Ao Caldeirão de Santa Cruz

Compartilhe:

Uma longa estrada de chão batido faz a ligação entre a cidade do Crato e o Caldeirão de Santa Cruz do Deserto. Sob um farto sol de setembro, com temperaturas beirando quarenta graus, a romaria até este lugar é dia santo para as Comunidades de Base.

Transpondo a geografia que as envolve, desenham a terra santa onde depositam a vida e os sentimentos. Celebrando no íntimo do coração o momento presente, fitam a força mística que atrai por ser simples, renovam a esperança, prescrevem a fé.

A Romaria ao Caldeirão do Beato José Lourenço começou há dezessete anos e reúne caravanas vindas dos mais longínquos e diversos lugares da Diocese de Crato, para fazer memória à comunidade que buscava edificar a vida por meio do tripé oração, trabalho e abundância, hoje tomado como mote para discutir questões sociais, sobretudo, as que dizem respeito à convivência com o semiárido.

testemunho
(Momento em que os vaqueiros saúdam à Senhora Aparecida. Foto: Patrícia Mirelly)

Para o Padre Vileci Basílio Vidal, coordenador diocesano de pastoral, a romaria é significativa, porque não tem outra pretensão senão alimentar, no coração, a esperança e fortalecer o espírito da utopia de uma comunidade organizada, segundo as experiências do Caldeirão.

A programação deste ano contou com um momento de acolhida quando o sol ainda descortinava o dia, por volta das oito horas, seguido de celebração da Santa Missa, presidida pelo bispo coadjutor Dom Gilberto Pastana, concelebrada pelos padres Vileci, Tarcísio de Sales e Raimundo Ribeiro. Ao final, apresentações lideradas pelo grupo “Bacamarteiros da Paz” e João do Crato mostraram toda a força da cultura nordestina e a militância dos movimentos sociais. A ocasião também comemorou o jubileu de 25 anos do assentamento 10 de abril. Outro momento significativo foi o rito penitencial quando a comunidade reunida elevou a Deus pedidos de perdão pelas vezes em que a ganância humana fora mais forte que o dever de cuidar da casa comum.

Testemunho que renova a esperança

Durante a homilia, Dom Gilberto recordou a intenção da romaria de celebrar a vida dos antepassados, “aqueles que, também, não só acreditaram, mas testemunharam um estilo de vida diferente daquele que a sociedade nos propõe”. Afirmou que o Caldeirão “traz um sinal muito forte de uma presença de resistência, modelo de testemunho e de sinal para todos aqueles que querem, também hoje, dar a sua vida na construção de uma sociedade fraterna e igualitária”. “Esse local nos recorda que é possível, na medida em que nos organizamos, alcançar a proposta que Deus nos oferece. E, nestas experiências comunitárias, experimentar a participação, a partilha. É na comunidade que nós pensamos e planejamos as resistências a este sistema [social] destruidor e  perverso”, concluiu.

As exortações do bispo foram acompanhadas atentamente pela representante do Grupo de Valorização Negra do Cariri, GRUNEC, Valéria Tavares, que também acredita ser possível fortalecer as lutas através da organização comunitária. “Aqui eu me fortaleço, enquanto movimento, na vida das pessoas, na vivência da palavra. Vir ao Caldeirão é renovar a fé e agradecer a minha ancestralidade”.

dom-gilberto
(Dom Gilberto Pastana e as “Incelenças” ou “Incelências”, que se apresentaram na Romaria, simbolizando a cultura popular nordestina. Foto: Wandemburgo Santana)

 

Posts Relacionados

Facebook

Instagram

Últimos Posts