Quem passava pelos arredores da Catedral Nossa Senhora da Penha, coração da Diocese de Crato, ouvia o repique, penoso e triste, do imponente sino. Era o anúncio da partida de um dos seus clérigos: Monsenhor Manuel Alves Feitosa. Ele tinha 87 anos e faleceu em sua residência, também em Crato, na madrugada desta quinta-feira, dia 28 de março, vítima de morte súbita.
Na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, que o tinha como “pároco emérito” pelos anos dedicados a essa porção do povo de Deus, sobretudo com as crianças, a juventude e a Legião de Maria, o dia foi de orações e também de agradecimentos.
“Ele me ajudou a construir a minha história espiritual e, junto de mim, tantas outras pessoas. Foi uma referência, era dotado de todas as virtudes, e tudo que nos tínhamos de dúvidas, anseios ou alguma festividade que queríamos comemorar, ele tinha sempre uma palavra de força”, disse Ana Esmeraldo Callou, paroquiana de Fátima e que convivera diretamente com o monsenhor.
Quando da idade já avançada – recorda Callou – o sacerdote recolhia-se a um canto da Igreja, e lá ficava aguardando a missa. Quem por ele passava, fazia questão de tomar a bênção e lhe beijar a cabeça. O gesto era retribuído com igual afeto. “Ao passo que ele deixa um vazia em nossa paróquia, nossas almas permanecem preenchidas de tudo que ele realizou, de todas as memórias que a gente tem no coração”, acrescentou.
Exéquias
À Igreja Catedral, seminaristas, religiosas, organizações laicais, amigos e pessoas que conviveram com Monsenhor Feitosa chegaram uma hora antes da Missa com Exéquias, marcada para as oito da manhã desta sexta, dia 29. E, em fileiras, depositaram coroas de flores no presbitério, enquanto o coral ensaiava os cantos da celebração. Da Igreja Matriz de Nossa Senhora de Fátima, outra porção de fiéis saia em cortejo fúnebre. Ao encontrarem-se, tristes e chorosos, uniram-se numa mesma prece de louvor, de agradecimento e de encomendações a Deus.
“Do altar da Mãe da Penha, estou aqui para agradecer a missão de cuidar do Monsenhor Manuel Feitosa. Agradeço o apoio da Diocese, da família Feitosa e de todos os fiéis leigos, pelo carinho sempre manifestado e que levou o monsenhor a morrer tão sereno”, disse Mazinha Severo, que cuidou do sacerdote durante longos anos.
A urna funerária adentou à Catedral, também em cortejo, levada por padres e diáconos, de túnicas e estolas roxas, sinal de penitência. Ao ser depositada no meio da Igreja, uma grande concentração humana a rodeou. E assim permaneceu até a procissão de entrada, quando o bispo Dom Gilberto Pastana, após breve reverência, acenou para que a fechassem e a pusessem no chão.
“Hoje, nós estamos nos despedindo de um padre bom, fiel, disponível e santo”, considerou o pastor diocesano. “Para nós, que acreditamos na vida eterna, devemos sempre estar preparados, no sentido de receber essas notícias. É verdade que, num primeiro momento, há um impacto, ao mesmo tempo, ficamos feliz, porque ele realiza a sua páscoa. A vida humana não é eterna, é passageira. Então, nos celebramos, hoje, o início da sua nova vida e queremos render graças a Deus por tudo aquilo que o monsenhor realizou, por toda bondade que transmitiu”, acrescentou.
A santa missa foi concelebrada por diversos padres, vindos das cinco regiões forâneas. Unidos no sacerdócio, também pediram a Deus que acolhesse o dileto irmão, na vida eterna, entre os “servos bons e fiéis”.
Terminada a oração das exéquias, a urna seguiu para a Capela da Ressurreição, acompanhada de aplausos e do repicar do sino. O corpo do Monsenhor Manuel Feitosa foi depositado junto aos quatro bispos da Diocese e do Monsenhor Vitaliano Mattioli. Em volta do túmulo, os padres, em coro, entoaram Salve Regina (Salve Rainha em latim) e o hino de Nossa Senhora da Penha.
Homenagens
Em carta, Dom Edimilson Neves, bispo de Tianguá, disse que o seu coração encheu-se de um sentimento muito agradável, um “sentimento pascal” quando soube da notícia. Ele convivera com Monsenhor Manuel Feitosa quando este era pároco em Jardim, onde o bispo tem raízes familiares.
“Pautou sua existência na simplicidade, não fez de seu ministério um motivo para ostentar-se, mas gostava de ser o ‘Padre Manuel’, o amante do futebol dos campos de Jardim, onde foi pároco, o amigo das pessoas com quem nutria zelo e uma ligação profunda que lhe permitia participar de seus momentos alegres e tristes”, escreveu Dom Edimilson. Para ele, a Diocese de Crato despede-se de um grande sacerdote, um homem do confessionário, que se esquecia do tempo cedendo os ouvidos aos pecadores arrependidos.
“Que Nossa Senhora da Penha acolha esse nosso irmão, a fim de que ele possa, em sua presença, cantar, como um devoto fiel: ‘Salve, ó Virgem do Céu Pura Rosa, casto lírio de níveo candor. Dos mortais, sois a mãe carinhosa, nosso encanto, doçura e amor”.
Por: Jornalista Patrícia Mirelly















