“Jesus é o aliado dos pobres, é seu libertador”

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Com uma homilia pautada no seguimento a Jesus que deve gerar comprometimento com a causa dos menos favorecidos da sociedade, dom Gilberto Pastana, que presidiu hoje, dia 13, na Catedral Nossa Senhora da Penha, em Crato, a primeira missa Crismal como bispo da diocese de Crato, iniciou falando sobre o programa de Jesus que beneficia diretamente os pobres, em especial aqueles que são presas fáceis de mentiras e violências causadas pela organização social de sua época. “Jesus é o aliado dos pobres, é seu libertador”, afirmou.

A necessidade de sair de si para fazer o bem ao outro, foi outro ponto destacado por dom Pastana ao mencionar a urgência de se ter uma Igreja cada vez mais missionária. “Impelidos pelo Espírito de Deus, cabe a nós, visitar sistematicamente as diversas moradias, os romeiros, os locais de trabalho, as instituições de saúde, as prisões, as vítimas do trabalho escravo, da exploração sexual, os moradores de rua, entre tantos necessitados do anúncio da Palavra de Deus”.

Dom Gilberto ainda citou a Nota da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil sobre a Reforma da Previdência proposta pelo governo e disse que ela “escolhe o caminho da exclusão social”. “Ajudemos os irmãos e irmãs a se mobilizarem ao redor desta proposta de reforma da previdência, a fim de buscar o melhor para o nosso povo, principalmente os mais fragilizados”, enfatizou.

O bispo disse que pretende percorrer os caminhos indicados pela Evangelli Gaudium, em busca de uma nova etapa evangelizadora marcada pela alegria, enquanto estiver no pastoreio da diocese de Crato, e finalizou rendendo graças a Deus pelo Sim de cada sacerdote ao chamado de Deus.

Leia a homilia na integra:

Homilia da Missa dos Santos Óleos

Crato, 13 de abril de 2017

Amados irmãos e irmãs,

É com grande alegria e esperança, que presido pela primeira vez a Missa Crismal como Bispo desta diocese de Crato. Saúdo a todos vocês, particularmente aos amados sacerdotes que hoje recordam, como eu, o dia de sua consagração ao Senhor, sua ordenação.
“O Espírito do Senhor está sobre mim…”.

Acabamos de escutar um trecho do evangelho segundo Lucas. Jesus como de costume, encontra-se na sinagoga. Abrindo o livro de Isaías, lê o trecho do profeta Isaias, que sintetiza seu programa de vida: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor”.

O programa de Jesus beneficia diretamente os pobres. Os que vivem à margem da sociedade, os sem forças ou condições de resistência, sem protetor e presa fácil das mentiras e violências causadas pela organização social de sua época. Jesus é o aliado dos pobres, é seu libertador. Nisto consiste a Boa Nova por ele anunciada. De fato, ao longo do Evangelho vemos que Jesus se posiciona sempre a favor dos empobrecidos e marginalizados, mostrando onde está a raiz da discriminação, marginalização e depauperamento crescente.

A Boa Notícia consiste na libertação dos marginalizados: presos soltos, cegos enxergando, oprimidos libertados. Jesus veio proclamar o “ano de graça do Senhor”. Em Israel, ao ser proclamado o “ano de graça”, todos os que tinham dívidas recebiam o indulto; as terras hipotecadas ou roubadas eram devolvidas, e todo o povo recomeçava a vida, porque a partilha dos bens voltava a regular as relações sociais. O programa de Jesus prevê não só a libertação dos marginalizados, mas sua plena reintegração na sociedade, com a recuperação plena de tudo aquilo do qual foram defraudados. Essa é a evangelização de Jesus: Atitudes que levem as pessoas à posse da vida plena.

Jesus conclui a leitura proclamando: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que vocês acabam de ouvir”.

Amados irmãos e irmãs. Penso que também hoje, nesta celebração, Deus está nos revelando duas grandes verdades: A primeira, a de que devemos nos convencer com absoluta convicção de que o seu Espírito está também sobre nós, e a segunda, é consequência da primeira. O seu Espírito nos envia para missão.

Sim, irmãos e irmãs, somos “Evangelizadores com espírito, que quer dizer que nos abrimos sem medo à ação do Espirito Santo. É o Espirito Santo que infunde em nós a força para anunciar a novidade do Evangelho com ousadia, em voz alta e em todo o tempo e lugar, mesmo contracorrente. Invoquemo-lo hoje, neste dia em que recordamos nossa consagração total a Cristo Jesus, para que sejamos evangelizadores que anunciam a Boa Nova, sobretudo com uma vida transfigurada pela presença de Deus”.

É com a unção do Espírito do Senhor que somos enviados a evangelizar, fazendo com que a sua Igreja seja indispensavelmente missionária, com o urgente dever de transmitir a mensagem recebida. Levemos este suave odor às periferias do mundo, àqueles que perderam o sentido da vida, que perderam a alegria de viver, que não veem a luz do dia mergulhados na dor, aos que se sentem distantes de Deus, aos que estão com o coração atribulado, aos caídos neste grande campo de guerra que é o mundo. Curem suas feridas com o óleo da exultação.

Este espírito missionário vem sendo reforçado pelo testemunho de nosso Papa Francisco e pelos seus escritos. Em sua exortação apostólica, Evangelli Gaudium, convida-nos a realizarmos uma nova etapa evangelizadora marcada pela alegria e nos indica caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos. Caminhos que pretendo percorrer com vocês, enquanto aqui estiver. É na verdade o seu programa apostólico.

Francisco sonha “com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação”.

Para isso devemos ser uma igreja sempre em saída, que se envolve, acompanha, frutifica e festeja. Ousar em tomar a iniciativa. Envolver-se com as pessoas, com suas histórias, com suas vidas. Pondo-se de joelhos diante dos outros para os lavar. Seremos felizes se praticarmos esta verdade.

“A Igreja «em saída» é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido”, diz o papa.

Impelidos pelo Espírito de Deus, cabe a nós, visitar sistematicamente as diversas moradias, os romeiros,  os locais de trabalho, as instituições de saúde, as prisões, as vítimas do trabalho escravo, da exploração sexual, os moradores de rua, entre tantos necessitados do anúncio da Palavra de Deus.

É necessário vencermos o cômodo critério pastoral do “sempre se fez assim”. O papa nos convida a sermos ousados e criativos “nesta tarefa de repensar os métodos evangelizadores das respectivas comunidades”. Inovemos, como o Espírito de Deus. Vençamos o fechamento em torno de nós mesmos, sem relacionamento com a sociedade em geral, com as culturas e com os demais irmãos. Sair de si mesmo para unir-se aos outros só faz bem.

Conduzidos pelo Espírito do Senhor, façamos amados sacerdotes e povo de Deus, chegar a todos os nossos paroquianos a recente Nota da CNBB sobre a “Reforma da Previdência” proposta pelo atual governo. A nota manifesta nossa posição de Bispos do Brasil. Nela dizemos que esta reforma escolhe o caminho da exclusão social, pois uma vez aprovada, acabará com a aposentadoria especial para os trabalhadores rurais, ao comprometer a assistência aos segurados especiais, ao reduzir o valor da pensão para viúvas e viúvos, ao desvincular o salário mínimo como referência para o pagamento do Benefício. Ajudemos os irmãos e irmãs a se mobilizarem ao redor desta proposta de reforma da previdência, a fim de buscar o melhor para o nosso povo, principalmente os mais fragilizados.

E principalmente nos dias em que vivemos, para onde nós caminhamos? Que crise moral, ética, antropológica nós estamos vivendo? Ainda mais agora com estes recentes acontecimentos. Para onde nós caminhamos? Que Brasil nós queremos? Quem são esses nossos representantes?

Irmãos e irmãs, é o Espírito do Senhor que nos envia a proclamar a Boa Nova com alegria. A alegria do Evangelho é tal que nada e ninguém nos poderá tirá-la (cf. Jo 16, 22).

Esta contagiante alegria, faz-nos render Graças ao Senhor da Messe pela vida e missão de nossos sacerdotes. Dar Graças pelo seu Sim ao chamado do Senhor; às exigências da missão; aos cansaços do ministério apostólico; as renúncias por causa do Reino de Deus; ao rebanho que foi confiado.

Agradecemos também a instituição do Sacramento da ordem. Os padres que realizam a ação evangelizadora em nossa diocese renovam suas promessas sacerdotais. Promessas de desempenhar a missão como fiéis colaboradores da Ordem episcopal; proclamando o evangelho e ensinando a fé católica; celebrando com devoção e fidelidade os mistérios de Cristo, implorando a misericórdia de Deus em favor do seu povo e unindo-se ao Cristo, sumo e eterno sacerdote.

Para cumprir esta missão necessitamos e contamos com a permanente oração de todos vocês, povo santo e abençoado de Deus.

Peçamos ao Senhor que nos faça compreender a lei do amor. Que bom é termos esta lei! Como nos faz, bem, como nos enche de esperança, como somos renovados.

Assim seja,

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.

 

Dom Gilberto Pastana

Venha o teu reino

Bispo Diocesano

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