As nossas atitudes devem ser guiadas e alimentadas pelo amor

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Amados irmãos, amadas irmãs.

A liturgia deste 23º Domingo do Tempo Comum nos convida a refletir sobre a nossa responsabilidade diante dos irmãos que nos rodeiam. Na fidelidade à Palavra e na coerência da fé, percebemos que não podemos ficar indiferentes diante daquilo que ameaça à vida e à felicidade de um irmão, e que todos somos responsáveis uns pelos outros.

No evangelho de hoje, Mateus apresenta uma catequese de Jesus sobre a experiência de vida em comunidade. Às vezes, nos perguntamos se as primeiras comunidades cristãs eram perfeitas ou tinham tantos problemas como as nossas comunidades, atualmente.

A essa inquietação, o evangelho responde mostrando que a comunidade de Mateus era normal e muito parecida com as nossas. Nas primeiras comunidades, também existiam conflitos entre os grupos e movimentos, além de problemas de convivência. Existiam irmãos que se julgam superiores aos outros e que buscavam ocupar os primeiros lugares; irmãos que tinham atitudes prepotentes e que escandalizam e humilhavam os pobres e os fracos; irmãos que magoavam e ofendiam outros membros da comunidade e que tinham dificuldade de perdoar as falhas dos outros.  Preocupado com isso, Mateus convida os cristãos a viverem com simplicidade e humildade, promovendo o acolhimento aos pequenos, aos pobres e aos excluídos, o perdão e o amor.

A catequese de Jesus apresentada, hoje, deseja responder a estas perguntas: como os irmãos da comunidade devem agir diante de quem errou e causou conflito? Devem rapidamente condenar e excluir quem pecou? Os ensinamentos de Jesus mostram, justamente, que as decisões apressadas e radicais não devem fazer parte de sua comunidade. A comunidade cristã é uma família, por isso sempre será preciso resolver o problema usando bom senso, maturidade, moderação, complacência e, principalmente, amor.

A primeira leitura nos apresenta o profeta como responsável pela comunidade de Israel. Ele é um guardião, uma sentinela, que Deus colocou a vigiar a cidade dos homens. Por isso deve estar atento a tudo que pode atrapalhar os planos de Deus e alertar a comunidade sobre os perigos.

Pelo Batismo, todos nós somos profetas. Recebemos do nosso Deus a missão de denunciar que certos valores que o mundo apresenta são prejudiciais à humanidade. Como o profeta, não podemos nos acomodar, pois o nosso silêncio nos tornará cúmplices daqueles que destroem o mundo e que condenam ao sofrimento e à miséria os mais fracos e oprimidos.

Todavia, o desejo de ser fiel à nossa vocação profética não deve nos tornar legalistas, no sentido de colocar as regras e normas acima de Deus e dos próprios seres humanos. Devemos também evitar cair nas mesmas atitudes hipócritas dos fariseus que se julgavam superiores por ter as leis decoradas na cabeça, mas não praticavam nada.

Por conseguinte, São Paulo, na segunda leitura, ensina que quem deseja cumprir plenamente a Lei deve construir toda a sua vida sobre o Amor. O cristianismo sem amor é uma mentira. Os cristãos não podem nunca deixar de amar os seus irmãos. No mandamento do amor, resume-se toda a Lei. Já dizia Santo Agostinho: “Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos”.

Tendo o Amor, que é apresentado e vivido em perfeição por Jesus Cristo, como base para sua decisão e ação, o cristão será capaz de seguir os passos que o Mestre apresenta na catequese de hoje. O caminho certo não é falar mal por trás, comentar a falha do outro e nem espalhar boatos, Fake News (mentiras, notícias falsas) ou caluniar e difamar. A decisão certa é um encontro honesto, sereno, compreensivo com o irmão que pecou ou lhe ofendeu. Caso essa tentativa de reconciliação falhe, deve ser feita uma segunda tentativa. Essa nova tentativa deve contar com o auxílio de outros irmãos, como escreve o evangelista: “Toma contigo uma ou duas pessoas” (Mt. 18,16), que, com serenidade e prudência, sejam capazes de fazer o desobediente perceber que seu comportamento prejudica a comunidade. Se não obtiver ainda a reconciliação, a comunidade será então chamada a confrontar o irmão desobediente a fim de recordar as exigências da fé cristã e a pedir uma decisão.
Se ainda assim o irmão insistir no seu comportamento errado, a comunidade terá que reconhecer, com dor, que este irmão está decidido a não mais fazer parte da comunidade.

O evangelho de hoje tem muito a ensinar à nossa sociedade atual, que prefere julgar e condenar apressadamente, tendo como base muitas vezes mentiras e notícias falsas. Também tem muito a ensinar às famílias, especialmente no que diz respeito ao cuidado com os filhos. Se educados sem limites, podem crescer achando que os erros cometidos não fazem mal algum. Amar não significa calar ou esconder o erro ou pecado dos filhos, como nos exorta Santo Agostinho: “A Verdade deve ser dita com Amor, mas o Amor nunca pode impedir a Verdade de ser dita”. Ou seja, exorta-nos à responsabilidade de ajudar cada irmão a tomar consciência dos seus erros.

  Assim, somos convidados a respeitar o nosso irmão, mas não a ficar calados com as atitudes erradas. Amar alguém significa não ficar indiferente quando ele está fazendo mal a si próprio e a comunidade. Significa, muitas vezes, corrigir, aconselhar, questionar, discordar. Na nossa vida, precisamos amar e respeitar o outro, mas amar não exige que concordemos em tudo, pois uma hora iremos fazer observações que o irão magoar. No entanto, trata-se de uma exigência que resulta do mandamento do amor.

Novamente, lembremos que não somos fariseus. Logo, a nossa intercessão junto do nosso irmão não deve ser guiada pelo ódio, pela vingança, pelo ciúme ou pela inveja. Deve ser guiada e alimentada pelo amor.

Rezemos: Nós Te damos graças, Deus de amor, pela Lei viva que nos deste em Jesus Cristos e pelos teus profetas enviados em todo o tempo como sentinelas, para vigiar o nosso caminho e para nos guiar. Nós Te pedimos por todas as nossas comunidades cristãs, que a tua Palavra, fruto do teu Espírito Santo, nos purifique das más condutas que prejudicam nosso testemunho e ferem a dignidade humana. Amém.

Por: Padre Paulo Sérgio Silva

Paróquia São Sebastião, Mangabeira, distrito de Lavras – CE

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