Por um intricado labirinto de chão batido e bibocas, na Comunidade Quilombola Carcará, zona rural do município de Potengi, Ceará, está a extraordinária luta de Sebastião Viera da Silva e de seu povo para preservar a identidade, a vida e a terra.
A parceria entre a Cáritas Diocesana de Crato e comunidade Carcará, hoje composta por quase 130 pessoas, todas da mesma família, começa em 2008, com a missão de tornar os moradores visíveis para eles mesmos, devolvendo-lhes o reconhecimento de gente, de existir na categoria dos cidadãos. E o mais bonito: com o status dos povos que tanto ajudaram a construir a história do Brasil.
Sentado numa cadeira à sombra do alpendre de sua casa, Bastião, como é conhecido, conta que, antes, quando ainda desconheciam suas origens, viviam uma vida de privações e necessidades permanentes. Não havia energia elétrica, tampouco água, e, se havia, não era apropriada para o consumo. “A gente, quando queria pegar uma água, tinha que pegar uma água suja, em um local que tinha acesso de muitos bichos, cachorros, porcos, gado. Muita das vezes era a gente apanhando água para beber e as vacas banhando dentro”, ele lembra.

No plano subjetivo, a ação da Cáritas tratou, a princípio, buscar o enaltecimento da comunidade, a partir das raízes de seus antepassados. No que toca às políticas públicas, motivou a luta pelas terras e a garantia de uma segurança alimentar. “Um projeto forte mesmo que a gente destaca é a da água, das cisternas, que aí foi uma força forte demais pra gente. Hoje é uma água boa, purificada mesmo. E outro (projeto) da alimentação pra dentro das nossas casas com os quintais produtivos que ajudam demais. A renda, por pouco que dê, mas dá pra usufruir de uma quantia que melhora a qualidade de vida em casa, garantindo nossa segurança alimentar. Agora o que a gente destaca mesmo é que a maioria da comunidade, acima de 75%, tem o reconhecimento de ser negro, de olhar para a pele e dizer: eu sou negro”, ele garante, com voz vibrante.
Hoje, reconhecidos, também, pela Fundação Palmares, Bastião conta que até freqüentam eventos sociais, incluindo reuniões em Brasília. “Nós roda pra todo lado”, brinca, soltando largo sorriso de orgulho e contentamento.





