FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA
JESUS, MARIA E JOSÉ! NOSSA FAMÍLIA VOSSA É!
“Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor.” (Lc. 2,22)
Amados irmãos e amadas irmãs!
A celebração de hoje nos ajuda a meditar e compreender o sentido da família e do seu valor para a sociedade. A Palavra de Deus deste domingo nos convida a contemplar a família de Jesus como exemplo e modelo das nossas comunidades familiares. Assim como a Sagrada Família, as nossas famílias devem se empenhar em cumprir cuidadosamente os preceitos do Senhor e viver atentos às necessidades dos irmãos.
Na primeira leitura (Eclo. 3,3-7.14-17a), o sábio autor do Livro do Eclesiástico aconselha, de forma prática, algumas atitudes que os filhos devem ter para com os pais. Na sociedade atual, onde os valores familiares são a cada dia negados ou destruídos, um convite a honrar os pais, escutá-los, ter atenção as suas orientações e conselhos, ser paciente diante das limitações que a idade ou a doença trazem é uma forma de concretizar o amor de que nos falará a segunda leitura. Para o autor do livro sagrado, manter o respeito para com os progenitores é preservar a própria vida, pois sendo eles a fonte de onde nos veio a vida do Criador, respeitá-los é cumprir também o primeiro mandamento. As suas palavras pesam forte sobre nossa sociedade atual. Apesar da grande evolução científica e tecnológica da qual nos vangloriamos, somos uma sociedade que retrocedeu na prática dos valores éticos e morais que alicerçam não somente a prática da fé cristã, mas também toda convivência humana. Mesmo com tantos e volumosos textos nas mídias apontando para a necessidade da preservação dos direitos humanos, nossa sociedade de consumo e das relações fluídas e efêmeras, teima em criar condições de abandono, exclusão e negligência. Tais situações são resultado da concepção consumista que enxerga tudo como descartável. E a Palavra permanecerá nos lembrando que nenhum ser humano é descartável.
Na segunda leitura (Cl. 3,12-21), São Paulo, como pai espiritual de suas comunidades, enfatiza que o amor deve brotar dos gestos concretos na vida dos que foram marcados pelo batismo e se tornaram “por Cristo, com Cristo e em Cristo”, família de Deus. Por isto, as famílias devem se revestir de valores que manifestam a presença do Homem Novo. O que isto significa? Evidencia que devemos cultivar um conjunto de virtudes que manifestam a união do cristão/discípulo com Cristo: misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência. Acima de tudo, a Caridade é quem deve presidir às relações entre os membros de uma família, “pois o amor é vínculo de perfeição”. (Cl. 3,14) Assim como ocorreu na Sagrada Família, esse amor deve ser vivido concretamente com todos os que conosco partilham o ambiente familiar e deve ser manifestado em atitudes de compreensão, de bondade, de respeito, de partilha, de serviço.
O Evangelho (Lc. 2,22-40) nos coloca diante da Sagrada Família de Nazaré apresentando Jesus no Templo de Jerusalém. O rito de Apresentação, momento singular na vida da comunidade judaica, revela uma família que, tendo o amor de Deus como centro de suas vidas, escuta a sua Palavra e procura concretizá-la no cotidiano consagrando a Deus a vida dos seus membros (Ex. 13,1-2.11-16). A atitude de José e Maria, mas do que o cumprimento de um rito normativo e purificatório, revela o senso e a consciência de total pertença e entrega a Deus (Rm. 14,6-9). A família cristã encontra na Sagrada Família o seu modelo essencial; em Jesus, Maria e José, os lares cristãos descobrem o que devem fazer e como devem comportar-se, para que a graça realize a santificação e a plenitude humana de cada um de seus membros.
Nas palavras de Ana e Simeão, Lucas indica-nos o exemplo de dois anciãos que olhando para o futuro, são capazes de perceber os sinais de Deus e de testemunhar a presença libertadora de Deus no meio dos homens. Ana e Simeão são a imagem de um passado e de uma tradição que se mantiveram atentos e abertos aos desígnios de Deus. Um passado que ao invés de se posicionar como muro, tornou-se uma porta pronta para abrir passagem para o tempo novo de Deus. Simeão, homem “justo e piedoso” representa a imagem dos juízes do A.T. que permanece esperançoso em contemplar a consolação prometida. Ana, viúva, imagem do povo pobre e sofredor, mesmo em meio as incertezas do futuro, se mantém fiel as promessas. Simeão é a Lei, Ana, o Amor/Caridade.
Suas atitudes expressam um coração maravilhado por contemplar a almejada manifestação da salvação e suas palavras proclamam que Jesus é o Deus que vem ao encontro dos homens com uma missão que lhe foi confiada pelo Pai. A missão desta criança singular é libertar a humanidade da escravidão do pecado e lhes apresentar a proposta de salvífica, tornando todos os povos da terra membros do Povo de Deus.
O Cristo em sua infante fragilidade é envolto não apenas em faixas de pano, mas pelo seio de uma família que o cerca de carinho e compaixão como Deus outrora o fez com Israel no deserto (Sl. 102,4). A família é a forma básica e mais simples da sociedade, sendo também o principal lugar onde se aprende todas as virtudes sociais. O sagrado lar, ambiente onde nasceu e cresceu, foi a primeira realidade humana santificada pela presença de Jesus. Tal atitude revela que se desejamos verdadeiramente que a vontade salvífica de Deus aconteça é justo e necessário que a família, base e fundamento de todo agrupamento humano, permaneça com seus direitos preservados. É preciso preservar a família para que o Cristo cresça em graça, sabedoria e idade, diante de Deus e diante dos homens. (Lc. 2,40)
Qual a importância que a Palavra de Deus possui na vida das nossas famílias? Temos ainda consciência de total pertença ao Senhor? Encontramos tempo para reunir a família em torno da Sagrada Escritura e para partilhar, em família, a Palavra de Deus?

Pe. Paulo Sérgio Silva
Diocese de Crato.




