Livro escrito por psiquiatra austríaco narra trajetória de ex-prisioneiro nazista e os estragos ocasionados pelo campo de concentração. Uma história forte, contada com muita coragem.
Aqui está um livro indispensável àqueles que estão “Em busca de sentido”. O autor, Viktor E. Frankl, ocupa lugar importante na Psicoterapia e narra, de forma fina e aguda, suas próprias experiências no mais horrendo de todos os campos de concentração nazista: Auschwitz, no sul da Polônia. Aqui temos um narrador, um observador e tudo o que não acharemos em livros de História.
O autor conta que levou pouco mais de nove dias para terminá-lo, nos idos de 1945, quando a Segunda Guerra Mundial dava sinais de enfraquecimento. A princípio, tinha a pretensão publicá-lo de forma anônima. A insistência dos amigos, no entanto, fê-lo voltar atrás. “A coragem da confissão eleva o valor do testemunho”, diz, no prefácio da obra.
O titulo, portanto, é exato. Frankl escolhe olhar para dentro, para os estragos que o campo de concentração faz em um indivíduo, para os efeitos da sua persistência em continuar vivendo e de como sobreviver às adversidades. A narrativa está dividida em três fases: a recepção no campo, a fase da vida em si e a fase após a soltura. São, efetivamente, cenas daquela vida desumana, cruel, insensível, perversa, imposta por quem se achava superior – na raça e na forma de controlar o curso das coisas. Há dessas passagens no livro, postas, de forma crua, para caracterizar, fielmente, as pessoas e as circunstâncias “na feroz luta pela existência”. E o autor faz questão de nos dar essa sensação: “O apito estridente da locomotiva [que transportava os prisioneiros, para o campo de concentração] causa arrepios, ecoando como um grito de socorro […] múltiplas cercas de arame farpado sem fio, torres de vigia, refletores e longas colunas de figuras humanas aos farrapos […] certo número de cadafalso dos quais pendiam pessoas enforcadas […]”. Chega a escrever, inclusive, que esses episódios, de tão corriqueiros, não conseguem mais se quer sensibilizar: “O prisioneiro não tem tempo nem disposição para se demorar em reflexões abstratas e morais”.
Mas cá aparece a busca de sentido. Segundo o autor, é preciso assumir uma atitude alternativa frente às condições dadas. “Somente sucumbe às influências do ambiente […] aquele que entregou os pontos espiritual e humanamente”. Assim, é necessário achar um propósito, todos os dias, para viver, e nutri-lo de esperanças, por mais que os problemas se agravem na vida. “As dificuldades devem resultar em estímulo”.
Sobretudo este mês, em que a Igreja dedica atenção – e oração – às vocações, aqui é um livro para sacudir, para ser rezado e para ser confrontado com nossos sentimentos mais íntimos. A primeira reflexão, desse modo, refere-se aquilo que o autor chama de “estratégias de preservação da vida”, isto é, o que a faz valer a pena. Para Frankl, tais estratégias seriam “as imagens de pessoas amadas, o sentimento religioso, um amargo senso de humor e até mesmo as visões curativas de belezas naturais, uma árvore ou um por do sol”, que devemos ter sempre presentes. A segunda reflexão, como consequência da primeira, refere-se ao poder que temos de dar às nossas vidas o verdadeiro sentido. São páginas, portanto, que produzem na alma do leitor uma urgência de vida nova.
Livro
Em Busca de Sentido, de Viktor E. Frankl (tradução de Walter O. Schlupp e Carlos C. Aveline; Vozes e Sinodal; 186 páginas; 38, 90 reais).


								
													


													
													