FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR – ANO C

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O SENHOR É A NOSSA LUZ E ESPERANÇA

“[…] porque agora meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar todas as nações […] (Lc. 2,31-32)

A celebração de hoje possui muitos nomes e muitas motivações ou intenções. Se trata da Festa da Apresentação do Senhor, celebrada quarenta dias depois do Natal. Ela se originou no Oriente sobre a terminologia “Hipapante” ou “Encontro”. No Ocidente assumiu uma natureza voltada para atos penitenciais e depois tornou-se uma celebração jubilosa com procissão que passou a ser chamada de “Candelária”. No Nordeste do Brasil, na Diocese de Crato, sob o pastoreio do Servo de Deus, Padre do Cícero, transmigrou-se em uma romaria chamada “Romaria de Nossa Senhora das Candeias”, que pelos sinais das velas e candeeiros em meio a escuridão noturna, ajudou os romeiros a compreender Jesus Cristo como luz da humanidade conduzida pela Virgem Maria.

Na Primeiro Leitura (Ml 3,1-4), ouvimos o oráculo do Profeta Malaquias. Se trata de um anúncio feito anos depois do retorno do exílio da Babilônia. O Templo foi reconstruído, no entanto a fidelidade e o zelo pelo culto não foram restabelecidos. As mesmas mazelas nascidas dos pecados originais e da quebra da aliança ainda estão presentes: sacerdotes oferecendo dádivas indignas (Gn. 4,1-7), adultérios e roubos. Os injustos proliferam juntos com as suas torpes riquezas, e isto leva o povo a questionar a lei, cair na apatia e desconfiar de Deus novamente. O profeta exorta o povo a retomar o bom caminho da fé: viver um culto diário fundamentado também na justiça e na ética, isto é, um culto que produza conversão na vida do povo e agrade a Deus. Malaquias recorda que o Senhor não fica indiferente as ações do mal, logo Ele mesmo virá para purificar não apenas o Templo, mas também o coração humano. No N.T. as comunidades cristãs viram João Batista como o mensageiro penitencial que preparou o caminho para a entrada de Deus no Templo. A apresentação do infante Jesus no Templo preanunciou a futura purificação redentora que Ele realizou plenamente com a Sua morte no Calvário.

Na Segunda Leitura (Hb 2,14-18), também fala da vinda de Deus. No entanto, não se trata da entrada de Deus em uma construção física, mas sim da “Encarnação”. Em obediência ao plano salvador de Deus Pai e em compassiva solidariedade os homens, Jesus Cristo submete-se ao ato de esvaziar-se de si mesmo (Kenose) e assume a condição humana. Assumindo tudo aquilo que é comum a natureza humana (com exceção do pecado), Cristo passou pela morte ignominiosa da Cruz e revelou-Se como o Sumo Sacerdote fiel e misericordioso, e ao ressuscitar, como Aquele que santificou nossa existência e redimiu nossa natureza.  A sua divina vontade não era purificar uma realidade material e inerte (templo), mas nos elevar a condição inigualável de Filhos de Deus. Nele, sumo pontífice, somos convidados a superar as fragilidades e debilidades por meio de uma vida abnegada e doada pelos irmãos.

No Evangelho (Lc 2,22-40), cumprindo a profecia de Malaquias, Lucas coloca Deus entrando no seu templo. Deus retoma sua cidade santa não como um general, mas adentra nos átrios santos em nossa mais débil fase biológica: um bebê recém-nascido. Aquele a quem a humanidade deve oferecer dádivas e tributos, se “esconde” em nossa realidade humana e com sua família, oferece os sacrifícios necessários conforme a lei mandava. Deus que deveria receber o sacrifício e se comprazer, oferece-se a si mesmo como oferenda pelo resgate que será concluído um dia no altar da Cruz.

“Meus olhos viram a Salvação.” São as palavras que milhares de religiosos, religiosas, monges, sacerdotes, diáconos e leigos consagrados recitam como última oração do dia nas Completas. Um hino que expressa o coração de Maria, José, Ana e Simeão. Uma oração de confiança em Deus e de anseio por continuar contemplando a luminosa Graça na própria história não apenas nos grandes momentos da vida, mas também nas fragilidades, fraquezas, misérias.

Nas palavras de Ana e Simeão, Lucas indica-nos o exemplo de dois anciãos que olhando para o futuro, são capazes de perceber os sinais de Deus e de testemunhar a sua presença libertadora no meio dos homens. Ana e Simeão são a imagem de um passado e de uma tradição que se mantiveram atentos e abertos aos desígnios de Deus. Um passado que ao invés de se posicionar como muro, tornou-se uma porta pronta para abrir passagem para o tempo novo de Deus. Simeão, homem “justo e piedoso” representa a imagem dos juízes do A.T. que permanece esperançoso em contemplar a consolação prometida. Ana, viúva, imagem do povo pobre e sofredor, mesmo em meio as incertezas do futuro, se mantém fiel as promessas. Simeão é a Lei, Ana, o Amor/Caridade.

As atitudes dos dois anciãos expressam um coração maravilhado por contemplar a almejada manifestação da salvação e suas palavras proclamam que Jesus é o Deus que vem ao encontro dos homens com uma missão que lhe foi confiada pelo Pai. A missão desta criança singular é libertar a humanidade da escravidão do pecado e lhes apresentar a proposta salvífica, tornando todos os povos da terra membros do Povo de Deus.

Em meio ao Templo repleto de fiéis, aparentemente apenas Ana e Simeão contemplaram a luz naquela singular criança. De maneira diversa, mesmo necessitados da luz, podemos escolher permanecer imersos na escuridão se esquecermos a bússola de nossa fé que é a Gratuidade. Para quem estou voltando o olhar do meu coração? Para Deus? Apenas para mim mesmo? Ou para a realidade sedutora do mundo? Estamos mantendo os olhos fixos em Jesus como recomendava Santa Teresa D`Ávila?

Se quisermos permanecer em meio a luminosa presença do Senhor, estejamos atentos ao exemplo de Ana que não se afastava do Templo. Eis o caminho! Não se afastar do Senhor, pois Ele é a fonte de nossa Esperança.

Pe. Paulo Sergio Silva.

Diocese de Crato.

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