A aposentada Francisca Maria Teotônio, de 84 anos, acordou cedo, pôs roupa branca e um véu na cabeça. A devota Maria Lima, de 59 anos, da cidade Mombaça (CE), viajou três horas e trinta minutos até chegar a Juazeiro do Norte. Ambas integram os 50 mil romeiros, segundo informou a organização, que vieram dos mais variados recantos do Estado e fora dele, para acompanhar um momento histórico: a Missa em que foi lida na íntegra, a Carta de Reconciliação da Igreja Católica com o Padre Cícero Romão Batista, na manhã deste domingo, durante a tradicional “Missa do Dia 20” em honra à memória do Patriarca do Nordeste.

Presidida pelo Bispo Dom Fernando Panico e concelebrada pelo Bispo Emérito da Diocese de Cajazeiras (PB), Dom José González, o Bispo da Diocese de Petrolina (PE), Dom Manoel dos Reis de Farias, e dezenas de padres, a celebração eucarística foi marcada pela leitura da carta enviada à Diocese de Crato pelo Papa Francisco. A longa correspondência, de sete páginas, que comunica a reconciliação tão aguardada e conclamada pelos romeiros, devotos e afilhados do Padre Cícero, foi lida pelo vigário da Basílica Santuário Nossa Senhora das Dores, Padre Aureliano Gondim, e atentamente acompanhada pelos fiéis presentes no largo da Capela do Socorro.

Durante breve homilia, visto que o espaço fora dado à leitura da carta, o pastor diocesano, Dom Fernando Panico, entusiasmado, falou sobre a “piedade romeira que resiste ao tempo e tem no Padre Cícero a figura de um padrinho que aponta para Cristo, ao incentivar e ajudar na vivência da fé”. “O Senhor fez conosco maravilhas. Santo é o seu nome!”, disse o Bispo, referindo-se ao momento histórico vivido pelo povo católico, acrescentando que a carta redigida pelo Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, por expressa vontade do Santo Papa, são palavras “que iluminaram o sertão”. (Clique aqui para ler a carta).

Ao final da celebração Dom Fernando, acompanhado dos Bispos e Padres levaram flores ao túmulo do Padre Cícero, localizado dentro da Capela do Socorro, como uma forma de homenageá-lo. “Hoje vimos a salvação de Deus para nós”, afirmou com muita alegria Dom Fernando, após colocar as rosas no túmulo.

A fim de democratizar o acesso dos católicos, a carta foi transformada em livreto que foi distribuído ao final da celebração. Além do conteúdo da carta, o livreto também traz a “Carta Pastoral Romarias e Reconciliação”, escrita por Dom Fernando em 2003 e a Homilia do Bispo Diocesano na Abertura da Porta Santa, na Catedral Nossa Senhora da Penha, em Crato- CE, realizada dia 13 de dezembro, onde foi anunciada primeiramente a Reconciliação da Igreja com o Padre Cícero.

Transporte dos Romeiros

Outro momento que marcou a celebração eucarística deste domingo (20) diz respeito à problemática dos veículos que fazem a condução dos romeiros até Juazeiro do Norte. Tendo presentes à cerimônia o Governador do Estado, Camilo Santana, o Prefeito Raimundo Macedo, dentre outras autoridades políticas, o Bispo comunicou aos fiéis que o empasse está próximo de ser resolvido.

A liberação, inclusive, é aguardada com entusiasmo pelo pároco da Basílica Santuário, Padre Cícero José da Silva. Ele confirmou a ida de uma comitiva à Brasília e acredita que, até fevereiro, quando a cidade celebra a romaria das Candeias, os romeiros já poderão voltar a dispor do direito de escolher a sua forma de deslocamento, seja ela através de ônibus, caminhão pau de arara ou vã.

Coletiva de Imprensa

Após a Missa em honra à memória do Padre Cícero e ação de graça pela reconciliação, uma coletiva de imprensa foi organizada no auditório do SESC, em Juazeiro do Norte. Na ocasião, Dom Fernando Panico ao lado do pároco da Basílica Santuário, Padre Cícero José, o chanceler da Cúria Diocesana, Armando Lopes Rafael, a doutora em psicologia das religiões, Irmã Annette Dumoulin, e o coordenador de romaria, José Carlos Santos, responderam perguntas dos jornalistas da região.

Um dos pontos mais questionados pelos veículos de comunicação dizia respeito ao Processo de Reconciliação, ainda confuso para os repórteres. Na oportunidade, Dom Fernando esclareceu os equívocos e também falou sobre o fluxo de romeiros que deve ser ainda maior, sobretudo, porque as romarias “são a expressão de uma Igreja popular, caminho de Deus”, e a partir de agora, as realizadas à Juazeiro em louvor do “Padim Ciço”, estão reconhecidas pelo Papa Francisco.

Dom Fernando mostrou aos repórteres a Carta original, que recebeu pelas mãos do Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giovanni d’Aniello, e agradeceu pelo compromisso que a imprensa local teve no anúncio desta notícia ao mundo.