, por fim, para saborear as delícias culinárias da nossa região. Além do prazer de comer, certamente encontraremos um amigo que há tempo não vemos ou até mesmo um desconhecido que poderá se tornar um amigo. Tudo isto é também o Evangelho sendo vivido.

Fazer festa é missão da Igreja. Mas é preciso não esquecer que se trata de uma festa da Igreja. Festa Religiosa. O leigo é convidado a viver esse período de festas na Alegria do Evangelho, buscando a compreensão e a fraternidade, servindo a comunidade seja no rito religioso ou na barraca da quermesse e se colocando como porta aberta aos demais membros da comunidade. Todos somos chamados arregaçar as mangas e assumir o compromisso batismal participando de maneira efetiva e caridosa da vida da comunidade, dando testemunho de fé no Ressuscitado e abrindo a porta da missão para que mais pessoas se sintam acolhidas e chamadas a também servir na comunidade ao longo do ano.

A missão evangelizadora é parte fundamental das festas promovidas pelas comunidades. São momentos de encontro e de partilha onde muitos membros afastados se reaproximam da comunidade, outras pessoas aparecem para comer e passar um pouco do tempo. Eis o tempo favorável de evangelizar pelo testemunho, pelo sorriso acolhedor, pelo abraço fraterno. Outras pessoas se afastarão porque desejam impor coisas e situações que não são evangelizadoras e, portanto, não são necessárias para a missão da Igreja. Precisamos ter sempre ante nossos olhos a pergunta: o que as pessoas procuram quando vêm a nossa festa de padroeiro? Resposta: Elas buscam a Deus. Todavia, com nossas idéias e planos estamos apresentando a presença de Deus? Uma caminhada para hasteamento da bandeira regada a música profana e bebida alcoólica, é mesmo um meio para anunciar a presença de Deus?

Pode-se dizer que as festas devem deixar o legado de comunidades mais unidas e abertas para a acolhida, mas para isso não pode ser a festa um momento a parte da vida comunitária, pois nesse caso evangelizar exige a presença de todas as pastorais, movimentos e organismos. Não é à toa que há anos a CNBB vem nos ensinando que a paróquia é “comunidade de Comunidades ou rede de Comunidades”.

Sendo assim, precisamos ter sempre em mente que nossa atuação ou serviço dever ser expressão da dedicação, delicadeza e zelo da própria Igreja. Servir sem fazer distinção de trabalho ou considerando serviços como mais ou menos importantes, pois todos possuem uma só intenção: a Glória de Deus. Deste modo, as festas devem ser momentos de fraternidade entre as comunidades e não locais parar “investigar” o que tem de errado na comunidade vizinha para depois sair comentando mal. E pior. Infelizmente não faltam comunidades que competem entre si para ver quem mais juntou dinheiro. Com isto, passamos a vergonhosa impressão de que não fomos evangelizados e tomamos como principal e exclusivo fruto da novena, a arrecadação financeira. É triste e desolador quando ouvimos fiéis tendo conversas do tipo: “A festa de tal comunidade foi muita boa, arrecadaram muito dinheiro.” Tais comentários revelam um desvio pastoral que não nos conduzirá a estrada da cruz porque demonstra que o quesito essencial para avaliar uma ação pastoral litúrgica se tornou a quantidade de dinheiro que foi arrecado.

A piedade popular acolhe, a seu modo, o Evangelho inteiro e encarna-o em expressões de oração, de fraternidade, de justiça e de festa. A Boa Nova é a alegria de um Pai que não quer que se perca nenhum dos seus filhos e filhas (Lc. 15, 11-32). Assim nasce a alegria no Bom Pastor que encontra a ovelha perdida e a reintegra no seu rebanho (Lc. 15,4-7). O Evangelho é fermento que leveda toda a massa (Mt. 13, 31-33), é sal que confere sabor a vida e cidade que brilha no alto do monte, iluminando todos os povos (Mt. 5, 13-16). (Evangelii Gaudium, n. 237). Esta deve ser a motivação para planejar nossas novenas e quermesses: transformar o mundo decaído no Reino de Deus ao celebrar a graça redentora na pessoa do seu Filho e acolher nossos irmãos e irmãs. Portanto, busquemos primeiramente e sempre o Reino de Deus e sua justiça e tudo mais que for real e essencialmente necessário para a missão será dado por acréscimo (Mt. 6, 33-34).

Pe. Paulo Sérgio Silva

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Farias Brito.

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