BATISMO E MISSÃO: FILIAÇÃO, SALVAÇÃO E SERVIÇO PARA TODA A HUMANIDADE
“Tu és o meu Filho amado, em Ti eu me agrado”. (Lc 3,22)
Concluindo o tempo litúrgico do Natal, a Festa do Batismo de Jesus apresenta sua segunda epifania como o início de sua missão libertadora e salvadora. No seu batismo, Jesus é revelado, nas margens do Jordão, como o Filho amado de Deus, que veio ao mundo enviado pelo Pai, com a missão de salvar e libertar os homens. Cumprindo o plano salvífico do Pai, Ele se fez um de nós, partilhou a nossa história, assumiu nossa humanidade e ao ofertar a própria vida, libertou-nos do pecado. Em sua vida e missão, o Filho de Deus, ensinou-nos com atitudes e palavras e nos apresentou o caminho da fraternidade, comunhão e solidariedade que conduz à vida em plenitude.
Na primeira leitura (Is 42,1-4.6-7), o Profeta Isaías anuncia um “Servo” anônimo. Quem seria ele? É o próprio Isaías? outro profeta? Ou algum outro líder do povo? Apesar de permanecer desconhecido, indubitavelmente se trata de alguém que foi escolhido, amado, chamado e recebeu de Deus a missão de restaurar a vida de fé e edificar um mundo de justiça e concórdia. Imbuído do Espírito de Deus e impulsionado pelo zelo, ele realizará essa missão com abnegação e singeleza, sem recorrer à força das armas, à violência ou à autossuficiência. O “Servo” é um instrumento através do qual Deus se faz presente no mundo para levar a salvação a humanidade. Deus está na origem (escolha, vocação e envio) da missão do “Servo” e o acompanhará em todos os momentos de sua missão. Para vencer as forças do mal e do pecado, o “Servo” contará com a ajuda do Espírito de Deus, e por isto se tornará uma fonte de esperança e libertação.
Na segunda leitura (At 10,34-38), o Apóstolo Pedro, em seu discurso diante de uma multidão, nomeia e revela quem é o misterioso “Servo” anunciado pelo Profeta Isaías. Jesus Cristo é o Filho amado que o Pai enviou ao mundo para realizar seu plano de salvação. Na vida e missão de Jesus se tornam vida, verdade e realidade as promessas do Antigo Testamento. Pedro resume este querigma primordial (primeiro anúncio da fé cristã) afirmando que “Ele andou por toda parte fazendo o bem”; “porque Deus estava com Ele”. As palavras de Pedro nos recordam que ainda que Deus tenha escolhido um povo no princípio, Ele não faz acepção de pessoas com base em raça ou cultura. A condição para ser incluído no Reino de Deus é respeitar o senhor e praticar a justiça (At 10,35), ou seja, acolher com coerência a fé no seu Filho e no seu Evangelho.
O Evangelho (Lc 3,15-16.21-22), ao narrar o momento do batismo de Jesus, revela que Ele é, essencialmente, o Filho de Deus. A Encarnação do Verbo é a manifestação palpável do amor que o Pai enviou ao mundo. Como único e verdadeiro Filho Unigênito, Ele obedece ao Pai e cumpre o seu plano salvador. Por isso, vem ao encontro dos seres humanos, solidariza-Se assumindo para si nossas debilidades e mazelas. Em sua missão e obediência, Jesus Cristo refaz a comunhão entre Deus e os seres humanos que o pecado havia interrompido. Da sua ação salvadora, surgirá ou nascerá uma nova criação, uma nova humanidade, pois Jesus é o Filho/“Servo” enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito e cuja missão é realizar a libertação e salvação dos homens. O evangelho nos mostra ainda a comunhão trinitária existente entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Esta comunhão eterna e divina será manifestada novamente no momento conclusivo da vida de Jesus, a sua crucificação. No altar da cruz se manifestarão reiteradamente a humanidade: o Pai em sua presença silenciosa, o Filho Jesus em sua doação vital e o Espírito no momento em que Jesus expira na cruz (cf: Lc 23,44-46).
Em sua catequese, Lucas, nos apresenta dois testemunhos sobre Jesus Cristo. Em primeiro lugar, João Batista o indica como aquele que batizará a humanidade com o Espírito Santo. Em Jesus, com Jesus e por meio de Jesus, o ser humano terá perene e permanente acesso a Deus. O ato de ver os céus se abrirem representa a porta sendo aberta para receber os filhos que o pecado havia dispersado. Em seguida temos o segundo e mais relevante testemunho acerca da identidade e missão de Jesus Cristo: a voz do próprio Deus Pai. Suas palavras trazem uma semelhança inegável com o oráculo proclamado pelo profeta Isaías. “Eis o meu Servo!” (Is 42,1) “Tu és o meu Filho amado!” (Lc 3,22) No oráculo profético, Deus no A.T. revela a missão do Messias e como ele irá realizá-la. No texto do N.T. temos uma súplica e imperativa de Deus para que todos escutem o Filho afim de que Ele possa realizar a missão fazendo com que a humanidade receba vida em abundância Nele e por Ele. Do mesmo modo como Jesus foi revelado como Filho Unigênito no Batismo, nós também o somos, como filhos adotivos, em nosso batismo. As primeiras comunidades cristãs compreenderam este como o primeiro efeito do batismo: a Filiação adotiva (no ocidente), e divinização (no Oriente). Assim como Jesus se revela ao mundo pela sua ação misericordiosa e redentora, nós somos chamados a revelar-nos como filhos de Deus ao mundo pelo nosso modo de crer, de viver e de proceder (cf: Rm 8,15-18).
Neste dia somos convidados a lembrar do dia do nosso próprio Batismo. No seu batismo, Jesus tomou consciência da sua missão, recebeu o Espírito e partiu em ação missionária pelos caminhos da Terra Santa, testemunhando o amor de Deus. Nós, no batismo aderimos a Jesus e recebemos o Espírito Santo que nos capacitou para a missão. É justo e necessário, portanto, as indagações refletivas: Temos sido testemunhas verdadeiras e comprometidas desta mesma missão pela qual Ele Se empenhou e deu a vida? Neste ano santo da Esperança, como podemos ser luz para os povos e esperança para o mundo? Estamos vivendo verdadeiramente como filho/filha de Deus?

Pe. Paulo Sérgio Silva
Diocese de Crato.




