“Então é Natal?”

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O Menino é recém-chegado. Altares são cobertos com solenidade litúrgica, “Calendas” são entoadas e sinos repicam, anunciando “a noite que se faz luz”. “Então é Natal”. E todos se abraçam.

Mas isso é mantra desentoado.

Então é Natal quando o rapaz, na ausência de um lugar para pousar o corpo, deita-se à calçada da casa grande, sob o barulho de garrafas estouradas, brindes e farturas?

Então é Natal quando duas crianças têm seus caprichos satisfeitos num Shopping Center, enquanto outra, do lado de fora,  deslumbrada com tantos enfeites, passa as mãos por sobre as grades que escancaram os impedimentos sociais?

Então é Natal quando outras crianças, num trânsito violento, tentam equilibrar objetos e, ao se aproximarem para pedir moedas, encontram vidros e corações fechados?

Então é Natal quando a senhora, com olhos marejados, estende as mãos aos passantes, tentando angariar moedas para comprar a ceia dos filhos?

Então é Natal quando a mulher, com criança no colo, implora ao motorista do ônibus que a deixe passar, mesmo lhe faltando metade da passagem?

Então é Natal quando o senhor, embriagado, segurando uma garrafa quase fazia, fita a árvore luminosa que enfeita a avenida, enquanto carros, apressados, lhe ameaçam a vida?

O Menino é nascido, mas ainda deseja ser Natal na vida dos que não sabem o significado deste dia, na vida dos que ainda precisam aprender e na dos que não pensam sobre isso.

 

Por: Patrícia Mirelly, jornalista

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