Ele andava com dificuldade, segurando bengala improvisada, de sacola na mão, pedindo a quem passava algumas moedas para “inteirar” o dinheiro do jantar. Passou moça, passou rapaz, passou guarda noturno, passou senhora com bíblia na mão, mas ninguém o dava ouvidos. Todos apressados pela pressa da vida. Um menino, de mãos dadas à mãe, também passou, mas não deixou a situação lhe passar. Às mãozinhas no bolso, puxou duas tampinhas, bolinhas de gude e umas poucas moedas.
– Tome! Eu tenho outras aqui – E saiu correndo, para alcançar a mãe.
Atônito com a situação, olhou para as duas moedas e não soube o que dizer. Só sorriu. Era a primeira centelha de Natal quando só havia o que lamentar.
No dizer da escritora ucraniana, naturalizada brasileira, Clarice Lispector, “dar a mão a alguém foi sempre o que eu esperei da alegria”. Mas não é preciso ficar ou estar alegres para fazê-lo. Esta é a urgência: estender as mãos àquele que caiu ou àquele que não se encontrou. Lançar-se ao encontro do próximo, para ajudá-lo, fraternalmente, com um sorriso, um abraço, um cumprimento ou algumas moedas, pequenos gestos que não cobram não nada, mas são uma imensidão nestes tempos em que até a esperança se esvai.
Feliz festa do Deus que se faz Menino para ensinar preciosas lições. Feliz encontro com Aquele que vai ao encontro daqueles que as pessoas não querem encontrar. O Natal carece de acontecer na vida, todos os dias, nas pequenas coisas. Mas sem alardes. Com esperança e vontade de transformar. Transformar o mundo, a realidade, a vida.
Por Patrícia Mirelly, jornalista e repórter na Assessoria de Comunicação da Diocese de Crato





