FESTA DA DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DE LATRÃO

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SOMOS O POVO E O TEMPLO DO SENHOR

Acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?” (1Cor 3,16)

A Igreja no próximo dia 09 de novembro celebra os 1.701 anos do seu mais eminente Templo. Esta data é festejada por ocasião da Dedicação da Basílica do Santíssimo Salvador e dos Santos João Batista e João Evangelista. Ela é considerada, segundo a tradição, como “Mater et caput omnium ecclesiarum” (“Mãe de todas as Igrejas do mundo”). Ela é a primeira e a mais importante das igrejas catedrais do mundo, e por isto é conhecida popularmente como “a Catedral do Papa. A Basílica de São João de Latrão, foi consagrada pelo Papa Silvestre I, no ano 324, na presença do imperador Constantino. Nela foram realizados cinco Concílios Ecumênicos. Esta é a única celebração de Dedicação festejada pelo calendário litúrgico da Igreja, que, com seu Batistério, o primeiro do cristianismo, deu vida cristã a toda a Igreja. (informações retiradas do site Vatican News)

Na primeira leitura (Ez 47,1-2.8-9.12), Ezequiel, “o profeta da esperança” fala ao seu povo exilado na Babilônia. Seu oráculo busca produzir o efeito de uma chuva em terra sequiosa. Outra vez escravizado numa terra estrangeira, sem Templo, sem sacerdotes, sem culto a Lei, o povo sucumbe ao desespero, esquece dos próprios erros e pecados, e duvida novamente da fidelidade e do amor de Deus. O coração do povo corre o risco de se tornar novamente uma terra árida e endurecida. Utilizando-se de uma linguagem apocalíptica e cheia de metáforas, o profeta anuncia a chegada de um tempo de graça e salvação. Deus agirá e estabelecerá a sua morada no meio deles.  Sua presença derramará sobre a humanidade sofredora vida em abundância. A glória de Deus é apresentada como o Templo de onde flui um caudaloso rio que transforma todos e tudo por onde passa. O mundo, antes contaminado pela aridez dos pecados humanos, agora tocado pela glória divina, readquire as mesmas condições vitais apresentadas no Jardin do Éden (cf: Gn 2,4-14). Esta analogia encontrará seu significado definitivo na pessoa de Jesus Cristo. Nele são sintetizadas todos elementos e analogias do oráculo de Ezequiel: Deus presente, água restauradora e Templo transformador. Deus, Homem e Templo, na Cruz, templo humanado, brotará o Espírito que tudo renova, recria e santifica. Do seu lado aberto pela lança surgirá a verdadeira fonte de água viva que jorra trazendo a vida eterna.

Se o profeta Ezequiel apresentou Deus como verdadeiro Templo, na segunda leitura (1Cor 3, 9c-11.16-17), Paulo recorda aos cristãos que uma vez sendo batizados, eles se tornaram no mundo, o Templo onde reside o Espírito de Deus. Um edifício edificado pelas mãos experientes e coração amoroso do próprio Apóstolo e que possui um alicerce inabalável e insubstituível: Jesus Cristo. Na época desta carta, a comunidade cristã de Corinto vivia um clima de rivalidade e divisão. Devido a imaturidade espiritual, muitos formavam partidos tendo os apóstolos ou missionários como favoritos. Uns amavam Pedro, outros seguiam Paulo, outros torciam por Apolo. Buscando reconduzi-los para a sensatez evangélica, Paulo os indaga: “não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?”. A comunidade cristã deve viver a comunhão e a unidade como princípios essenciais. Quem deseja pautar a vida através de divisões, ciúmes e conflitos, não conseguirá viver os valores do Reino de Deus. Embora distante historicamente de nós, esta situação enfrentada pelo Apóstolo Paulo, infelizmente, continua presente em nossas comunidades atuais. Os membros de nossas pastorais, movimentos e serviços continuam ostentando vanglória afirmando ser a sua ação missionária a mais importante da Igreja. Nas redes sociais fermentam páginas e grupos com títulos como “sou fã de Padre Fulano”, “sou seguidor de missionário sicrano”. E nós?  Ainda nos consideramos discípulos de Jesus Cristo?

No Evangelho (Jo 2, 13-22), contemplamos Jesus Cristo indo novamente a Jerusalém para celebrar a Páscoa. Neste período grandes multidões peregrinavam para a cidade santa afim de celebrar o principal rito religioso judaico. No entanto, ao constatar que a vivência espiritual estava deixada de lado em detrimento do comércio e vendas de animais para o sacrifício, Jesus intervém com o intuito de resgatar o sentido da festa pascal.  Embora a atitude de Jesus pareça demasiada dura e exaltada, o seu comportamento na verdade expressa a realização dos oráculos que proclamavam a chegada dos tempos messiânicos anunciados pelo profeta Zacarias (cf: Zc 14,16-21).

Ao longo dos séculos, muitos profetas denunciaram o comércio ao redor do Templo. Sua presença subjugava o culto tornando a vida espiritual refém da ganância. O resultado era um culto vazio de santidade e que levava a exclusão dos pobres nos ritos religiosos e exploração dos necessitados (cf: Am 4,1-5; Is 1,11-17; Mq 3,9-12; Jr 6,13-15). Por isto, ao contemplar Jesus em posse de chicotes, virando mesas, libertando aves de gaiolas e expulsando cambistas, mais do que uma atitude ríspida, os discípulos viram a expressão do coração do Messias que conforme os salmos, deveria arder de zelo pela santidade de Deus (Sl 69,8-10).

Ao ser indagado sobre qual autoridade possuía para agir de tal modo, Jesus anuncia sua futura ressurreição e apresenta-Se como o Novo Templo. Pela sua Encarnação, Jesus se tornou a ponte que liga Deus a humanidade. Com Ele, Nele e através d’Ele a humanidade pode fazer a experiência do encontro com Deus. Aquilo que não foi alcançado por milhares de sacrifícios rituais de bois, carneiros e pombas, seu sacrifício na cruz realizou plena e definitivamente.

Em nossos dias, infelizmente, esta realidade mercantilista que havia se instalado no templo de Jerusalém, se apresenta cada vez mais presente em nossas ações religiosas. Há comunidades, que na época da festa do padroeiro(a), se preocupam mais com a quermesse do que com a realização da novena e da santa missa. E há quem jugue a grandeza da festa da padroeira pela quantidade de dinheiro arrecado ao invés de focar nos frutos espirituais de conversões ou de graças alcançadas. E atualmente no Brasil crescem o número de templos cristãos que fazem propaganda de “áreas VIPs” que somente são acessadas por quem estiver disposto a pagar um tipo de pedágio dentro do próprio templo. E assim esquecemos que a razão de nossa ação religiosa é sempre facilitar o encontro com Cristo e não construir muros e pedágios que impeçam tão frutuoso encontro.

Jesus Cristo, Deus Conosco, deseja ir ao encontro de todo e qualquer ser humano não importando a raça, língua, cor da pele ou status social. O templo, aquele construído com argamassa, tijolos e ferro, permanece como lugar propício para a oração, seja ela comunitária ou íntima e individual, com Deus. Não cabe aos ministros religiosos, sejam eles ordenados ou leigos, decidir quem pode ter acesso ao templo físico ou não. Lembremos o que afirmou o Concílio Vaticano II: “Na verdade, se Cristo morreu por todos e a vocação última do homem é realmente uma só, a saber a divina, nós devemos acreditar que o Espírito Santo oferece a todos de um modo que só Deus conhece, a possibilidade de serem associados ao mistério pascal”. (Const. past. Gaudium et spes, n. 22).

Que a festa da Dedicação da Basílica de Latrão, nos recorde que também somos templo santo, consagrado e dedicado, a morada do Espírito Santo pelo Batismo que nos associou ao sacrifício pascal de Cristo. E que nossas ações e ritos religiosos somente tem razão e fundamento de existirem, se for para levar a todos ao encontro com Jesus Cristo.

Pe. Paulo Sergio Silva

Diocese de Crato.

Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Porteiras.

Paróquia Nossa Senhora das Dores – Jamacaru.

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