Neste tempo da pandemia do novo coronavírus, fomos meio que forçados a uma convivência mais permanente e intensa com os nossos familiares. Para muitos, mesmo considerando a gravidade do momento, a situação favoreceu maior harmonia em casa, fez crescer os laços afetivos entre pais e filhos, e nunca se deu tanto valor às relações autênticas e verdadeiras. Descobrimos o valor positivo da saudade, que a preocupação nem sempre é ruim, que o que importa é cuidar de quem amamos e que o amor não se resume ao sexo, mas é comunhão, unidade e partilha. Vimos que a individualidade não tem valor se ela não for protegida e vivida no interior da comunidade humana. O individuo é enquanto ser social.
Mas enquanto tudo isso pode ter sido proveitoso para muitos, para outros nem tanto. A proximidade que outrora não era muito amistosa nem fraterna com alguns que compõem o lar, agora se depara com o agravante da quase obrigatoriedade em estar juntos continuamente. E só em pensar nisso o sofrimento de alguns se engatilha em planejar ações e reações de combate e defesa. Muitos, para fugir dessas atitudes, buscam uma saída inteligentemente emocional, pois sabem que evidenciar indiferenças, manifestar rejeições e demonstrar desprezo não só causará desgastes para quem assim procede, como também vai piorar ainda a coexistência num lugar, por vezes, muito pequeno onde o encontro é quase que inevitável.
Então, o que fazer? Antes de tudo aceitar toda a situação de isolamento social, quer dizer, você vai se encontrar em muitos momentos com aquele seu desafeto. Depois, baixar a guarda, ou seja, nem tudo que o outro faz é para implicar com você. Tente ver que tanto para você quanto para ele toda esta situação está sendo difícil. Em seguida, deixe claro que feridas levam um tempo para sarar, que nem sempre a inexistência de cicatrizes significa ausência de dor e sofrimento e que, por isso, o perdão não é tão fácil quanto se imagina. Perdoar é um processo, por vezes muito dolorido.
Conflitos acontecem no interior de todas as relações (de trânsito, de vizinhança, de trabalho, de família, de amizade, de namoro e de casamento). É imprescindível, porém, que você não deixe que roubem a sua capacidade de administrar sua vida e suas atitudes. Evite ser sequestrado por suas emoções. Antes, em meio as ocupações diárias, a tolerância parecia ser mais fácil conduzir, agora é preciso reconhecer que a tolerância exigirá um pouquinho mais de você. Entenda que tolerar não é tolher, arrancar ou excluir. Pode até ser sofrer, mas só quando quero que o outro tenha meus padrões e estilo. Tolerar é compreender que há certas coisas que não podemos mudar. Faça apenas aquilo que está ao seu alcance e não exija dos outros mais do que eles podem fazer por você nessa situação. Tolerar, por isso, é aprender a conviver, respeitar, dialogar e ceder. É a desenvolvida capacidade de aceitar quem pensa, sente, vive e ama diferente de si.

Por: Padre George de Brito, Sacerdote diocesano e Pároco do Sagrado coração de Jesus, em Crato; Especialista em Filosofia Hermenêutica e Mestre em Teologia Dogmática.





